Michel Platini foi um craque da seleção francesa e hoje é o presidente da União européia de futebol (UEFA). No meio da histeria e da burrice que tomou conta da classe política francesa na semana passada, ele foi uma das vozes mais lúcidas e inteligentes.
A polêmica envolvendo futebol e políticos começou quando a seleção francesa jogou no Stade de France, em Paris, contra a seleção da Tunísia. Antes do jogo, quando uma cantora de origem tunisiana cantava A Marselhesa, o hino nacional foi vaiado por milhares de jovens torcedores. Ora, esses jovens nasceram na França. Mas vaiam o hino nacional.
Não é a primeira vez que A Marselhesa é vaiada. Isso já aconteceu num jogo contra o Marrocos e em outro contra a Argélia. Os três países foram colônias ou protetorados franceses.
Por que jovens descendentes de ex-colonizados vaiam A Marselhesa? Em vez de se fazer essa pergunta, que daria como resposta o fracasso da integração «à la française », Sarkozy, o primeiro-ministro Fillon, a ministra da Saúde e do Esporte e seu secretário de Estado multiplicaram as declarações de horror, espanto e indignação. Chegaram a propor que, numa próxima ocasião, o jogo seja interrompido e o estádio esvaziado. O secretário Laporte sugeriu que nunca mais a seleção francesa jogue contra esses países magrebinos no Stade de France.
O que disse Platini? Em longa entrevista ao "Le Monde" ele denuncia a manipulação política em torno do futebol, «refém da classe política», e critica a idéia de suspender o jogo quando o hino for vaiado. Além disso, pergunta, irônico: «Quando é que vão ter a brilhante idéia de pôr um policial atrás de cada torcedor?»
Ele minimiza o acontecido dizendo que em outras ocasiões esses mesmos jovens cantam o hino nacional quando a França joga contra um país europeu ou durante a Copa do Mundo.
Platini confessa que nunca cantou a Marselhesa antes dos jogos, mesmo achando que é o mais bonito hino nacional do mundo. Para ele, cantar aux armes citoyens antes de um jogo de futebol lhe parecia ir contra o espírito esportivo. «Era um jogo, um esporte, e não uma batalha de uma guerra. Por isso, nunca pude cantar o hino».
De que ria a rainha?
Num almoço com o embaixador brasileiro em Paris, na semana passada, os correspondentes brasileiros tiveram algumas informações preliminares sobre a visita de Nicolas Sarkozy ao Brasil em dezembro. O Brasil vai se tornar um parceiro privilegiado da França. A França vai vender aviões Rafale, helicópteros, centrais nucleares e outros itens da tecnologia francesa.
Uma jornalista fez a pergunta que estava na cabeça de muitas pessoas: «Carla Bruni o acompanha?»
Nas relações bilaterais a presença ou não da mulher do presidente na delegação não muda em nada o prestígio e a importância da visita presidencial, mas a ausência de Carla Bruni-Sarkozy tiraria um pouco do brilho e do charme da viagem. Afinal, ela é para Sarkozy o que Jackie Kennedy era para John Kennedy. Um «plus» com o qual ele conta para vender o charme francês (e uns Rafales e tanques de quebra) e construir seu mito.
Carla vai ao Brasil em dezembro, sim. Mas, obviamente, não vai passar o réveillon na orla vendo os fogos. Seu marido é muito ocupado para ficar tantos dias fora da Europa, que ele dirige até o fim do ano na presidência rotativa dos 27 estados-membros da União Européia. Parece que passam o Natal em Itaipava, na casa de amigos do pai dela, que vive em São Paulo.
Alguém quis saber como são as relações pessoais de Sarkozy e Lula. Eles se entendem muito bem, segundo o embaixador José Maurício Bustani. Ele disse que o presidente Lula surpreende por sua capacidade de comunicação e descontração.
Em Londres, durante a visita presidencial, o embaixador ouviu uma gargalhada feminina que vinha do grupo onde estava Lula. Como estava mais atrás, apressou o passo. Ao entrar no salão onde estavam Lula e Elizabeth II, viu estupefato que era ela quem dava uma risada farta, digna de uma plebéia, reagindo a algo contado por Lula. Descontraída e abandonando a sua pose de rainha da Inglaterra, Elizabeth II continuou a conversa com o ex-metalúrgico mostrando um quadro de um pintor holandês e fazendo um comentário bem-humorado sobre os holandeses.
