sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Navios de cruzeiro ameaçam a Sereníssima



Leio no « Libération » que a Unesco pede a interdição dos enormes navios que entram na lagoa de Veneza e passam pela Giudecca  despejando mais de dois milhões de visitantes por ano na Sereníssima. São mais de 500 mastodontes por ano que ameaçam a fauna e poluem o frágil meio ambiente da cidade. As ondas gigantes que produzem, juntamente com os vaporettos, atingem as fundações da cidade, composta de uma floresta de pilares de madeira. Além do mais, os gases que expelem poluem as fachadas dos palácios e monumentos.

A foto foi feita no verão passado.

É sempre assustador ver passar tão próximo da Giudecca e do Grande Canal um daqueles monstros brancos que despejam deslumbrados e apressados turistas de um dia no elegante e frágil Patrimônio Mundial da Humanidade.
 

O diretor de Cultura da Unesco resolveu aproveitar os efeitos da tragédia do Concordia para relançar a campanha de interdição dos gigantes poluidores de Veneza. Giorgio Orsini, prefeito de Veneza, que já batalha há anos contra a ameaça dos grandes navios à  sobrevivência da sua cidade, ganhou novo aliado.
 

Cruzeiro no Mediterrâneo… no thanks

Leio que os navios de cruzeiros são cada vez mais gigantescos. O Titanic tinha o equivalente a 46 mil toneladas, levava 3500 passageiros; o Costa Concordia tinha 112 mil toneladas e capacidade para 3780 passageiros e o Allure of the Seas tem 220 mil toneladas e capacidade para 8400 pessoas! Os ganhos das companhias de navegação com os cruzeiros não vêm apenas do preço das passagens, mas das despesas geradas nos cassinos e nas butiques. E quanto mais gente na verdadeira cidade ambulante, mais dinheiro nos cassinos e nas lojas. Os armadores são capitalistas que oferecem cruzeiros cada vez mais acessíveis para lucrar nos serviços e no comércio mas a segurança que oferecem está longe do ideal.
 

« Mesmo nas melhores condições, não se teria como salvar todo mundo em caso de naufrágio de um  desses gigantes dos mares », informou recentemente Jacques Loiseau,  presidente da Associação francesa de capitães de navios.
 

Boa informação para quem sonhou se aventurar um dia al mare.
 

A propósito do capitão Schettino, do Costa Concordia, que fugiu do navio em vez de dirigir a evacuação dos passageiros, sendo severamente repreendido pelo chefe da Capitania dos Portos, De Falco, Alberto Dines escreveu: “O circo brasileiro tem legiões de schettinos e poucos de falcos.  Nossos governantes abandonam os cidadãos”.
 

Dignidade e coragem faltaram ao capitão Schettino, como falta a nossos politicos. 


França : depois da sarkocaína, tratamento de lithium ?
 
 « Não é o discurso de Hollande que preocupa Sarkozy mas o que o candidato socialista encarna : uma presidência calma. Depois da sarkocaína, o tratamento de lithium para a França. Sarkozy tenta desarmar o antisarkozysmo, o verdadeiro motor da campanha ». A frase é de um comentário de Christian Salmon sobre o vibrante discurso de François Hollande no Le Bourget, domingo 22 de janeiro, diante de 20 mil militantes e dirigentes socialistas entusiasmados. O discurso marcou, segundo todos os observadores, a decolagem definitiva de Hollande na campanha e trouxe o desânimo à direita sarkozysta que vê seu campeão em declínio em todas as pesquisas.
 

Hollande atacou a tirania do mundo das finanças, defendeu uma 
França mais justa e menos voltada para as elites, prometeu proteger os serviços públicos fundamentais (educação e saúde), alvos do neoliberalismo sarkozysta,  e prometeu impostos mais justos. Os ricos pagarão mais, disse Hollande claramente.
 

Salmon é autor do formidável livro “Storytelling”, de 2007, no qual mostrou, como atualmente a política é escrita por marketeiros como o roteiro de um filme no qual os politicos devem encarnar um personagem pré-fabricado e bem desenhado.

