Michel Platini foi um craque da seleção francesa e hoje é o presidente da União européia de futebol (UEFA). No meio da histeria e da burrice que tomou conta da classe política francesa na semana passada, ele foi uma das vozes mais lúcidas e inteligentes.
A polêmica envolvendo futebol e políticos começou quando a seleção francesa jogou no Stade de France, em Paris, contra a seleção da Tunísia. Antes do jogo, quando uma cantora de origem tunisiana cantava A Marselhesa, o hino nacional foi vaiado por milhares de jovens torcedores. Ora, esses jovens nasceram na França. Mas vaiam o hino nacional.
Não é a primeira vez que A Marselhesa é vaiada. Isso já aconteceu num jogo contra o Marrocos e em outro contra a Argélia. Os três países foram colônias ou protetorados franceses.
Por que jovens descendentes de ex-colonizados vaiam A Marselhesa? Em vez de se fazer essa pergunta, que daria como resposta o fracasso da integração «à la française », Sarkozy, o primeiro-ministro Fillon, a ministra da Saúde e do Esporte e seu secretário de Estado multiplicaram as declarações de horror, espanto e indignação. Chegaram a propor que, numa próxima ocasião, o jogo seja interrompido e o estádio esvaziado. O secretário Laporte sugeriu que nunca mais a seleção francesa jogue contra esses países magrebinos no Stade de France.
O que disse Platini? Em longa entrevista ao "Le Monde" ele denuncia a manipulação política em torno do futebol, «refém da classe política», e critica a idéia de suspender o jogo quando o hino for vaiado. Além disso, pergunta, irônico: «Quando é que vão ter a brilhante idéia de pôr um policial atrás de cada torcedor?»
Ele minimiza o acontecido dizendo que em outras ocasiões esses mesmos jovens cantam o hino nacional quando a França joga contra um país europeu ou durante a Copa do Mundo.
Platini confessa que nunca cantou a Marselhesa antes dos jogos, mesmo achando que é o mais bonito hino nacional do mundo. Para ele, cantar aux armes citoyens antes de um jogo de futebol lhe parecia ir contra o espírito esportivo. «Era um jogo, um esporte, e não uma batalha de uma guerra. Por isso, nunca pude cantar o hino».
De que ria a rainha?
Num almoço com o embaixador brasileiro em Paris, na semana passada, os correspondentes brasileiros tiveram algumas informações preliminares sobre a visita de Nicolas Sarkozy ao Brasil em dezembro. O Brasil vai se tornar um parceiro privilegiado da França. A França vai vender aviões Rafale, helicópteros, centrais nucleares e outros itens da tecnologia francesa.
Uma jornalista fez a pergunta que estava na cabeça de muitas pessoas: «Carla Bruni o acompanha?»
Nas relações bilaterais a presença ou não da mulher do presidente na delegação não muda em nada o prestígio e a importância da visita presidencial, mas a ausência de Carla Bruni-Sarkozy tiraria um pouco do brilho e do charme da viagem. Afinal, ela é para Sarkozy o que Jackie Kennedy era para John Kennedy. Um «plus» com o qual ele conta para vender o charme francês (e uns Rafales e tanques de quebra) e construir seu mito.
Carla vai ao Brasil em dezembro, sim. Mas, obviamente, não vai passar o réveillon na orla vendo os fogos. Seu marido é muito ocupado para ficar tantos dias fora da Europa, que ele dirige até o fim do ano na presidência rotativa dos 27 estados-membros da União Européia. Parece que passam o Natal em Itaipava, na casa de amigos do pai dela, que vive em São Paulo.
Alguém quis saber como são as relações pessoais de Sarkozy e Lula. Eles se entendem muito bem, segundo o embaixador José Maurício Bustani. Ele disse que o presidente Lula surpreende por sua capacidade de comunicação e descontração.
Em Londres, durante a visita presidencial, o embaixador ouviu uma gargalhada feminina que vinha do grupo onde estava Lula. Como estava mais atrás, apressou o passo. Ao entrar no salão onde estavam Lula e Elizabeth II, viu estupefato que era ela quem dava uma risada farta, digna de uma plebéia, reagindo a algo contado por Lula. Descontraída e abandonando a sua pose de rainha da Inglaterra, Elizabeth II continuou a conversa com o ex-metalúrgico mostrando um quadro de um pintor holandês e fazendo um comentário bem-humorado sobre os holandeses.
Máfia napolitana contra Saviano
O escritor e jornalista Roberto Saviano desistiu. Jogou a toalha.
O autor de « Gomorra » decidiu deixar a Itália. Saviano tinha 26 anos quando escreveu o livro que trata da importância da Camorra, a máfia napolitana, na economia de Nápoles e da Itália. Depois, o livro foi adaptado ao cinema por Matteo Garrone.
“Gomorra”, que recebeu prêmio do júri no último festival de Cannes, impressiona pela violência dos mafiosos, infiltrados em todos os setores da economia regional, cujos métodos são a intimidação e a brutal eliminação de rivais e inimigos.
Depois de dois anos acompanhado dia e noite por guarda-costas, Saviano desistiu de continuar fugindo dos mafiosos, uma vez que, como escreveu no "La Reppublica", a «matilha de assassinos» tem total liberdade de ação no país, sem que isso desperte nenhum debate, nenhuma polêmica.
A Camorra, minuciosamente descrita no livro que vendeu um milhão e duzentos mil exemplares, tinha um projeto de assassinar Roberto Saviano antes do Natal, na auto-estrada entre Roma e Nápoles.
Com a partida dele, esperemos que salve sua vida.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
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Um comentário:
Querida Leneide, eu adoro os seus textos. As novidades em Paris... Uma delícia essa entrevista do Platini. Eu lembro dele, sim.
E a história do camarada que fugiu da máfia. Aqui no Rio, agora, a moda são as execuções à luz do dia. Uma por semana. Parece a Chicago dos anos de Al Capone... Ou a Itália da Camorra.
Beijos, com Deus
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