Zahi Hawas, secretário-geral do Conselho das antiguidades egipcias, conseguiu uma vitória e tanto: a França vai devolver cinco fragmentos faraônicos conservados no Louvre e reclamados pelo Cairo. Essas pinturas murais foram compradas há poucos anos pelo museu francês em leilões parisienses mas foram comprovadamente roubadas há mais de 30 anos de um túmulo da 18a dinastia, em Luxor, no Egito. Os fragmentos conseguiram sair do país graças a documentos falsos.
Hawas, que faz parte da lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita pelo Time Magazine, lançou uma campanha para levar de volta ao Egito todas as obras de peso atualmente em museus estrangeiros e saídas ilegalmente do país, como o busto de Nefertiti, exposta em Berlim como a peça mais importante do Neues Museum, que ganhou este mês uma nova sede, projeto do arquiteto britânico David Chipperfield.
Além de Nefertiti, o Cairo quer ver de volta a pedra de Roseta conservada no British Museum e outros tesouros guardados no Louvre.
Para conseguir o repatriamento das cinco peças do Louvre, Zahi Hawas ameaçou suspender as pesquisas arqueológicas em associação com o museu parisiense no sítio de Saqqara. Quanto a Nefertiti, os alemães alegam que sua cabeça saiu legalmente, no século XIX, fruto de um contrato assinado entre o alemão Henri James Simon com o Estado egípcio autorizando as escavações arqueológicas e o repatriamento dos objetos encontrados.
Affaire à suivre, como dizem os franceses.
Foto de Leneide Duarte-Plon
Guerrilha urbana
A violência no Rio continua fazendo estragos para o turismo.
As imagens que os jornais de televisão passam aqui na França é de uma cidade em guerra. Aliás era de guerra que falava o título da primeira página do Le Monde que circulou segunda (datado de terça, 20): “A Rio de Janeiro, scènes de guerre entre policiers et trafiquants”. Na página interna o título:“Cenas de guerrilha urbana nas favelas do Rio de Janeiro”. A matéria do correspondente do Le Monde, Jean-Pierre Langellier termina informando que o governador do Rio lançou uma ofensiva sem precedentes contra o crime organizado, em 2007, que resultou na inegável “pacificação” (as aspas são do jornal) de quatro favelas ocupadas permanentemente pela polícia. “Quatro favelas entre as 1020 da cidade”, conclui o jornalista fechando sua matéria.
Langellier não precisa acrescentar nenhum comentário.
A tarefa de “pacificação” é um trabalho de Hércules.
Direito à vida
Outra guerra , a de Gaza, marcou tragicamente a vida de Ezzedine Aboulaïch, o médico palestino diplomado de Harvard que trabalhava num hospital israelense de Tel Aviv e perdeu três filhas e uma sobrinha, todas adolescentes, durante os bombardeios israelenses. A explosão de dor do médico na TV israelense ao ter notícia da morte das filhas na tragédia de Gaza despertou muitas consciências em Israel.
Ezzedina Aboulaïch veio a Paris lançar sua Fundação para a educação das meninas e mulheres palestinas. Seu perfil na última página do Libération continha um alerta aos cidadãos de Israel: “Eles deveriam se perguntar por que os palestinos são hostis aos israelenses. Mas eles não querem ultrapassar o medo. Eu digo uma única coisa aos israelenses : vocês vivem num estado independente, têm uma vida livre e confortável. Os palestinos só querem poder ter o mesmo. Defender os direitos dos palestinos é defender o direito de vocês próprios à vida e à felicidade”.
Os judeus fanáticos que estão expulsando os moradores palestinos de Jerusalém-Leste e os colonos que constroem novas colônias na Cisjordânia sob proteção do governo israelense estão interessados no direito dos palestinos à vida e à felicidade?