Máfia napolitana contra Saviano
O escritor e jornalista Roberto Saviano desistiu. Jogou a toalha.
O autor de « Gomorra » decidiu deixar a Itália. Saviano tinha 26 anos quando escreveu o livro que trata da importância da Camorra, a máfia napolitana, na economia de Nápoles e da Itália. Depois, o livro foi adaptado ao cinema por Matteo Garrone.
“Gomorra”, que recebeu prêmio do júri no último festival de Cannes, impressiona pela violência dos mafiosos, infiltrados em todos os setores da economia regional, cujos métodos são a intimidação e a brutal eliminação de rivais e inimigos.
Depois de dois anos acompanhado dia e noite por guarda-costas, Saviano desistiu de continuar fugindo dos mafiosos, uma vez que, como escreveu no "La Reppublica", a «matilha de assassinos» tem total liberdade de ação no país, sem que isso desperte nenhum debate, nenhuma polêmica.
A Camorra, minuciosamente descrita no livro que vendeu um milhão e duzentos mil exemplares, tinha um projeto de assassinar Roberto Saviano antes do Natal, na auto-estrada entre Roma e Nápoles.
Com a partida dele, esperemos que salve sua vida.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
EXPLOSÃO DE FAVELAS
Se nada for feito na área de urbanização nos países mais pobres, haverá dois bilhões de pessoas vivendo em favelas daqui a trinta anos, segundo relatório da ONU divulgado no dia Internacional do Habitat, comemorado dia 6 de outubro. Hoje já existem 200 milhões de chineses, 160 milhões de indianos e 50 milhões de brasileiros vivendo em favelas. Em números absolutos, o Brasil ocupa o terceiro lugar em população favelada (medalha de bronze) e tem 36,6% de sua população vivendo em casas precárias, construídas em áreas parcial ou completamente insalubres. Consolo para quem precisa de consolo: a Tanzânia, a Etiópia e o Sudão têm uma percentagem da população bem maior morando em favelas: 92,1%, 99,4% e 85,7% respectivamente.
A pobreza urbana e as favelas, decorrentes da migração do campo para as cidades, serão o problema mais importante e politicamente explosivo deste século, segundo uma previsão do Banco Mundial.
FICHAMENTO DE CIDADÃOS FRANCESES
No dia 16 deste mês, os franceses vão fazer um dia nacional de protestos contra o fichamento de cidadãos, o Fichier EDVIGE, criado pelo governo Sarkozy. Um coletivo de cidadãos organiza em todo o país passeatas para dizer “Non à EDVIGE”.
Um atentado às liberdades individuais, o fichamento já provocou protestos e petições contra sua instauração em todo o país. A Comission Nationale de l’Informatique et des Libertés (CNIL) recebeu um relatório de magistrados e vai se manifestar sobre o fichamento, que já teve nova versão que tenta dourar a pílula para fazê-la passar mais facilmente.
O fichário pretende manter dados de todos os cidadãos a partir dos 13 anos “que pretendem exercer ou exerçam mandato político, sindical ou econômico ou que tenham algum papel institucional, econômico, social ou religioso significativo”, conforme o decreto de junho que instituiu o EDVIGE. O governo terá em mãos informações extremamente sensíveis como origens “raciais” ou étnicas, opiniões filosóficas, políticas ou religiosas e filiação a sindicatos.
A França começa a reagir ao Estado dos sonhos do presidente Sarkozy: policialesco e centralizado.
«MON MARI» PRA CÁ, «MON MARI» PRA LÁ
Vou abrir um espaço para um bilhete « people », como os franceses chamam as notícias em torno de celebridades.
Carla Bruni-Sarkozy costuma falar de Nicolas Sarkozy como “mon mari”. Nas entrevistas, jamais ela se refere a ele pelo nome, Nicolas. Deve achar que não fica bem falar do presidente como se fosse um simples namorado. E como ele é o primeiro marido dela (“ele me pediu em casamento, foi o primeiro homem que me fez o pedido”), a posição de “mari” conta muito, aparentemente. Sua biografia de mulher livre, conquistadora e “femme fatale” (Eric Clapton conta no seu livro a fossa quando ela o deixou) ficou para trás. Por outro lado, o novo papel de boa esposa que fala de “mon mari” com respeito e quase reverência soa ridículo para muitos.