Pérolas de Pelé : Racismo ? Não somos racistas…
 

Aos  71 anos, o Rei Pelé deu sua primeira entrevista ao jornal Le Monde, em janeiro, de passagem por Zurique.
 

Ao jornalista Mustapa Kessous que perguntou: "O senhor foi o primeiro negro a tornar-se ministro no Brasil. Problema de racismo? » Pelé responde: "Isso não existe no Brasil. E também é um absurdo dizer que existe racismo no futebol, ele é multicolor. Amarelos, negros e brancos". Pelé conta que só descobriu o racismo nos Estados Unidos, quando jogou no Cosmos.
 

Essa candura não surpreende quem lembra que o gênio do futebol expressou em plena ditadura a crença profunda dos ditadores : "O povo brasileiro não sabe votar". 
 

Quando o jornalista pergunta : « Que imagem do Brasil vocês querem mostrar na Copa? », Pelé responde : « O Brasil é a quinta potência mundial! Mas eu gostaria que houvesse menos pobreza e menos desigualdade social. Depois da Copa, haverá os Jogos Olimpicos em 2016. O governo e o povo devem aproveitar desses momentos importantes para modernizar o país."
 

É bom saber que Pelé descobriu a pobreza e a desigualdade social de um dos países mais iníquos do mundo!
 

Num momento de pura ingenuidade ele diz que "as famílias dos bairros pobres e favelas onde havia bandidos estão muito contentes" com a ação do governo para erradicar o banditismo. Não viu nada a criticar.
 

Depois de elogiar muito o estilo e as qualidades do jogador Messi, Pelé responde à pergunta. « Ele é melhor que você? ». « Quando Messi tiver marcado 1283 gols como eu, quando ele tiver ganho três Copas do mundo, voltaremos ao assunto ».
 

Pelé tem plena consciência do seu valor e sempre soube enxergá-lo. Mas não consegue enxergar o racismo brasileiro.
 

O pior cego…  é aquele que não quer ver.   
 


A maman (sem acento)
 
Uma amiga francesa, que não prima pela generosidade, para dizer de forma elegante que ela é avarenta como nunca vi ninguém, nos contou uma história que viveu recentemente.
 

Ela queria mandar fazer uma homenagem para o túmulo da mãe. Para isso, procurou uma loja que prepara placas para cemitérios. Ao saber o preço de cada letra quis recuar, horrorizada. A responsável pela loja lhe disse: “Em vez de Pour maman, a senhora pode escrever:  À maman. Já economiza algumas letras. Como ela continuava a reclamar do preço, a vendedora sugeriu: “Coloque A maman sem o acento, a senhora economiza mais um pouco”.
Resultado. A mãe da minha amiga recebeu a homenagem mais sucinta da história das lápides francesas. E sem acentos, para ficar mais em conta.
 

À toutes les mères, les psychanalystes reconnaissants
 

O psicanalista Patrick Faugeras, que tem um grande senso de humor, nos dizia que quando pensa no papel das mães na fabricação dos neuróticos e das neuróticas que vêm vê-lo no consultório tem vontade de propor aos colegas uma homenagem especial dos psicanalistas no dias das mães. Ao ver o filme de Clint Eastwood, “J. Edgar”, descobrimos uma das mais típicas fabricantes de neuróticos em ação.
 

Seguindo o raciocínio de Faugeras, a frase que pode ser lida na entrada do Panthéon de Paris : "Aux grands hommes, la patrie reconnaissante" seria transformada pelos psicanalistas em placa, na porta dos consultórios: "À toutes les mères, les psychanalystes reconnaissants". 
 

Sétima arte
 

Com “Hugo Cabret” Scorsese realizou um filme emocionante, uma verdadeira declaração de amor ao cinema ao retratar um dos pioneiros da sétima arte, Georges Méliès.

