terça-feira, 14 de abril de 2009

O dia da saia

Uma professora de francês numa classe da banlieue parisiense tenta dar sua aula sobre Molière. Ao descobrir um revólver que cai de uma mochila, ela entra num crescendo de exasperação até tomar a classe como refém e, finalmente, conseguir a atenção necessária para tratar de Molière. Forças especiais da polícia entram em ação e o filme La journée de la jupe se transforma num thriller surpreendente. A história poderia ter acontecido em qualquer liceu da banlieue parisiense, onde cenas de violência e incivilidade acontecem com certa frequência e professores trabalham à beira de um ataque de nervos, como se vê em reportagens na imprensa escrita e na televisão.
Entre as exigências da professora para libertar a classe está a instituição do “dia da saia”, um dia no ano em que as meninas possam se vestir de saia nas escolas sem serem tratadas de “putas”. Parece bizarro para quem não vive a realidade da banlieue, onde vestir saia para ir à escola (isto é, mostrar as pernas) é tido como um exibicionismo de moças de vida fácil, na opinião de rapazes de cultura muçulmana e mentalidade machista.
La journée de la jupe, o filme que marca a volta de Isabelle Adjani ao cinema, foi lançado em avant-première no canal franco-alemão Arte, dia 20 de março. Mais de dois milhões de telespectadores assistiram ao filme sem intervalo comercial. Foi um dos melhores índices de audiência da história do canal.
Não é a primeira vez que um filme passa na TV francesa antes de ser lançado no cinema. Sarabande, de Bergman, também pôde ser visto no mesmo canal antes de ir para as salas. Seria uma boa estratégia? Essa polêmica alimentou o lançamento do filme de Jean-Paul Lilienfeld.
Adjani está magnífica num papel que é um presente para uma atriz exigente. Depois de La journée de la jupe, o filme de Laurent Cantet Entre les murs, palma de ouro em Cannes no ano passado, volta como uma lembrança de um filme simpático, mas meio arrastado e quase edulcorado.

Patrões sequestrados

A última moda pós-crise na França é o sequestro de patrões. Um ou dois diretores já são suficientes, na falta do PDG (président-directeur-général). Essa prática vem acontecendo com frequência nos últimos dias. Empregados à beira do desemprego ou já demitidos mantêm o diretor em uma sala trancado por muitas horas ou mesmo alguns dias, cercado por assalariados enfurecidos, como garantia de que a empresa vai negociar melhores condições em caso de despedidas em massa.
O mais interessante é que a maioria dos franceses não desaprova o sequestro de patrões, apesar de ser uma forma não muito ortodoxa de negociar. Obviamente, Sarkozy condenou categoricamente essa prática, proibida por lei. Mas, com a consciência pesada por deverem aos trabalhadores promessas não cumpridas, além da eterna mais-valia conhecida de todos, nenhum dos patrões deu queixa formal na Justiça.

Favelas ou moradias sociais

O problema das favelas no Rio (e no Brasil em geral) é muito complexo. É obvio que a inação é a pior coisa pois a falta de moradias populares leva às construções em qualquer terreno vazio e em poucos dias surge uma favela. Ordenar a urbanização e construir casas populares em diferentes bairros não é a mesma coisa que guetoizar os pobres. Todos os municípios deveriam ter 20% de casas populares construídas pelo governo, como estipula a lei francesa. Em Neuilly, o município mais rico da França, a oeste de Paris, onde Sarkozy foi prefeito, ele preferia pagar a multa prevista pela lei, a construir os 20% de logiments sociaux, como são chamadas os apartamentos financiados pelo poder público, para serem vendidos a preços acessíveis às classes mais desfavorecidas. Hoje, na França, um sexto das residências principais é um logiment social, visto como o direito do cidadão de morar decentemente.
Sarkozy, como muitos outros prefeitos de direita, nunca cumpriu a lei e seu município era frequentemente sancionado. De pobres, ele sempre quis distância e seus vizinhos de Neuilly preferem que eles fiquem nas banlieues, nos enormes prédios horizontais (chamados barres) construídos na década de 60 e 70, que deram origem a verdadeiros guetos de pobreza e violência, ideal para traficantes de drogas fazerem seus negócios.

60 anos de celebridades


Paris Match completou 60 anos e festejou com um belo número especial, cuja madrinha é "a noivinha" (la petite fiancée) da revista, Brigitte Bardot, hoje uma senhora de 75 anos, racista e reacionária, que inaugurou, em 1951, aos 16 anos, as 38 capas que lhe foram dedicadas. Ela era uma ilustre desconhecida e sua foto ilustrava uma matéria sobre um método de eterna juventude. Depois, aos 18 anos, ela conheceu um certo Roger Vadim, de 24 anos, que para casar-se com a filha de Monsieur Bardot teve que provar que tinha um salário. Vadim arranjou um emprego de repórter da revista, que se tornou a segunda residência de Brigitte. Fotógrafos e jornalistas a chamavam de Bri.
A figurinha fácil da redação se tornou um símbolo sexual mundial. Hoje, a bengala a ajuda a caminhar mas ela prefere não ser fotografada ao receber, em Saint Tropez, o jornalista Christian Brincourt. O método da "eterna juventude" não devia ser tão eficaz assim.
Falar dos 60 anos de Paris Match é falar de people, como os franceses chamam as celebridades. Simplesmente porque elas são o principal atrativo da revista, mesmo que nela possam ser lidas (e sobretudo vistas) boas reportagens. Match baseia seu sucesso no pressuposto de que o tema das reportagens tem que ser traduzido em grandes e belas fotos.
A revista semanal francesa que já foi apontada, na década de 60, pelo proprietário da americana Life, Henry Luce, como "a melhor do mundo", sempre privilegiou as imagens. "Não me venham falar de uma grande matéria sem imagens. Se você não tem fotos de seu maravilhoso texto, nem me proponha" costumam responder aos jornalistas novatos os chefes de redação da revista.
Match abre amplos espaços às reportagens com fotos exclusivas de grandes fotógrafos, mas dedica parte de seu conteúdo (e sobretudo suas capas) às celebridades da França e do mundo. Por isso, freqüentemente a revista é levada aos tribunais por celebridades que alegam "invasão de privacidade" e pedem indenizações. O último processo foi ganho por Ségolène Royal, fotografada na Espanha com seu novo namorado e exibida numa capa de Match este ano.
A família Grimaldi, que reina sobre o principado de Mônaco, é outra "cliente" assídua de Paris Match. Foram tantas reportagens e tantos processos feitos pelos filhos de Grace Kelly que a revista perdeu a conta.

Um comentário:

Ko & theonetoo disse...

não é um revolver, é uma arma automática. Um revolver é bastante diferente.