sábado, 19 de fevereiro de 2011

Stéphane Hessel, entre Gandhi e Sartre


Esta é a íntegra do perfil que fiz do embaixador Stéphane Hessel, publicado no suplemento Ilustrissima, da Folha de São Paulo de 13 de fevereiro deste ano.

Militante da não-violência, embaixador francês é um fenômeno editorial

« 93 anos. É a derradeira etapa. O fim não está longe ». As primeiras frases do livro Indignez-vous (Indigène éditions), do embaixador Stéphane Hessel, de 93 anos, não são a constatação nostálgica de uma vida que chega a termo. Ao contrário, o livro aponta para o futuro e convida à indignação, à rebeldia, à resistência. Com ele, Hessel se transformou no maior best-seller da história recente da edição francesa, « superstar das livrarias », como o chamou o jornal L’Humanité.

Concebido como um panfleto, Indignez-vous tem 32 páginas, custa apenas 3 euros e desde a primeira tiragem de 8 mil exemplares já vendeu 1,3 milhão de exemplares com sucessivas edições (foram impressos dois milhões, segundo a editora), deixando para trás o romance ganhador do prêmio Goncourt (« La carte et le territoire », de Michel Houellebecq), normalmente o best-seller do ano na França.

Os direitos autorais do livro do último sobrevivente dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Hessel era, em 1948, um jovem diplomata, saído da École Normale Supérieure) já foram vendidos para todos os países da Europa e dezenas de países estão em negociação. Indignez-vous terá uma versão em Portugal, outra no Brasil (Editora Leya) e na Espanha será publicado em quatro línguas (espanhol, basco, catalão e galego). Os países do Leste europeu, a Turquia, os escandinavos e a Coréia estão em vias de fechar o contrato de tradução. Na Bélgica e no Canadá, o livro é um sucesso de livraria. Na Suíça, como na França, é o primeiro da lista de vendas há semanas.

Em Nova York, o texto será publicado na íntegra no jornal The Nation, tradicional órgão da esquerda americana, dia 23 de fevereiro, para depois ser lançado em livro. Essa edição do texto de Hessel no The Nation será apresentada pelo jornalista Charles Glass e por intelectuais.

« Ele vai se tornar um fenômeno universal porque a mensagem de Hessel é universal », diz Sylvie Crossman, fundadora das Edições Indigène, juntamente com Jean-Pierre Barou. Ela sempre acompanhou com entusiasmo o engajamento do diplomata e explica : « Ele convida à não-cooperação com a financeirização do mundo, prega a desobediência civil a leis e reformas injustas, como a recente reforma das aposentadorias”.

Sylvie Crossman compara Hessel a Gandhi, apóstolo da não-violência. « O embaixador Hessel é um homem livre, um partidário da não-violência que se dirigiu aos franceses com esse livrinho do qual, como editores, assumimos a responsabilidade do título ».

A realidade é que o « livrinho » está fazendo barulho demais. Os sionistas franceses não veem com bons olhos o engajamento do embaixador pelo Estado Palestino, ao lado de pacifistas israelenses como Michel Warschawski, na campanha Boycott Désinvestissement Sanctions pelo boicote de produtos fabricados nas colônias israelenses da Cisjordânia, como o caminho mais eficaz para combater a ocupação israelense e levar à criação do Estado Palestino. Essa campanha, que se espalha pela França, já gerou processos na Justiça e tem o apoio do Prêmio Nobel Desmond Tutu, do escritor Eduardo Galeano, da rabina americana Lynn Gottlieb, de Noam Chomsky, do cineasta israelense Eyal Sivan, do cineasta Ken Loach, do músico Elvis Costello, do escritor Tariq Ali, além de intelectuais israelenses.