Os franceses, que inventaram o cinema, são o povo mais cinéfilo do mundo, todo mundo sabe. O extraordin
ário número de cinemas de Paris _ passando o que de melhor se produz no mundo da sétima arte, além de festivais permanentes de alguns dos melhores diretores mundiais _ faz da capital francesa a cidade mais cinéfila do mundo. Para saber o que está passando, a cada semana, o parisiense precisa comprar um pequeno guia (Pariscop, Officiel des Spectacles ou Télérama) ou se aventurar pela internet.
 

No ano passado, os franceses compraram 255 milhões de ingressos de cinema, 4,2% mais que em 2010. Somente em 1966 esse número foi superado. Enquanto isso, nos Estados Unidos, a curva é descendente : 2011 teve quase 4% menos de ingressos de cinema vendidos que no ano anterior.
The Artist, que já deu a Jean Dujardin um Golden globe pode continuar sua carreira vitoriosa e conquistar alguns Oscars. Não seria nada mau para o cinema francês. 
 

Ainda na área cultural, um estudo recente mostrou que 70% dos franceses lêem pelo menos um livro por ano. Mas, comparando-se com a década de 70,  os que lêem 20 livros ou mais baixou de 28% a 16%, enquanto os que lêem entre 1 e 10 livros por ano aumentou de 24% a 38%.
 

Nesse relatório sobre a prática cultural dos franceses, quem ganha é o cinema que no ano passado viu o número de espectadores aumentar. Quanto aos jornais, somente 29% dos franceses lêem atualmente um jornal todo dia, contra 55% na década de 70. 
 

Huffington Post também fala francês
 

Por Leneide Duarte-Plon em 26/01/2012 na edição 678 do Observatório da Imprensa

Ao assumir a direção do Le Monde, em fevereiro do ano passado, Erik Izraelevwicz escreveu um editorial em que dizia que “no campo da informação, a revolução introduzida pela internet não para de modificar o panorama. A experiência do Huffington Post nos Estados Unidos nos obriga a repensar nosso jornal, a nos situar numa cultura multimídia”. O Huffington Post americano tem 37 milhões de leitores por mês, o que faz dele o jornal online mais lido do mundo.
 

O Huffington Post francês foi lançado numa operação de marketing digna das grandes marcas, dia 23 de janeiro, na sede do jornal mais respeitado da França, Le Monde, que tem 34% do capital do novo jornal online. O jornal vai competir com os bem-sucedidos Rue89 e Mediapart, criados exclusivamente online, sem versão impressa, por jornalistas oriundos do Libération e do Le Monde, respectivamente.
 

Sem censura
 
Lançado nos Estados Unidos em 2005, o Huffington Post superou a versão online do The New York Times (uma exceção, pois as marcas da imprensa escrita ainda têm um lugar importante entre a mídia online). A versão francesa é totalmente produzida em Paris por uma redação de oito jornalistas (a redação americana tem 200) comandados pela jornalista Anne Sinclair, diretora editorial, que na vida privada é madame Strauss-Kahn.
 

Além de uma bem-sucedida carreira no jornalismo ela goza de uma quota de popularidade excepcional, tendo sido eleita a mulher do ano em 2011, seguida de Christine Lagarde e Martine Aubry. Anne Sinclair prometeu fazer um jornal tipicamente francês, em harmonia com a cultura do país, e anunciou blogs assinados por grandes personalidades do mundo político e cultural.
 

O lançamento reuniu um número de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos nunca visto em entrevista coletiva. Mais de 200 profissionais da imprensa foram à sede do Le Monde para conhecer o projeto. A fundadora do Huff Post, Arianne Huffington, veio dos Estados Unidos e apresentou seu novo rebento cercada dos responsáveis pela versão francesa: Louis Dreyfus, presidente do grupo Le Monde, Matthieu Pigasse, um dos acionistas do Le Monde e presidente da holding Les Nouvelles Editions Indépendantes (que edita o Huff além da revista impressa Les Inrockuptibles), David Kessler, diretor do Huff Post francês, Paul Ackermann, redator-chefe.
 