Nobel da Paz
O prêmio Nobel da Paz atribuído a Barack Obama suscitou reações extremas. Os entusiasmados aplaudiram. Os críticos acharam prematuro premiar promessas e intenções. Os jornais listaram todos os americanos que já receberam o Nobel da paz, de 1906 até hoje.
Quando vejo que em outubro de 1973 o Nobel da Paz foi atribuído a Henry Kissinger, diplomata e secretário de Estado americano, tenho vontade de rir. Nobel da paz, o homem que manipulara habilmente, naquele mesmo ano, as peças do jogo político, juntamente com o presidente Nixon, para que Pinochet e seus asseclas destituíssem o presidente Allende com um banho de sangue no Chile, inaugurando a ditadura que todos conhecemos...
Obviamente, o Nobel da paz foi atribuído a Kissinger por outros motivos. Foram seus “esforços pela paz no Oriente Médio” que lhe valeram o prêmio. A paz no Oriente Médio entre palestinos e israelenses não chegou até hoje, mas isso é uma outra historia. A ironia é que o Nobel da paz de Kissinger veio penas um mês depois do golpe e da morte de Allende.
Mas, somente alguns anos depois, a participação da dupla Nixon-Kissinger no golpe chileno, através da CIA, foi revelada e provada.
Lady Di inspira livro de ex-presidente da França
colaboração para a Folha de S.Paulo, publicada em 3 de outubro de 2009
LENEIDE DUARTE-PLON
Ele descende da aristocracia, tem um castelo e foi presidente da República. Foi eleito para a Academia Francesa em 2003 e presidiu a comissão que elaborou o texto da Constituição Europeia. Esse pedigree deveria lhe bastar aos 83 anos. Mas não.
Valéry Giscard d'Estaing, um especialista da obra de Guy de Maupassant, quer se afirmar como romancista.
Ele lançou o romance "La Princesse et le Président" (a princesa e o presidente, pela editora XO-de Fallois), no qual uma princesa britânica, Patricia ou Lady Pat, se apaixona por um presidente francês, Jacques-Henri Lambertye, viúvo e pai de dois filhos.
A princesa e o presidente se conhecem no Palácio de Buckingham, no jantar de encerramento de uma cúpula do G-7. Os encontros furtivos se sucedem nos palácios da República francesa como Rambouillet e Soucy, que Giscard d'Estaing frequentou de 1974 a 1981 como presidente, ou no palácio de Kensington.
No livro, Lambertye (que rima com Valéry) é presidente no meio da década de 80, quando, na realidade, Mitterrand governou o país em dois mandatos (de 1981 a 1995).
No romance, Patricia, princesa de Cardiff, conta ao presidente Lambertye: "Dez dias antes do meu casamento, meu futuro marido veio me dizer que tinha uma amante de quem não tinha intenção de se separar depois de casado". A história do romance segue em detalhes a verdadeira história de Lady Di.
Quem revelou com exclusividade o conteúdo explosivo do livro foi o jornal "Le Figaro" de 21 de setembro, que publicou trechos da obra.
Jornalistas franceses e ingleses começaram a especular sobre o possível romance de Giscard e Lady Di. As fotos publicadas nos jornais e na capa de "Paris Match" desta semana são de 1994, numa festa de gala promovida por Anne-Aymone Giscard d'Estaing. Diana era uma jovem princesa infeliz de 33 anos; Giscard, um ex-presidente de 65 anos.
Giscard teria sido um dos inúmeros namorados da princesa Diana? O novo livro do presidente seria um "roman à clef" no qual a cronologia foi modificada para embaralhar as cartas e narrar uma história real? Pouco provável.
Assediado pela imprensa francesa, o autor garantiu que o livro é uma ficção, mas a princesa Patricia é um duplo de Diana, a quem teria feito a promessa de transformá-la em personagem de um romance. A epígrafe do livro é "Promessa cumprida".
A imprensa britânica reagiu no dia seguinte à publicação da matéria do "Figaro". Os ingleses ressaltaram que os presidentes franceses têm casos fora do casamento e que os franceses aceitam sem problemas essas aventuras amorosas.