Raphael Enthoven, filósofo de formação, tem um programa cultural na Rádio France Culture chamado “Les chemins de la connaissance”, no qual debaterá a obra de Freud durante toda esta semana.
Mas o que isso tem a ver com Carla? Deixemos Freud de lado e falemos do mundo parisiense no qual Enthoven circula. Ele é um personagem conhecido das revistas “people” francesas porque vem a ser o pai de Aurélien, filho de Carla Bruni. Graças a seu envolvimento com a ex-manequim e cantora, Raphaël Enthoven e ela se tornaram personagens de um romance que virou best-seller há quatro anos.
Esse ex-namorado de Carla B. (como o jornal satírico “Canard Enchaîné” trata a primeira dama, autora de um diário fictício engraçadíssimo) era marido de Justine Lévy, filha do filósofo Bernard-Henri Lévy. Para quem não se lembra, Justine foi abandonada por Raphaël quando este conheceu Carla, que era namorada... de seu pai, o editor Jean-Paul Enthoven. Separação dos dois casais, filho e pai deixam de se falar, Justine escreve o romance “Rien de grave” no qual lava a roupa suja (200 mil exemplares vendidos). O livro assassina todos os personagens: o marido, a femme fatale, que ela chama de “Paula” e trata de “mulher Terminator”, bela e perigosa, com o rosto todo refeito em cirurgias plásticas. Justine também conta como se deixou tragar pela depressão, anfetaminas, aborto, entre outras misérias.
Na época do lançamento do livro, Carla Bruni respondeu soberana na revista “Elle”: “A ex-mulher do meu marido (Raphaël) me faz passar por uma mulher que rouba maridos, quando todo mundo sabe que maridos não são roubados. A gente sabe mantê-los ou não”.
Raphaël apenas retrucou: « Justine Lévy tem talento, mas ela é para a literatura o que seu pai é para a filosofia há muito tempo: uma anedota.
SINÉ DE VOLTA
Quando Siné foi despedido de “Charlie Hebdo” pelo diretor do jornal, Philippe Val, sob acusação de anti-semitismo, o humorista e caricaturista mais irreverente da imprensa francesa decidiu que não iria calar a boca.
Sentindo-se injustiçado ao ser demitido de “Charlie Hebdo”, Siné abriu um processo contra Val e fundou um jornal tão irreverente e mal-educado quanto o dono. Como carimbo “Siné Hebdo” exibe um garoto levado fazendo caretas dentro de um círculo duplo onde se lê “Le journal mal élevé” (O jornal mal-educado). O número 1 de “Siné Hebdo” saiu dia 10 de setembro com uma capa em que uma caricatura sua faz um gesto obsceno com a mão que mostra um dedo e diz: “Olha eu de novo!”
E como prova de que os quatro números já publicados incomodam, os computadores da redação do jornal foram roubados no domingo, 5 de outubro. Obviamente, nos computadores estavam os textos do número que sai na quarta-feira, 8. Catherine Sinet, que é diretora de redação do jornal, já tinha denunciado à polícia uma série de ameaças recebidas por telefone de uma organização extremista judaica.
Com a saída do número 4 no dia 1° de outubro, o jornal contabiliza um mês de vida e mantém o nível de interesse dos leitores dispostos a apoiar o trabalho de um grupo de cartunistas e jornalistas revoltados com a acusação a Siné, ao qual se juntaram nomes como Michel Onfray e Michel Warschawski. O primeiro é um professor de filosofia, um iconoclasta de carteirinha, que escreveu, entre outros, um “Tratado de ateologia” e cujos livros e DVDs são best-sellers em toda a França difundindo a filosofia entre o maior número possível de leitores. Para isso, ele fundou uma universidade livre, totalmente gratuita, na cidade de Caen, a poucas horas de Paris.
Warschawski é um intelectual israelense, autor de diversos livros sobre o conflito israelo-palestino e defensor incondicional da causa palestina. No seu primeiro artigo para “Siné Hebdo”, o filho do rabino Warschawski diz que em seu artigo semanal não falará jamais do que se convencionou chamar “processo de paz”. “Siné me pediu uma coluna na qual falarei das realidades políticas, sociais e culturais dessa região do planeta na qual vivo, milito e escrevo. Ora, o “processo de paz” é exatamente o contrário de uma realidade: é vento, virtual, alguns diriam que ele é pura propaganda política”, escreve o escritor.