Mas parte daquele enxame de profissionais da imprensa se deslocou para ver e ouvir a mulher de Dominique Strauss-Kahn, que garantiu que todos os assuntos vão ser tratados pelo jornal, sem censura ou autocensura – mesmo a suíte do affaire que envolve seu marido, pois sabe separar vida privada da vida profissional.
 

Duas marcas

Propriedade do grupo AOL desde fevereiro do ano passado, o Huffington Post foi anunciado por Arianna Huffington como um modelo da informação online, misturando assuntos sérios com a leveza do lazer e da cultura e apresentando “storytellings com emoção e não apenas números e personagens”. Segundo Anne Sinclair, o jornal não é nem de direita nem de esquerda, mas “republicano e humanista”. E pretende ser sério e divertido.
O Huffington Post francês tem cinco rubricas: eleições presidenciais 2012, economia, internacional, cultura e tendências (que inclui novas tecnologias, arte de viver, moda e lazer).
 

Apesar de serem parceiras, as duas marcas que se unem no novo jornal – Le Monde e Huffington Post – são separadas e as redações totalmente independentes.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tchin !


O millésime de Champagne 2011 é o melhor da história deste vinho depois do millésime 2007.
Aproveitemos e brindemos a 2012 !


Pênis em profusão e eretos

 
“Por que em Pompeia se erguiam esses falos ?” Esse é um título do jornal Le Monde de terça-feira, 10 de janeiro. Uma página inteira de fotos e de uma bela reportagem sobre a extraordinária exposição que o Musée Maillol de Paris dedica a Pompeia. Os falos da exposição, sempre eretos, não me chocaram mas me chamaram a atenção quando visitei a exposição com Samuel, de 13 anos. Chegamos a comentar com naturalidade o fato de estarem sempre em ereção, simbolizando a fertilidade.


Fiz fotos de um pênis diante na entrada de uma casa em Pompeia. Segundo o guia, o símbolo indicava um bordel. 




Mas segundo o Museu Maillol, uma professora teria escrito ao ministro da cultura Frédéric Mitterrand dizendo-se chocada. O diretor das pesquisas arqueológicas explica ao Le Monde : «Pompeia não é a cidade do pecado, a cidade pervertida, uma espécie de Sodoma, castigada pelos deuses. Numa sociedade que não conhecia nem a dúvida, nem o pecado, nem o pudor, nem a malícia típicas de nosso tempo, o sexo era vivido com grande naturalidade ». Daí o número de pênis eretos nas pequenas estatuetas e em grandes esculturas que podem ser vistas no Musée Maillol até 12 de fevereiro.


Das ruínas de Pompeia, descoberta no século XVIII, já foram escavados dois terços que representam 1500 casas ou palácios e templos, com mais de 20 mil metros quadrados de afrescos e 2 mil metros quadrados de mosaicos.
 

Mas com a crise e a falta de recursos para manter o sítio, muitas paredes de pedra com mais de dois mil anos correm o risco de ruir. Mais de 500 milhões de euros são necessários para manter o perímetro arqueológico e a receita com os ingressos de visitantes em Pompeia arrecada apenas 22 milhões por ano. Uma gota d’água.
 

Numa escultura que vi no Museu arqueológico de Nápoles falta o pênis de Alessandro Severo (225 d.C.), mas a perda parece compensada pela espécie de cetro que ele tem à mão. 


(Fotos de Leneide Duarte-Plon)
 

Uma bofetada em Le Pen

O criador do Front National, Jean-Marie Le Pen, simboliza o racismo e a xenofobia de uma parte da população francesa que detesta negros, árabes e estrangeiros em geral.
 

Por isso, a pesquisa que anualmente aponta a personalidade preferida dos franceses é uma bofetada no velho líder racista e ultra-nacionalista.  Publicada em 1° de janeiro 2012, ela informa que os franceses elegeram como personalidades preferidas três símbolos da França que Le Pen detesta : o primeiro colocado é um francês mestiço (o ex-tenista e atual cantor Yannick Noah), o segundo é um francês de origem argelina (o ex-jogador Zinedine Zidane)  e o terceiro é um francês negro, de origem africana (o ator Omar Sy, um show de interpretação em Intouchables). Noah e Zidane já estão há vários anos liderando a lista.
 