O filósofo marxista Alain Badiou apoia a luta de Hessel que define como « um homem que dedicou toda sua vida ao combate pela liberdade ». Com os filósofos Jacques Rancière, Etienne Balibar e outros intelectuais, Badiou assinou um texto no jornal Libération de 18 de janeiro para demonstrar estupefação pelo cancelamento de uma conferência de Stéphane Hessel (por pressões do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França e de personalidades como os filósofos Bernard-Henri Lévy e Alain Finkielkrault) na École Normale Supérieure, templo da cultura francesa, onde Louis Althusser lecionou até a tragédia do assassinato de sua mulher, onde Badiou faz um semanário mensal e onde estudaram Sartre, Derrida, Badiou e Rancière. Régis Debray, outro « normalien » que visitou Gaza com Hessel, qualificou a censura de « indigna ».

O embaixador não é um « habitué » de Facebook mas seus admiradores acabam de criar uma página no site de relacionamento lançando seu nome para o Nobel da Paz. No 60° aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 2008, ele recebeu o prêmio Unesco/Bilbao « pela promoção de uma cultura dos direitos humanos ».

Dos direitos humanos à ecologia

Indignez-vous foi recebido pela dividida esquerda francesa como uma nova Bíblia e pela direita com muita irritação pois Hessel critica severamente o desmonte do Estado pelo governo Sarkozy (sem citá-lo), a política de imigração « das expulsões e de suspeitas contras os imigrantes » e defende as aquisições trazidas pela Resitência logo depois da guerra, como a Sécurité Sociale. « Ousam nos dizer que o Estado não pode mais assegurar o custo das conquistas sociais. Como pode haver falta de dinheiro hoje para manter e prolongar essas conquistas já que a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde o fim da guerra, quando a Europa estava arruinada ? » pergunta Hessel no livro.

Hessel é o contrário de um velho intelectual pessimista. Intelectual, sim. Velho, somente em anos. Pessimista, jamais. « Ele é de um otimismo e de um entusiasmo incríveis, sem ser ingênuo, nem utópico. Seu otimismo o leva à ação », garante a franco-suíça Christiane Hessel, de 83 anos, segunda esposa do embaixador, que o acompanha em todas as viagens e compartilha com ele o engajamento político. Ela recebe a Ilustríssima no apartamento parisiense do casal. O marido, um senhor incrivelmente jovial e bem-humorado, chega logo depois vestindo um terno elegante.

Durante o encontro, o telefone não para de tocar com jornalistas solicitando entrevistas. Na saída, cruzamos com uma equipe de televisão inglesa que sobe para entrevistar o eterno militante dos direitos humanos. E eterno dissidente. « Monsieur droits de l’homme » como o chama respeitosamente a imprensa, foi membro da Resistência Francesa contra a Ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Preso pela Gestapo, foi torturado e enviado aos campos de concentração de Buchenwald e de Dora.

Mas Hessel não é uma unanimidade. Sua mensagem incomoda. O primeiro-ministro François Fillon saiu de sua reserva habitual para criticar o livro : « A indignação pela indignação não é um modo de pensamento », disse Fillon ao apresentar votos de feliz ano novo à imprensa credenciada no palácio Matignon. « A complexidade do mundo atual espera lucidez, exigência intelectual, mas sobretudo atos. Pode-se desejar que a difícil tarefa de agir pela França não seja sufocada pela facilidade de contestar tudo ? »

O cientista político Stéphane Rozès discorda do primeiro-ministro. « O livro de Hessel não é o elogio da indignação e da revolta e nem um manifesto político. É uma obra sobre a vontade de tornar possível o que é um desejo. Ele mesmo diz que a indignação é necessária mas não suficiente ».

No presente, como no passado, o poder não costuma ver com bons olhos nem os filósofos engajados nem os defensores dos direitos humanos. Ao ministro do interior que queria mandar prender Sartre por sua postura subversiva ao lado dos estudantes que incendiavam Paris, em maio de 1968, o presidente De Gaulle respondeu : « Não se prende Voltaire ». Sartre era na época a consciência ética da França, como Voltaire fora no século XVIII. Hoje, essa consciência ética se chama Stéphane Hessel, que se diz discípulo de Sartre. Hessel defendeu, como Sartre, a independência da Argélia, posição arriscada na França colonial dos anos 50 e início dos anos 60.