Há três meses, ao ser acusado de anti-semitismo, Siné reagiu energicamente: "Quanto ao meu suposto anti-semitismo, nunca fui anti-semita, não sou anti-semita, nunca serei anti-semita. Condeno radicalmente os que são anti-semitas, mas não tenho nenhum apreço pelos que, judeus ou não, jogam irresponsavelmente essa palavra abjeta na cara de seus adversários para desconsiderá-los, sabendo que esta acusação é o insulto supremo depois do Holocausto (Shoah). Isso está se tornando insuportável. No que me diz respeito, tenho tanta antipatia por todos os que, judeus ou não, defendem o regime israelense, quanto pelos que defendiam o apartheid na África do Sul. Há mais de 60 anos luto contra todas as formas de racismo e se tivesse tido idade de esconder judeus durante a ocupação o teria feito sem hesitar, como o fiz pelos argelinos durante a guerra da Argélia. Estou do lado de todos os oprimidos!"
O jornal de Siné tem o mesmo formato do outro do qual ele foi expulso. E se continuar a vender e despertar o interesse dos leitores como o primeiro número, vai longe. No editorial do número 2, o cartunista informa que o número 1 foi um sucesso de vendas (151 mil exemplares) e que o fato de terem conseguido fundar o jornal com tão pouco dinheiro era um milagre que deveria continuar a ser apoiado pelos leitores.
No primeiro número, o cartunista se se congratulou com os leitores pela criação do jornal “mal-educado, impertinente, libertário, em cores e barato” (dois euros). Para continuar a viver sem nenhum anúncio publicitário como outro tradicional e respeitado jornal satírico “Le Canard Enchaîné”, “Siné Hebdo” só conta com o apoio de seus leitores. Siné escreveu um pequeno texto pedindo doações para a associação “Les mal-élevés”:
“Não tenhamos ilusão. Temos de contar com o silêncio da mídia. Muitas pessoas nos detestam e vão fazer tudo para nos sabotar”. O texto tem um título provocante: “Pare de beber (provisoriamente) e de fumar (se for possível) e envie o dinheiro economizado pra gente”.
Pedido de doações mais irreverente, impossível.
A pobreza urbana e as favelas, decorrentes da migração do campo para as cidades, serão o problema mais importante e politicamente explosivo deste século, segundo uma previsão do Banco Mundial.
FICHAMENTO DE CIDADÃOS FRANCESES
No dia 16 deste mês, os franceses vão fazer um dia nacional de protestos contra o fichamento de cidadãos, o Fichier EDVIGE, criado pelo governo Sarkozy. Um coletivo de cidadãos organiza em todo o país passeatas para dizer “Non à EDVIGE”.
Um atentado às liberdades individuais, o fichamento já provocou protestos e petições contra sua instauração em todo o país. A Comission Nationale de l’Informatique et des Libertés (CNIL) recebeu um relatório de magistrados e vai se manifestar sobre o fichamento, que já teve nova versão que tenta dourar a pílula para fazê-la passar mais facilmente.
O fichário pretende manter dados de todos os cidadãos a partir dos 13 anos “que pretendem exercer ou exerçam mandato político, sindical ou econômico ou que tenham algum papel institucional, econômico, social ou religioso significativo”, conforme o decreto de junho que instituiu o EDVIGE. O governo terá em mãos informações extremamente sensíveis como origens “raciais” ou étnicas, opiniões filosóficas, políticas ou religiosas e filiação a sindicatos.
A França começa a reagir ao Estado dos sonhos do presidente Sarkozy: policialesco e centralizado.
«MON MARI» PRA CÁ, «MON MARI» PRA LÁ
Vou abrir um espaço para um bilhete « people », como os franceses chamam as notícias em torno de celebridades.
Carla Bruni-Sarkozy costuma falar de Nicolas Sarkozy como “mon mari”. Nas entrevistas, jamais ela se refere a ele pelo nome, Nicolas. Deve achar que não fica bem falar do presidente como se fosse um simples namorado. E como ele é o primeiro marido dela (“ele me pediu em casamento, foi o primeiro homem que me fez o pedido”), a posição de “mari” conta muito, aparentemente. Sua biografia de mulher livre, conquistadora e “femme fatale” (Eric Clapton conta no seu livro a fossa quando ela o deixou) ficou para trás. Por outro lado, o novo papel de boa esposa que fala de “mon mari” com respeito e quase reverência soa ridículo para muitos.