Iniciada em 1988, a pesquisa foi muito tempo dominada pelo comandante Cousteau (eleito 20 vezes a personalidade preferida dos franceses) e pelo abade Pierre (16 vezes), fundador de uma obra de caridade extraordinária chamada Emmaüs. A ex-ministra da Saúde Simone Veil, responsável pela lei que legalizou o aborto em 1975, é a quarta colocada. Nicolas Sarkozy é o 49°. 

Aliás, outro dia ouvi o pai de Sarkozy, Pal Sarkozy, dizer que se seu filho « tivesse 30 cm a mais ele não teria sido levado a se tornar presidente da República ». Ele queria dizer que a ânsia de poder e reconhecimento é uma compensação para o complexo que vem de sua baixa estatura. 

Napoléon era baixinho, convém não esquecer.
 

Bem-vindo à Palestina 2012



A colonização da Cisjordânia prossegue a passos largos. Israelenses fanáticos que teimam em ignorar as resoluções da ONU acharam um aliado de peso : a indiferença de Barack Obama e da Europa, que torna a criação do Estado Palestino uma miragem. O esfacelamento do território atribuído pela ONU em 1947 para a criação do Estado Palestino é uma realidade que interessa muito pouco atualmente à mídia, ofuscada pela primavera árabe.
Foto 329
 

Um apelo chamado Bem-vindo à Palestina 2012 (Bienvenue en Palestine 2012) foi lançado por personalidades como Desmond Tutu (bispo sul-africano e Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o apartheid), Noam Chomsky (Linguista e filósofo americano),  Jean Ziegler (vice-presidente do Advisory Committee do Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos), da rabina Lynn Gottlieb (Shomer Shalom Network for Jewish Nonviolence) e de Bruce Katz (PAJU: Palestininos e Judeus Unidos, Canada) entre muitos outros nomes de ativistas judeus e palestinos. Eis o texto:
 
« Nós, signatários do presente, aderimos ao apelo Bem-vindo à Palestina, que visa a permitir aos defensores dos direitos humanos e dos direitos nacionais do povo palestino viajar livremente à Palestina em abril de 2012. Hoje, não há outra forma de entrar na Palestina senão passando por postos de controle israelenses. Israel fez da Palestina uma prisão gigante, mas desde quando prisioneiros não podem nem mesmo receber visitas ? Bem-vindo à Palestina 2012 vai de novo contestar a política israelense de isolamento da Cisjordânia, no momento em que colonos paramilitares e o exército cometem crimes contra uma população civil palestina sem defesa. Fazemos um apelo aos governos para defender os direitos dos palestinos de receber visitas e o direito de todos os cidadãos desses governos de visitarem livremente a Palestina. Os participantes da missão Bem-vindo à Palestina 2012  pedem que seja possível transitar pelo aeroporto de Tel Aviv sem problemas afim de se dirigirem à Cisjordânia onde são esperados para participarem de um projeto dedicado ao direito à educação para todas as crianças palestinas ». 


Perigo : Facebook 


A  policia francesa acaba de prender um jovem, suspeito do assassinato da namorada. Ele esteve foragido por países que não têm acordo de extradição com a França e resolveu voltar ao território francês para esquiar.
 

Cometeu, porém, um grave erro. Anunciou em sua página do Facebook e quando chegou ao aeroporto a polícia o esperava e o conduziu detido para início de um processo que não aconteceu antes porque não havia provas do crime e o rapaz sempre se declarou inocente. O pai da vítima nunca se convenceu de que o ex-namorado não seria o verdadeiro assassino e continuou a investigação. Obteve novas provas e testemunhas e agora a Justiça francesa vai finalmente julgar o acusado do crime.
 