As causas subversivas da França de hoje são a defesa dos sem-teto, dos « sans-papiers » e da Palestina. Hessel está em todas essas frentes de luta e recentemente acrescentou a ecologia, quando participou do comício de Daniel Cohn-Bendit e José Bové para as eleições do Parlamento Europeu de 2009, no qual anunciou seu apoio aos dois políticos do partido Europe Écologie « para ver surgir uma esquerda impertinente que tenha peso na realidade política ».

Insurreição pacífica

Até hoje, Stéphane Hessel era um intelectual importante sem ser uma personalidade midiática. Desde outubro quando o livro saiu, o diplomata se tornou um « must » de todos os debates. Esteve nos programas mais importantes da televisão francesa, foi capa dos principais jornais do país. Além de uma longa entrevista com o autor, o jornal Le Monde convidou personalidades a dizerem que motivos os levam a se indignar.

A notoriedade de Hessel ultrapassou as fronteiras da França graças às idéias engajadas do panfleto. A mensagem de indignação do livro contra todas as injustiças e contra o neoliberalismo pode ser resumida na frase em que ele diz que « considera a legitimidade dos valores mais importante que a legalidade do Estado ».

Mas o agitador Hessel é também um diplomata em todos os gestos e ações. E sobretudo nas palavras, seja para defender a criação do Estado Palestino, na qual se engajou há cerca de dez anos, ou os imigrantes sem papéis, párias modernos. Cita as resoluções da ONU e as convenções de Genebra que regulam as guerras. Jamais um deslize, jamais uma palavra mal colocada.

« Ele é antes de tudo um homem modesto que não fala de si mesmo mas de grandes causas » define Sylvie Crossman, que nunca trabalhou tanto pois o sucesso do livro mudou totalmente o funcionamento da editora Indigène, com sede na ensolarada Montpellier, longe do tumulto parisiense.

O livro irrita os políticos de direita e é lido como um manifesto pelos ativistas de todos os espectros da esquerda francesa por sua mensagem anti-conformista, contra o neoliberalismo, que convida ao engajamento e ao que o autor chama de « insurreição pacífica ».

Incentivador de todas as resistências, Hessel esteve ao lado do amigo Edgar Morin, autor do recém-lançado e elogiadíssimo « La voie », na segunda-feira, 7 de fevereiro, em Paris, num encontro chamado S’indigner, résister, créer. Juntamente com membros da oposição tunisiana e cientistas políticos analisaram as revoluções em curso na Tunísia e no Egito. O encontro foi u ma iniciativa do jornal online Mediapart, fundado pelo ex-diretor de redação do Le Monde, Edwy Plenel, associado à TV5 Monde, France Culture e Arte.

Jules et Jim

Hessel vive com simplicidade num apartamento confortável, num bairro de classe média de Paris, e não hesita em estar na linha de frente de todos os combates em que vê violação dos direitos humanos. Ativista incansável, ele viaja pela França e pelo mundo, marca as entrevistas e atende o telefone de sua casa, que não para de tocar. Mas quando se prepara para fotos não esquece de vestir o paletó e ajeitar a gravata antes de posar. Reflexo de diplomata.

Nascido em Berlim, em 1917 e naturalizado francês em 1937, Stéphane Hessel é filho do romancista alemão Franz Hessel, de origem judaica, e de Helen Grund, de família protestante. Em 1924, Helen deixou a Alemanha com o filho para viver na França com o escritor Henri-Pierre Roché. Os dois homens amavam a mesma mulher. Ela se dividiu um tempo entre os dois formando um triângulo amoroso que ficou famoso quando Roché publicou o romance autobiográfico Jules et Jim, que François Truffaut transformou em filme. Jeanne Moreau fez uma Helen inesquecível.

No filme, o filho de Helen é uma menina, detalhe que Christiane Hessel qualifica de « bizarro ». Ela imagina que podem não ter encontrado um menino adequado ao papel. O embaixador não esconde a admiração por sua mãe, « por sua inteligência, dignidade e coragem de viver suas opções em desacordo com os padrões burgueses da época ».