Raphael Enthoven, filósofo de formação, tem um programa cultural na Rádio France Culture chamado “Les chemins de la connaissance”, no qual debaterá a obra de Freud durante toda esta semana.
Mas o que isso tem a ver com Carla? Deixemos Freud de lado e falemos do mundo parisiense no qual Enthoven circula. Ele é um personagem conhecido das revistas “people” francesas porque vem a ser o pai de Aurélien, filho de Carla Bruni. Graças a seu envolvimento com a ex-manequim e cantora, Raphaël Enthoven e ela se tornaram personagens de um romance que virou best-seller há quatro anos.
Esse ex-namorado de Carla B. (como o jornal satírico “Canard Enchaîné” trata a primeira dama, autora de um diário fictício engraçadíssimo) era marido de Justine Lévy, filha do filósofo Bernard-Henri Lévy. Para quem não se lembra, Justine foi abandonada por Raphaël quando este conheceu Carla, que era namorada... de seu pai, o editor Jean-Paul Enthoven. Separação dos dois casais, filho e pai deixam de se falar, Justine escreve o romance “Rien de grave” no qual lava a roupa suja (200 mil exemplares vendidos). O livro assassina todos os personagens: o marido, a femme fatale, que ela chama de “Paula” e trata de “mulher Terminator”, bela e perigosa, com o rosto todo refeito em cirurgias plásticas. Justine também conta como se deixou tragar pela depressão, anfetaminas, aborto, entre outras misérias.
Na época do lançamento do livro, Carla Bruni respondeu soberana na revista “Elle”: “A ex-mulher do meu marido (Raphaël) me faz passar por uma mulher que rouba maridos, quando todo mundo sabe que maridos não são roubados. A gente sabe mantê-los ou não”.
Raphaël apenas retrucou: « Justine Lévy tem talento, mas ela é para a literatura o que seu pai é para a filosofia há muito tempo: uma anedota.
SINÉ DE VOLTA
Quando Siné foi despedido de “Charlie Hebdo” pelo diretor do jornal, Philippe Val, sob acusação de anti-semitismo, o humorista e caricaturista mais irreverente da imprensa francesa decidiu que não iria calar a boca.
Sentindo-se injustiçado ao ser demitido de “Charlie Hebdo”, Siné abriu um processo contra Val e fundou um jornal tão irreverente e mal-educado quanto o dono. Como carimbo “Siné Hebdo” exibe um garoto levado fazendo caretas dentro de um círculo duplo onde se lê “Le journal mal élevé” (O jornal mal-educado). O número 1 de “Siné Hebdo” saiu dia 10 de setembro com uma capa em que uma caricatura sua faz um gesto obsceno com a mão que mostra um dedo e diz: “Olha eu de novo!”
E como prova de que os quatro números já publicados incomodam, os computadores da redação do jornal foram roubados no domingo, 5 de outubro. Obviamente, nos computadores estavam os textos do número que sai na quarta-feira, 8. Catherine Sinet, que é diretora de redação do jornal, já tinha denunciado à polícia uma série de ameaças recebidas por telefone de uma organização extremista judaica.
Com a saída do número 4 no dia 1° de outubro, o jornal contabiliza um mês de vida e mantém o nível de interesse dos leitores dispostos a apoiar o trabalho de um grupo de cartunistas e jornalistas revoltados com a acusação a Siné, ao qual se juntaram nomes como Michel Onfray e Michel Warschawski. O primeiro é um professor de filosofia, um iconoclasta de carteirinha, que escreveu, entre outros, um “Tratado de ateologia” e cujos livros e DVDs são best-sellers em toda a França difundindo a filosofia entre o maior número possível de leitores. Para isso, ele fundou uma universidade livre, totalmente gratuita, na cidade de Caen, a poucas horas de Paris.
Warschawski é um intelectual israelense, autor de diversos livros sobre o conflito israelo-palestino e defensor incondicional da causa palestina. No seu primeiro artigo para “Siné Hebdo”, o filho do rabino Warschawski diz que em seu artigo semanal não falará jamais do que se convencionou chamar “processo de paz”. “Siné me pediu uma coluna na qual falarei das realidades políticas, sociais e culturais dessa região do planeta na qual vivo, milito e escrevo. Ora, o “processo de paz” é exatamente o contrário de uma realidade: é vento, virtual, alguns diriam que ele é pura propaganda política”, escreve o escritor.