Tudo por causa de uma indiscrição. As pessoas que têm uma página Facebook se comprazem em contar o que vão fazer ou fizeram. Como se o cotidiano e os pequenos prazeres individuais pudessem interessar à humanidade. A web é um depósito de narcisismos incontroláveis. E, dessa forma, Facebook tornou-se o maior delator da história da humanidade ! Há todos os dias histórias de empregadores que usam as informações para julgar seus empregados potenciais. Os riscos de Facebook são enormes.
 

Para quem não conhece o risco de controle das informações que circulam nesse big brother aconselho o testemunho de um jovem advogado alemão. Assustador.

http://www.youtube.com/watch?v=ObbiBeXevkE
 





Tributo à honestidade de Madame Carriou
 
 

Minha bolsa foi roubada quando me sentei para tomar um chocolate numa das deliciosas varandas de café de Paris. Coloquei a bolsa na cadeira ao lado e comecei a tomar notas para um texto que ia escrever. Uma pessoa sentou-se ao lado e no mesmo momento se levantou e saiu correndo com minha bolsa. Era um jovem magro, com aparência de cigano (romeno). Corri pedindo socorro mas o ladrão escapou e sumiu numa rua movimentada.
 

Começava para mim um calvário que ainda não teve fim. Tinha acabado de voltar do Brasil e ainda estava com todos os documentos brasileiros na bolsa, além da carteira de identidade, título de eleitor e cartões de créditos franceses, i-phone e mil e uma coisas importantes como as chaves de casa. Além de 300 euros que acabara de pegar num caixa eletrônico. No mesmo momento do roubo, voltei em casa depois de ligar para meu marido para ele ir abrir a porta de casa. Peguei nova bolsa, o passaporte francês que escapou do roubo porque estava em casa, e me dirigi à delegacia mais próxima.
 

Não sem antes pegar em casa 250 euros em notas de 50 e enfiar num bolso no alto da blusa. Depois de ter em mãos o documento da delegacia para todas as providências administrativas, voltei para casa. Entro no elevador e vejo um recado escrito por uma vizinha dizendo que encontrara dinheiro no elevador (sem precisar a quantia) e que o dono poderia lhe telefonar para receber o dinheiro. Procuro meus 250 euros e nada ! Depois do roubo da bolsa, era a segunda perda importante no mesmo dia. Ligo para a vizinha e lhe digo que perdera 250 euros em notas de 50 e ela me responde, « pode vir pegar ». Foi exatamente o que ela achara, cinco notas de 50 euros.
 

Perturbada com o roubo dos documentos, ao sair para a delegacia,  pensei que colocava no bolso da blusa e o dinheiro caiu no elevador sem que eu percebesse.
 

Se todas as pessoas que encontram 250 euros num elevador tivessem a preocupação de escrever um bilhete avisando ao possível proprietário, o mundo seria muito melhor.    

Golgota Picnic

 
O título da peça já é uma provocação. Sem terem visto a peça, os católicos integristas a julgaram « cristianofóbica ». Na entrada do teatro, cartazes espalhados por todo o hall diziam : « On ne vous empêche pas de croire, vous ne nous empêcherez pas de penser » (Não impedimos vocês de crer, vocês não nos impedirão de pensar).
 

A iconoclasta e poética Golgota Picnic passou por Paris, no Théâtre du Rond Point, como parte da programação  do Festival de Outono. O espetáculo já tinha sido apresentado em Toulouse sob protestos dos tradicionalistas católicos que a julgaram herética sem tê-la visto, como habitualmente. Dois homens foram presos tentando sabotar o sistema de alarme do teatro. Um aparato policial em torno do teatro esteve presente todas as noites de apresentação, de 8 a 17 de dezembro.

A peça do espanhol-argentino Rodrigo García desperta novamente a polêmica em torno da figura de Jesus Cristo, depois de "Sobre o conceito de rosto do filho de Deus", do italiano Romeo Castellucci   (comentada anteriormente neste blog).
 

O Cardeal de Paris André Vingt-Trois convidou os católicos  a uma vigília de preces na  Notre-Dame de Paris para protestar contra a peça que para ele « é um insulto a Jesus Cristo na cruz ».
 