Essa mãe é a responsável pelo homem que se tornou o menino pois sempre o estimulou muito. Ele, por sua vez, « queria ir mais longe para impressionar a mãe que adorava ». Mas garante que sempre teve grande admiração pelo padrasto, o escritor Henri-Pierre Roché, que imortalizou o triângulo amoroso formado por Helen, Henri-Pierre e Franz.

A vida de Stéphane Hessel é uma verdadeira epopeia que atravessa o século XX e passa pela guerra, tortura pela Gestapo e campo de concentração. Ele a contou no livro de entrevistas a um jornalista, « Citoyen sans frontières - conversations avec Jean-Michel Helvig » (Fayard).

Em quase um século de vida, o diplomata se casou duas vezes e com a primeira mulher teve dois filhos, Antoine e Michel, e uma filha, Anne, todos três médicos em Paris. Os dez netos e os cinco bisnetos não têm muito contato com o avô e bisavô, ocupado demais em viagens, livros e conferências. Mas ele está sempre disponível para as festas de fim de ano na casa de Anne.

O sucesso do novo livro é encarado por ele como um fenômeno de sociedade. « Nossas sociedades estão em busca de valores e liberdades fundamentais, além do Estado de direito », diz modesto.

Ao receber a Ilustríssima, ele comenta a vitória da nova presidente do Brasil e declara seu entusiasmo por Dilma Rousseff, « que pode, quem sabe, aprofundar as reformas sociais de Lula ». « O ideal seria que o ex-presidente Lula se tornasse secretário-geral da ONU » diz Hessel, com um largo sorriso. « Esse cargo é perfeito para ele ».

A ideia foi lançada pelo presidente Sarkozy durante uma reunião do G-20 em Pittsburgh, nos EUA. Apesar de concordar com o presidente francês quanto ao futuro de Lula, Stéphane Hessel é o oposto de um sarkozista. Mas também nunca foi marxista. Ele se define como um « liberal » à inglesa, engajado nas grandes causas humanitárias. Participou da Resistência ao lado do General De Gaulle, tornou-se socialista, próximo de Michel Rocard e Lionel Jospin e desde 1986 é membro do Partido Socialista.

Ao falar do Brasil, Hessel diz o quanto vibrou com o reconhecimento pela diplomacia brasileira do Estado Palestino, logo imitado por outros países sul-americanos.

J’accuse

Christiane Hessel compara o « Indignez-vous » do marido ao « J’accuse » de Zola, um divisor de águas durante o caso Dreyfus. Indignez-vous toma o partido dos oprimidos ao condenar a « economia dominada pelo poder financeiro », o principal inimigo das democracias e da justiça social hoje. « Os mais pobres no mundo de hoje ganham apenas dois dólares por dia. Não podemos deixar que a distância entre ricos e pobres continue a se acentuar. Essa decisão deve ser motivo de engajamento », escreve Hessel.

« Não devemos nos limitar a querer reformar a França, devemos ampliar a luta para toda a Europa e o resto do mundo », escreve ainda o embaixador, que a partir de uma viagem a Gaza e à Cisjordânia em 2002, a convite de pacifistas israelenses, se engajou na defesa da criação do Estado palestino. Com sua mulher e ativistas israelenses e franceses, fez diversas viagens à Cisjordânia e a Gaza. A última viagem a Gaza foi em outubro do ano passado, passando por Rafah, no Egito.

Na viagem de 2002, logo depois da segunda Intifada, o grupo de franceses tinha 11 intelectuais judeus ilustres e três não-judeus, entre eles Christiane Hessel. Martin Hirsch, político francês de origem judaica, que participou do governo Sarkozy num organismo de luta contra a exclusão e a pobreza, relembra : « No caminho para Ramallah, a cada vez que o ônibus com as personalidades era parado num check point, Stéphane se levantava e declamava versos de seus poetas românticos preferidos, em alemão, em francês e em Inglês ». Para Hisrch, o amigo é antes de tudo « um exemplo de disponibilidade, simplicidade e generosidade ».

« Quando o convidei recentemente para falar a um público de jovens, ele saiu às 5 horas da manhã da Normandia para estar às 9 horas em Paris. Começou dizendo que na sua geração era mais fácil de se engajar, sabiam contra quem deviam lutar. Depois lançou o desafio : « Para vocês é mais difícil, mas vão à luta contra a injustiça e pelos direitos humanos ».