Há três meses, ao ser acusado de anti-semitismo, Siné reagiu energicamente: "Quanto ao meu suposto anti-semitismo, nunca fui anti-semita, não sou anti-semita, nunca serei anti-semita. Condeno radicalmente os que são anti-semitas, mas não tenho nenhum apreço pelos que, judeus ou não, jogam irresponsavelmente essa palavra abjeta na cara de seus adversários para desconsiderá-los, sabendo que esta acusação é o insulto supremo depois do Holocausto (Shoah). Isso está se tornando insuportável. No que me diz respeito, tenho tanta antipatia por todos os que, judeus ou não, defendem o regime israelense, quanto pelos que defendiam o apartheid na África do Sul. Há mais de 60 anos luto contra todas as formas de racismo e se tivesse tido idade de esconder judeus durante a ocupação o teria feito sem hesitar, como o fiz pelos argelinos durante a guerra da Argélia. Estou do lado de todos os oprimidos!"
O jornal de Siné tem o mesmo formato do outro do qual ele foi expulso. E se continuar a vender e despertar o interesse dos leitores como o primeiro número, vai longe. No editorial do número 2, o cartunista informa que o número 1 foi um sucesso de vendas (151 mil exemplares) e que o fato de terem conseguido fundar o jornal com tão pouco dinheiro era um milagre que deveria continuar a ser apoiado pelos leitores.
No primeiro número, o cartunista se se congratulou com os leitores pela criação do jornal “mal-educado, impertinente, libertário, em cores e barato” (dois euros). Para continuar a viver sem nenhum anúncio publicitário como outro tradicional e respeitado jornal satírico “Le Canard Enchaîné”, “Siné Hebdo” só conta com o apoio de seus leitores. Siné escreveu um pequeno texto pedindo doações para a associação “Les mal-élevés”:
“Não tenhamos ilusão. Temos de contar com o silêncio da mídia. Muitas pessoas nos detestam e vão fazer tudo para nos sabotar”. O texto tem um título provocante: “Pare de beber (provisoriamente) e de fumar (se for possível) e envie o dinheiro economizado pra gente”.
Pedido de doações mais irreverente, impossível.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Coleção do século
Nunca mais os ricos do planeta conseguirão juntar numa só vida uma coleção tão excepcional.
Essa é a opinião dos especialistas europeus de arte que começaram a fazer o levantamento da coleção Yves Saint Laurent-Pierre Bergé. Os dois formavam um dos mais conhecidos casais parisienses das artes e do mundo dos negócios. O primeiro era um gênio descoberto por Dior aos 21 anos. O segundo, um homem de negócios, responsável pelo sucesso financeiro e empresarial do grande artista e estilista. O primeiro, um homem tímido, dominado por fobias, incapaz de administrar sozinho sua fortuna e seu sucesso. O segundo, um craque das finanças. Estetas, apaixonados pelos objetos de arte, Bergé et Saint Laurent viveram juntos por 50 anos entre Paris e o Marrocos, onde tinham um palácio e recebiam artistas e intelectuais do mundo inteiro. Até que a morte os separou em junho deste ano.
Pierre Bergé e Yves Saint Laurent possuíam objetos de arte chinesa, “art déco”, objetos em ouro, em prata, arte do Renascimento, da Antiguidade, telas de grandes pintores como Picasso, Cézanne, Matisse, Manet, Vuillard, Gauguin, Munch, Mondrian, Léger et Goya. O quadro de Goya foi doado por Bergé ao museu do Louvre. O resto da coleção do século foi entregue a especialistas para a organização de um catálogo para o leilão da Christie’s, em fevereiro de 2009 no Grand Palais, em Paris.
O total arrecadado pelo leilão das 700 obras girará em torno dos 500 milhões de euros. Colecionadores dos Estados Unidos, Pequim, Shangai, Moscou, Tóquio e Dubai estão excitadíssimos fazendo cálculos e consultando especialistas.
