sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Israel fez limpeza étnica

Ilan Pappe faz parte de um grupo de novos historiadores israelenses que nadam contra a corrente da historiografia oficial. Por desmontar uma série de mitos, Ilan Pappe se tornou persona non grata em Israel e teve de deixar seu país para fugir às hostilidades de que se tornou vítima por suas críticas à ideologia sionista. Hoje Ilan Pappe é professor na Inglaterra.
O último livro do historiador saiu em 2008 na França e o título já desmente o mito fundador do Estado de Israel: o de que os palestinos deixaram voluntariamente suas aldeias com a chegada dos judeus da Europa. No livro “Le nettoyage ethnique de la Palestine” (A limpeza étnica da Palestina, editora Fayard, 2008) Pappe escreve que antes, durante e depois de 1948, os judeus executaram um plano deliberado e sistemático de expulsão de palestinos, cujo objetivo confesso era “purificar” etnicamente o território onde nascia o Estado de Israel. Sua obra detalha dia-a-dia como, desde que foi anunciada a divisão do território em um Estado palestino e um Estado judaico, os dirigentes do futuro Estado judaico passaram à concretização do sonho sionista: criar um Estado exclusivamente judaico, livre da maior parte dos habitantes palestinos.
O historiador prova com documentos de arquivos e testemunhos de sobreviventes que o que a história oficial conta não passa de reconstrução mítica da verdadeira história: entre 1947 e 1949, mais de 800 mil palestinos foram expulsos de suas cidades e aldeias pelos sionistas, sob o olhar cúmplice dos britânicos e a incompetência das Nações Unidas. Esses milhares de palestinos, expulsos do território que se tornou Israel, vivem hoje em campos de refugiados e o Estado palestino previsto pela resolução 181 da ONU, a mesma que criava Israel, nunca foi criado.
O plano D (Daleth em hebraico) foi executado como uma planificação estratégica visando a criar um Estado exclusivamente judeu. Concebido em 10 de março de 1948, esse plano foi dirigido por David Ben Gurion e “selou o destino dos palestinos nos territórios que os dirigentes sionistas tinham decidido que se tornaria o futuro Estado judaico”, escreve Pappe. Ele conta uma reunião de trabalho decisiva quando o plano D foi definido, na qual foram sistematizados os ataques militares a todas as aldeias da Palestina, inclusive as que tinham comunicado aos sionistas que viveriam sob a soberania do futuro Estado de Israel. Isso aconteceu em vilarejos e cidades como Safed, onde populações árabes e judias tinham vivido em paz até a chegada dos sionistas na Palestina. “O que houve foi uma limpeza étnica”, escreve Pappe que dá numerosos detalhes inéditos sobre a violência exercida pelo exército judaico, pelo Haganah e por milícias de extrema-direita chamadas Irgoun e Stern.
Depois das guerras na ex-Iugoslávia, a limpeza étnica é crime que o direito internacional define hoje como “crime contra a humanidade”, constata o historiador, para quem a limpeza étnica prossegue na Palestina até hoje. Diante da ameaça demográfica que os palestinos representam aos olhos dos sionistas, o muro e a desocupação de Gaza foram pensados como medidas para garantir que o número de palestinos no território de Israel vai permanecer limitado.

Palestinos: a Cruz Vermelha sai de sua neutralidade

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR em francês) divulgou um comunicado (ver no site : www.cicr.org ) em que revela que foram encontradas quatro crianças com vida numa casa bombardeada pelos israelenses no bairro de Zeitoun, em Gaza. As crianças sobreviveram quatro dias ao lado de mães mortas e estavam tão fracas que não podiam se levantar pois permaneceram na casa desde o bombardeio no dia 3 de janeiro. O CICR e a Crescente Vermelho palestino somente obtiveram permissão das forças armadas israelenses para prestar socorro no dia 7 de janeiro. Na mesma casa, foram encontrados mais 12 pessoas mortas.
Em outro local, soldados israelenses proibiram que Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho permanecessem numa outra casa para socorrer 15 sobreviventes, mas as equipes de socorro se recusaram a abandonar os feridos e os três mortos encontrados na casa. Além de não prestar socorro aos civis feridos, os militares israelenses tentam impedir que eles sejam socorridos. “Esse incidente é chocante”, declarou Pierre Wettach, chefe da delegação da Cruz Vermelha para Israel e territórios palestinos ocupados. “Os militares israelenses deviam estar a par da situação, mas não socorreram os feridos e nem deixaram que a Cruz Vermelha ou o Crescente Vermelho pudessem prestar ajuda”.
Em outros casos, as autoridades israelenses não confirmaram ao CICR a autorização solicitada para agir. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha acha que nesses casos o exército israelense não respeitou sua obrigação de prestar socorro aos feridos e evacuá-los, como prevê o direito internacional humanitário. O CICR protestou contra a demora para a permissão da entrada dos serviços de socorro.

2 comentários:

Valéria Martins disse...

Querida Leneide, bem, como ex-mulher de judeu e mãe de uma "pequena judia intelectual" como minha filha, que fez bat-mitzvá em setembro de 2008, fico sem jeito de comentar. Acho meio barra afirmar que os judeus fizeram "limpeza étnica", tendo sido, eles mesmos, vítimas desse crime hediondo. Mas reconheço que estão muito mal na fita, ainda mais por não deixarem a imprensa entrar. Assim, fica só a versão dos outros, no papel de vítimas totais. Mas toda moeda tem dois lados e, infelizmente, essa situação é tão antiga e complicada que não há espaço para a esperança de paz... Pelo menos por enquanto. Beijão!

Carlinhos Medeiros disse...

Sem dúvida que a intenção, muito além de desestruturar o Hamas, é fazer uma limpeza étnica.
Parabéns!