Tribunal Russell

Na luta contra a ocupação israelense, Stéphane Hessel cita sempre as resoluções da ONU e defende o Tribunal Russell para a Palestina (www.russelltribunalonpalestine.com) uma iniciativa da Fundação Bertrand Russell para a Paz.

Este tribunal foi feito nos moldes do Tribunal Russell, criado por Jean-Paul Sartre e Bertrand Russell para julgar os crimes de guerra dos Estados Unidos no Vietnã. O Tribunal Russell para a Palestina é um tribunal popular internacional, com sede em Bruxelas, criado por personalidades do mundo inteiro (Stéphane Hessel, Ken Loach, Russell Banks, Boutros Boutros-Ghali, Noam Chomsky, Jean Ziegler e o brasileiro Francisco Whitaker, entre outros) para defender as resoluções da ONU e promover a paz e a Justiça no Oriente Médio.

Para Hessel, o terrorismo é « um caminho totalmente ineficaz, fonte de espirais de violência que fecham a porta ao futuro e à esperança ». Citando Sartre no livro, ele filosofa : « Não se pode desculpar os terroristas que jogam bombas, mas podemos compreendê-los ».

Lançado em Bruxelas em março de 2009, o Tribunal Russell se reúne em novembro, na Cidade do Cabo. Hessel vai doar 100 mil euros dos direitos autorais do livro para o pagamento dos juristas internacionais que trabalham no Tribunal Russell. Quem conta é Christiane Hessel. O discreto diplomata não comentaria isso com uma jornalista.

Depoimento do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro sobre Stéphane Hessel:


"'E importante lembrar que o título ambassadeur de France , é um honraria: ele não é um embaixador francês comum, mas tem esse título , poucos têm, isso lhe dá um ar de "intocável".

Qual o segredo de um livro 30 páginas vender 1 milhão e trezentos mil exemplares em semanas ? Foi retomar o programa e os valores da resistência da França depois da derrota do regime fascista de Vichy, momento de reconstrução da democracia francesa, agora no século XXI numa conjuntura política em que o governo Sarkozy revigora o racismo, escorraça os imigrantes, persegue os ciganos, encarcera crianças em centros de detenção.

Indignez Vous recupera para o mundo , não apenas para a França, o valor dos cidadãos se indignarem na democracia e nas ditaduras, diante da violação dos direitos humanos, da corrupção, do pouco caso dos governantes com seus eleitores. Que outro sentimento moveu os jovens na revolução no Egito senão a indignação diante de trinta anos de um governo despótico ? Ou os cidadãos e o promotores públicos italianos diante do "estado bordel" dirigido por Berlusconi ?


Mas o sucesso também se deve a ser Hessel o sobrevivente da comissão que redigiu a Declaração Universal de Direitos Humanos, internado em campos de concentração , militante dos direitos humanos, membro do Tribunal Russell para a Palestina, hoje aos 93 anos. hiper delicado, bem humorado, simples. Sempre inebriado com a poesia ( tem um livro com seus poemas prediletos, Ô Ma Mémoire (2006) ) e sua linda autobiografia Danse avec le siècle (1997)

Encontrei pela primeira vez o ambassadeur de France, em Bujumbura, Burundi em 1998, ele numa missão da Federação de Direitos humanos da França e eu relator especial da ONU. Uma equipe do canal Arte seguiu as duas missões, assim sou o único brasileiro (disse isso a ele entre risadas) codjuvante de Hessel num filme Une bien belle idée, 63' (Arte), Les Cinquante ans de la Déclaration des droits de l'homme, 1998.

Nessa visita num jantar à noite, com velas, ao ar livre, num hotel de Bujumbura, ameaçado de ser invadido por rebeldes, com nossos staffs e a equipe do filme, na sobremessa Hessel pede licença para recitar Les Chimères, de Gerard de Nerval...e depois uns sonetos de Shakespeare e todos nós maravilhados "....