A venda não emociona Bergé que diz que guardará a coleção na memória e nas páginas do suntuoso catálogo que vai ser editado com textos de historiadores de arte, em cinco volumes, e vendido a colecionadores e marchands do mundo inteiro.
Nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro só não estarão sendo vendidos no Grand Palais a escultura de um pássaro africano mítico, a primeira peça comprada pelo costureiro, e o retrato de Yves pintado por seu amigo Andy Warhol. A fortuna arrecadada pelo leilão será integralmente destinada a uma nova fundação para a pesquisa científica e ajuda aos doentes de Aids.
Quanto à Fundação Saint Laurent, que existe há alguns anos, ela reúne mais de 5 mil roupas e 150 mil objetos diversos ligados ao costureiro. Numa visita à Avenue Marceau, os fãs do maior estilista do século XX podem fazer uma viagem ao nec plus ultra da moda francesa.
Quem vê « la vie en rose » vive mais
No ano em que a França festeja o centenário de um de seus mais ilustres intelectuais, o antropólogo Claude Lévi-Strauss, os cientistas especialistas do envelhecimento declaram categóricos : vive mais quem é otimista e envelhece melhor quem conserva uma atividade profissional até a idade avançada.
Reunidos em Paris, na sede da Unesco, diversos pesquisadores do envelhecimento quem gosta de viver, tem interesse em descobrir o mundo e as pessoas vive mais. Um estudo mostrou que os centenários franceses tinham em geral um temperamento fácil, um otimismo a toda prova e uma grande curiosidade pela vida. Longevidade e alegria de viver andam sempre juntos, garante Françoise Forette, diretora da Fundação Nacional de Gerontologia.
Obviamente, o otimismo não é tudo. A atividade física regular, comidas saudáveis, pouco sol, pouco álcool e cigarro são o primeiro passo para uma vida longa e com saúde. Segundo o geneticista Axel Kahn, o meio ambiente também tem que ser levado em conta. Pessoas que envelhecem isoladas tendem a ficar mais tristes e a morrer mais cedo do que aquelas que vivem cercadas de diferentes gerações. Pessoas que exercem atividade que estimula o cérebro são as que conservam mais as funções cognitivas. Quanto mais se exercita o cérebro mais se afasta doenças como o mal de Alzheimer.
O despertar do gigante
O jornal “Le Monde” detalha no dia 1° de outubro em matéria de página inteira (com direito a chamada de primeira página) o plano que o Brasil anunciou para defender a floresta amazônica. Na matéria “O Brasil adota um plano de luta contra o desmatamento”, fico sabendo que 80% da exploração da floresta é ilegal; que o Brasil ainda conserva 64% de sua superfície de floresta original; que o plano anunciado pelo ministro Carlos Minc é uma promessa feita em 2007 pelo presidente Lula e será promulgado em 2009; que o Brasil quer restringir a aquisição de terras por estrangeiros; que estes possuem 5,5 milhões de hectares de terras no Brasil, sobretudo em Mato Grosso e em São Paulo.
Mas, segundo o jornal, esses dados sobre terras em mãos estrangeiras não representam fielmente a realidade, uma vez que as companhias brasileiras cujos acionistas são parcialmente ou até mesmo majoritariamente estrangeiros não são computadas nesses números. Segundo o jornal, o Brasil despertou ainda mais a cobiça de investidores estrangeiros ávidos por terras para o plantio de matérias-primas alimentícias depois que estas tiveram o preço supervalorizado. Mas eles investem em terras também para plantar cana de açúcar para a fabricação de biocombustíveis.
Essa é a opinião dos especialistas europeus de arte que começaram a fazer o levantamento da coleção Yves Saint Laurent-Pierre Bergé. Os dois formavam um dos mais conhecidos casais parisienses das artes e do mundo dos negócios. O primeiro era um gênio descoberto por Dior aos 21 anos. O segundo, um homem de negócios, responsável pelo sucesso financeiro e empresarial do grande artista e estilista. O primeiro, um homem tímido, dominado por fobias, incapaz de administrar sozinho sua fortuna e seu sucesso. O segundo, um craque das finanças. Estetas, apaixonados pelos objetos de arte, Bergé et Saint Laurent viveram juntos por 50 anos entre Paris e o Marrocos, onde tinham um palácio e recebiam artistas e intelectuais do mundo inteiro. Até que a morte os separou em junho deste ano.