"Um novo personagem junta-se ao elenco dos que garantem ter tido um papel na vida amorosa de Diana", escreveu o "Times". Para o jornal, Giscard quer mesmo é ofuscar o livro de memórias que Jacques Chirac, seu inimigo, lança neste ano.
Para o "Daily Mail", o romance do presidente não passa de "produto da imaginação de um francês". O "Guardian" se pergunta se o livro não é apenas resultado "da imaginação literária de um velho senhor". Nenhum jornal britânico encarou como real a história.
Uma coisa é certa, misturando cenários reais nos quais viveu por sete anos como presidente e construindo o personagem de uma princesa muito próxima de Diana, Giscard d'Estaing se vinga da realidade: o presidente Lambertye foi reeleito - ao contrário de D'Estaing, que perdeu em 1981 para Mitterrand.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Mão de um macaco afagada por mão humana : metáfora de um respeito ideal do homem (espécie predadora) pelas outras espécies. Cobaias de laboratório, atração de zoológico, caça como esporte, de quantos crimes os animais são vítimas?
Foto de Viviana Meireles
Rio-Paris, uma tragédia anunciada
Por que o voo Air France 447 caiu no Atlântico ?
No Journal du Dimanche deste fim de semana duas páginas, com chamada de capa, trataram de uma investigação independente, feita por dois pilotos experientes que dizem, em suma: “O acidente Rio-Paris podia ter sido evitado”.
Para a companhia e para o fabricante Airbus, a solução para o enigma seriam as caixas pretas. Para os dois pilotos, Gérard Arnoux e Henri Marnet-Cornus, que fizeram uma investigação paralela à oficial, não há dúvida que as responsáveis pelo acidente são as sondas Pitot. Mas transformando o acidente em erro humano, a Air France, a Airbus e os órgãos franceses responsáveis pela investigação encerram a ação penal. Segundo os pilotos, o Bureau d’enquêtes et d’analyses (BEA) minimiza o papel das sondas Pitot porque deveria tê-las mudado desde que o órgão similar alemão deu o sinal de alerta, em 1999. Além disso, eles julgam que a política de segurança da Air France não está à altura de sua posição de primeiro transportador aéreo do mundo.
Business, business, business...
Jospin de bicicleta, madame Chirac e seu cãozinho...
Ao cruzar o boulevard Raspail na direção da feira orgânica (marché bio) neste domingo, atravesso o sinal com meu marido e quando olho para a direita vejo um ciclista parado no sinal. Era Lionel Jospin. Reparo que ele tem a sua própria bicicleta e não usa o Vélib, as bicicletas de aluguel de Paris. Jospin desce o boulevard Raspail e nos ultrapassa. Eu já sabia que o ex-primeiro-ministro socialista mora por perto. Apesar de ter direito a guardas na porta do seu prédio, como todo ex-primeiro-ministro e ex-presidente, ele passeia por Paris de bicicleta, completamente desacompanhado.
Esse encontro inesperado numa manhã de outono me fez pensar em outros personagens famosos que cruzei em Paris ou em outras cidades recentemente. Há sempre uma sensação de surpresa ao depararmos com um rosto conhecido, como se tivesse saído das páginas de uma revista ou de um filme. Resolvi fazer um inventário: Emir Kusturica passou por mim perto do Hôtel de Ville, num táxi, com um dedo dentro do nariz. Ele estava em Paris para apresentar uma ópera que dirigia. Isabelle Adjani com um lindo chapéu vinha em minha direção, numa calçada do 8e arrondissement, em Paris, conversando com uma senhora idosa. Só a reconheci quando cruzei com seus olhas azuis. Jean-Luc Godard era um senhor meio careca que caminhava na calçada em frente ao Café aux Deux Magots, em Saint-Germain-des-Prés. Passei a meio metro dele e demorei a me dar conta que por mim passava o gênio da “nouvelle vague”.