A peça  de Garcia, dura duas horas e meia mas não se limita a criticar a civilização ocidental-cristã. Os atores são verdadeiras metralhadoras giratórias atirando em todas as direções. Numa das cenas, os cinco atores cantam em português Cálice, a maravilhosa canção de Chico Buarque. Os quatro atores da peça e a única atriz são porta-vozes do talentoso diretor e autor Rodrigo García, que segundo li passa parte do ano na Bahia.
 

“Em verdade vos digo, quem não tem senso de humor não entendeu nada da vida”, diz um deles. A última hora do espetáculo é um recital do premiado pianista Marino Formenti, tocando totalmente nu a peça de Haydn “Sete últimas palavras de Cristo”.

O fim de uma era

 
Por Leneide Duarte-Plon em 27/12/2011 na edição nº 674 do Observatorio da Imprensa


Sempre foi e sempre será uma triste tarefa a de noticiar o fim de um jornal. Foi duro para os jornalistas brasileiros verem a lenta decadência do Jornal do Brasil, seu desaparecimento na versão impressa, assim como foi penoso este mês para os jornalistas franceses verem chegar ao fim o France-Soir depois de 67 anos presente no panorama midiático francês.


Libération deu capa e a matéria principal de quatro páginas com a história do legendário France-Soir, além de uma análise da situação atual da imprensa francesa e das perspectivas futuras. No editorial assinado, Nicolas Demorand, diretor de Libération, escreveu que “o jornalismo da imprensa escrita é um esporte de combate” parafraseando o documentário sobre Pierre Bourdieu, A sociologia é um esporte de combate, de Pierre Carles. Como o brasileiro, o jornal francês vai manter sua versão online. Na França, France-Soir é o primeiro jornal impresso a parar de circular mantendo a versão online.
 

France-Soir fora comprado pelo milionário russo Alexandre Pougatchev, de 23 anos, em 2009, por 65 milhões de euros. O pai do jovem é um oligarca próximo de Vladimir Putin e já comprara o gigante da alimentação de luxo francês Hédiard. Mas tendo acumulado um prejuízo em 2010 de 31 milhões de euros, Pougatchev resolveu parar de perder dinheiro com a crescente perda de publicidade e de leitores. A equipe de 130 jornalistas que fazia o jornal impresso foi reduzida a 32 profissionais e o jornal passou a ter apenas uma versão online.
 

O fim da imprensa como a conhecemos
 

Criado em 1944 por Robert Salmon e Philippe Viannay, France-Soir é o diário que se originou do jornal clandestino da resistência contra os nazistas, Défense de la France, também fundado pelos dois jornalistas. Na época áurea de Pierre Lazareff, que comprara o jornal de seus fundadores, o jornal chegou a vender 1 milhão de exemplares diários.
 

O sociólogo Jean-Marie Charon, especialista da mídia, estima que essa tendência de passar do impresso ao web vai continuar na França. Os jornais La Tribune e L’Humanité podem seguir o mesmo caminho de France-Soir e passar a circular unicamente online. Nos Estados Unidos, onde a tendência ao fechamento dos jornais impressos é crescente, a imprensa diária já suprimiu 10 mil empregos desde 2007. Segundo o jornal Le Parisien, outro diário que migra lentamente para a internet, dois terços dos franceses se informa hoje pela internet.
 

Jean-Marie Charon arrisca uma profecia de especialista. Segundo ele, os cotidianos vão cada vez mais migrar para a internet. Alguns jornais manterão uma versão impressa apenas alguns dias da semana; outros, apenas um dia por semana. Ligados dia e noite no smartphone, no rádio e na TV, os leitores não têm mais tempo de ler um jornal impresso todo dia. E as novas gerações não formaram o hábito da relação sensorial, indispensável para alguns, do leitor com o papel do jornal.
 

Sem dúvida, o desaparecimento de uma geração que ainda compra ou assina um ou mais jornais diários marcará o fim da imprensa como nós a conhecemos.
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