Pierre Bergé e Yves Saint Laurent possuíam objetos de arte chinesa, “art déco”, objetos em ouro, em prata, arte do Renascimento, da Antiguidade, telas de grandes pintores como Picasso, Cézanne, Matisse, Manet, Vuillard, Gauguin, Munch, Mondrian, Léger et Goya. O quadro de Goya foi doado por Bergé ao museu do Louvre. O resto da coleção do século foi entregue a especialistas para a organização de um catálogo para o leilão da Christie’s, em fevereiro de 2009 no Grand Palais, em Paris.
O total arrecadado pelo leilão das 700 obras girará em torno dos 500 milhões de euros. Colecionadores dos Estados Unidos, Pequim, Shangai, Moscou, Tóquio e Dubai estão excitadíssimos fazendo cálculos e consultando especialistas.
A venda não emociona Bergé que diz que guardará a coleção na memória e nas páginas do suntuoso catálogo que vai ser editado com textos de historiadores de arte, em cinco volumes, e vendido a colecionadores e marchands do mundo inteiro.
Nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro só não estarão sendo vendidos no Grand Palais a escultura de um pássaro africano mítico, a primeira peça comprada pelo costureiro, e o retrato de Yves pintado por seu amigo Andy Warhol. A fortuna arrecadada pelo leilão será integralmente destinada a uma nova fundação para a pesquisa científica e ajuda aos doentes de Aids.
Quanto à Fundação Saint Laurent, que existe há alguns anos, ela reúne mais de 5 mil roupas e 150 mil objetos diversos ligados ao costureiro. Numa visita à Avenue Marceau, os fãs do maior estilista do século XX podem fazer uma viagem ao nec plus ultra da moda francesa.
Quem vê « la vie en rose » vive mais
No ano em que a França festeja o centenário de um de seus mais ilustres intelectuais, o antropólogo Claude Lévi-Strauss, os cientistas especialistas do envelhecimento declaram categóricos : vive mais quem é otimista e envelhece melhor quem conserva uma atividade profissional até a idade avançada.
Reunidos em Paris, na sede da Unesco, diversos pesquisadores do envelhecimento quem gosta de viver, tem interesse em descobrir o mundo e as pessoas vive mais. Um estudo mostrou que os centenários franceses tinham em geral um temperamento fácil, um otimismo a toda prova e uma grande curiosidade pela vida. Longevidade e alegria de viver andam sempre juntos, garante Françoise Forette, diretora da Fundação Nacional de Gerontologia.
Obviamente, o otimismo não é tudo. A atividade física regular, comidas saudáveis, pouco sol, pouco álcool e cigarro são o primeiro passo para uma vida longa e com saúde. Segundo o geneticista Axel Kahn, o meio ambiente também tem que ser levado em conta. Pessoas que envelhecem isoladas tendem a ficar mais tristes e a morrer mais cedo do que aquelas que vivem cercadas de diferentes gerações. Pessoas que exercem atividade que estimula o cérebro são as que conservam mais as funções cognitivas. Quanto mais se exercita o cérebro mais se afasta doenças como o mal de Alzheimer.
O despertar do gigante
O jornal “Le Monde” detalha no dia 1° de outubro em matéria de página inteira (com direito a chamada de primeira página) o plano que o Brasil anunciou para defender a floresta amazônica. Na matéria “O Brasil adota um plano de luta contra o desmatamento”, fico sabendo que 80% da exploração da floresta é ilegal; que o Brasil ainda conserva 64% de sua superfície de floresta original; que o plano anunciado pelo ministro Carlos Minc é uma promessa feita em 2007 pelo presidente Lula e será promulgado em 2009; que o Brasil quer restringir a aquisição de terras por estrangeiros; que estes possuem 5,5 milhões de hectares de terras no Brasil, sobretudo em Mato Grosso e em São Paulo.
Mas, segundo o jornal, esses dados sobre terras em mãos estrangeiras não representam fielmente a realidade, uma vez que as companhias brasileiras cujos acionistas são parcialmente ou até mesmo majoritariamente estrangeiros não são computadas nesses números. Segundo o jornal, o Brasil despertou ainda mais a cobiça de investidores estrangeiros ávidos por terras para o plantio de matérias-primas alimentícias depois que estas tiveram o preço supervalorizado. Mas eles investem em terras também para plantar cana de açúcar para a fabricação de biocombustíveis.
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