Michel Platini almoçava numa mesa ao lado da nossa num restaurante de La Ciotat, cidade mediterrânea, onde os irmãos Lumière filmaram a chegada do trem na gare, inaugurando o cinema mundial. Magic Johnson foi perseguido por um fotógrafo que clicava sem parar em Portofino, um lugar que costuma ver desfilar a fina flor do jet set internacional. Catherine Deneuve ajeitava os cabelos de um adolescente perto da igreja Saint Sulpice, não longe de onde ela mora, soube depois. Madame Chirac, Bernadette para os íntimos, passeava seu cãozinho de estimação na Rue de Rennes, sozinha, às 10 horas da noite de um domingo. Seguindo pela Rue Bonaparte até o Sena ela chega em casa, um apartamento onde o ex-presidente se instalou depois de deixar o Palácio do Eliseu. O apartamento onde o casal mora em Paris pertence à família do ex-primeiro-ministro do Líbano, Rafic Hariri, assassinado em 2005, num atentado em Beirute. Chirac não tem casa em Paris, segundo a imprensa.
Um dia de verão na rue Champollion, cruzei com um homem numa bicicleta, seguido de uma moça também de bicicleta. Era Raí, o nosso apolo dos gramados, que morou em Paris, jogou no Paris Saint-Germain (PSG), e deve aparecer de vez em quando para matar as saudades. Surpresa, disse “Oi, Raí”. Ele olhou e sorriu.
Saindo do Grand Palais com minha filha Viviana, depois de ver a exposição “Picasso et les maîtres”, no ano passado, ela me chamou a atenção para um senhor que chegava acompanhado de um casal. Era o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tomei um alka-seltzer ao chegar em casa.
Millésime 2009 excepcional
Os vinicultores franceses lançam um apelo para alertar sobre os efeitos nocivos do aquecimento global sobre a produção de vinho. Os grandes vinhos correm grande risco. Segundo o Greenpeace, se nada for feito para limitar as emissões de CO2, a temperatura na França pode se elevar 6 graus até o fim do século. Isso vai modificar o solo e alterar a produção de vinhos mais nobres da região de Bordeaux, entre outras, pois os vinhedos se tornam vulneráveis com o aumento das temperaturas e as mais frequentes tempestades de granizo. Em dezembro, em Copenhague, Greenpeace quer alertar os chefes de Estado e de governo para os efeitos devastadores da mudança climática. Somente uma redução das emissões de CO2 pelos países industrializados de pelo menos 40% de hoje até 2020 e uma ajuda financeira e técnica aos países em desenvolvimento de 110 bilhões de euros poderão evitar mudanças climáticas irreversíveis e sem precedentes.
Mas antes que o pior aconteça, comemora-se um efeito benéfico do pequeno aumento da temperatura. Este ano , com os dias mais ensolarados, a colheita de uvas foi antecipada pois o mês de setembro foi o mais quente desde 1950. Para os vinhos, espera-se um millésime excepcional com uma qualidade comparável à de 2005 ou 2000.
Cuidado com os SMS
O SMS é o pior inimigo dos casais...
Uma decisão de junho deste ano da Justiça francesa incluiu o SMS como prova material para fins de divórcio. Um quarto dos franceses confessa espionar o telefone celular do cônjuge; 50% dos ingleses dizem olhar os SMS do cônjuge, um terço dos suecos e na Itália, nove entre dez relações extraconjugais são descobertas graças aos celulares.
Woman
Between my head and the sky. Este é o título do novo disco de Yoko Ono, apresentado ao vivo no telejornal das 13 horas. Ela deu uma entrevista de cinco minutos e depois cantou acompanhada ao piano por ... Sean Lennon. Um grande prazer neste começo de tarde. Há quem deteste Yoko. Acho que uma mulher que foi amada por John Lennon e que mereceu a letra que ele escreveu para a canção Woman só pode ser uma pessoa interessante.
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