O papa eleito em março vai levar
a Igreja católica ao século XXI ? A instituição, que se defronta na Europa
com uma espetacular crise de vocações e igrejas cada vez mais vazias, precisa
fazer novo aggiornamento, como o que fez
João XXIII no Concílio Vaticano II ?
O
novo papa vai autorizar, enfim, o casamento dos padres, a ordenação de
mulheres, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, os preservativos para
combater a Aids ?
Por
enquanto essas mudanças parecem sonho de uma noite de primavera romana, quando um
cardeal sairá papa do conclave que se anuncia.
As
perguntas se multiplicam na nossa cabeça. Com a renúncia, o papa Bento XVI deu
uma lição de humanidade e desprendimento ou, ao contrário, demonstrou orgulho e
soberba ao decidir que não iria dar como espetáculo ao mundo seu declínio
físico ?
Um religioso compra roupas liturgicas na famosa loja Gammareli, em Roma. No alto, fotos dos papas, todos clientes da tradicional loja. Foto Leneide Duarte-Plon
Quando
vi umas cenas de arquivo em que o cardeal Ratzinger dá a hóstia ao papa João
Paulo II, já doente, limitado em seus movimentos, totalmente encurvado pela
doença, achei que no convívio próximo com aquele homem fragilizado, o cardeal alemão
decidiu que, naquela situação, renunciaria.
Ao
ver Bento XVI envelhecido e fraco, não é difícil acreditar que ele não tem mais
saúde para dirigir o Vaticano, não apenas um Estado mas também uma instituição
religiosa multinacional espalhada pelo mundo inteiro. Não é difícil crer que o papa decidiu retirar-se ao silêncio,
longe dos olhares curiosos para dar os últimos passos em direção à morte longe
da multidão de voyeurs. Parece uma decisão digna e respeitável. Leonardo Boff,
que conheceu bem o cardeal Ratzinger, diz que ele é um homem tímido.
Há,
porém, quem aponte causas políticas na renúncia de Bento XVI, vencido pelas
lutas de poder num Vaticano governado por cardeais e arcebispos maquiavélicos,
atores de escândalos sexuais e financeiros, que tecem nos bastidores tramas nada
edificantes.
O resultado dos escândalos são terríveis
para a Igreja. Depois da revelação dos casos de pedofilia na
igreja alemã, houve uma evasão de fiéis sem precedentes : 180 mil
católicos se desligaram da instituição.
Hoje,
o filme de Nanni Moretti, Habemus Papam
parece bem menos improvável do que quando foi lançado. Um papa que entra em
pânico ao ser eleito, esmagado pelo peso da responsabilidade, não é mais uma
ficção totalmente surrealista. Aquele papa era um daqueles que acreditam em
Deus, como diz um amigo meu, ateu e anticlerical que divide os papas entre os
que crêem e os que não crêem em Deus.
Profecias : mais uma
Mais
uma profecia do apocalipse, que pode ser desmentida (ou confirmada) a partir de
março.
A
profecia de São Malaquias, que data de 500 anos, prediz que o sucessor de Bento
XVI será o último papa. Depois
do atual, virá a tribulação sob o governo do papa que se chamará Pedro, o
romano. “A
cidade de sete colinas será destruída e o Juiz supremo julgará seu povo »,
diz a profecia.
Veremos.
Se o novo papa escolher outro
nome, continuamos a esperar novas previsões a serem desmentidas ad infinitum.
Seios na
Notre Dame
Na terça-feira, o grupo de feministas Femen, de origem ucraniana, que faz
protestos de seios à mostra, invadiu a Catedral Notre Dame, para festejar a abdicação
de Bento XVI, anunciada na véspera.
No mesmo dia, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, condenou a ação: “Reprovo
esse ato que caricatura o belo combate pela igualdade entre homens e mulheres e
choca, inutilmente, muitos católicos ».
Fotos no site :
Dali : 10 mil dólares por um fio de bigode
Um
fio de cabelo do bigode de Dali foi vendido por 10 mil dólares. Quem pagou foi
Yoko Ono. Sem saber que era falso, claro.
Quem
revela agora é a atriz Amandar Lear, que foi musa de Dali.
Segundo
ela, o artista pensava que Yoko era uma feiticeira e temia mau olhado. Por
isso, pediu à amiga que colhesse uma erva com aparência de cabelo, colocasse
num pequeno cofre e entregasse à mulher de John Lennon.
Todo
mundo sabe que o artista catalão gostava de dólares e não tinha nenhum escrúpulo
para encher os bolsos de bilhetes verdes.
Wadjda : um filme sutil
e solar
Na Arábia Saudita não há cinemas.
Por isso, não há produção cinematográfica.
Ora, num país onde as mulheres
não votam, não podem dirigir carro, andar de bicicleta e sequer sair sem a
companhia de um homem (em geral o marido, o pai ou o irmão), o primeiro filme
saudita realizado por uma mulher é simplesmente uma total surpresa. Wadjda é uma revelação, pleno de
inteligência e sutileza. Uma pérola.
A
cineasta se chama Haifaa Al-Mansour, 39 anos, e fez uma pequena obra-prima
sutil e solar. A crítica francesa saudou Wadjda
com entudiasmo, assim como o júri de Veneza, que atribuiu à obra o prêmio de
Melhor filme de Arte no Festival de Veneza de 2012.
A
personagem do filme é uma pré-adolescente representada por uma jovem atriz determinada
como seu personagem. A atriz Waad Mohammed vai longe. Com a condição de que
deixe a Arábia Saudita, como a cineasta.
Antes
de Wadjda, Haifaa realizou Femmes sans
ombre um documentário premiado em vários festivais. Filha de um pai
liberal, criada numa família de 12 filhos, Haifaa é casada com um diplomata
americano. Fez sua formação na Austrália, mas realizou seu primeiro longa metragem
na capital saudita, Riad, se protegendo dos olhares dentro de uma pick-up, pois
não seria bem visto uma mulher dirigir uma equipe de homens.
Num
país que não tem uma única sala de cinema, quem quiser ver o filme vai ter que
ir a um país vizinho ou comprar o DVD.
Vida
longa e liberdade para as mulheres sauditas.
Qual o aeroporto mais odiado?
Acertou
quem disse Roissy-Charles de Gaulle. Ele é mais odiado que o de Los Angeles, de
Londres (Heathrow), de Nairobi, no Kenia, ou o de Toncontin, em Honduras.
Motivos
para tanto desamor ? « Falta de sinalização, de informação nos portões
de embarque, organização circular confusa, piorada pelos labirintos e túneis. Os
bares e restaurantes são indignos de Paris e os toaletes são sujos e sem tampa ».
A
revelação feita por CNNGo.com, site de um canal americano dedicado às viagens
leva imediatamente a uma certeza : os votantes nunca devem ter passado
pelo Galeão-Tom Jobim.
David Beckham : suite imperial
Pobre David Beckham !
O jogador inglês está em Paris há
quase um mês para uma temporada no clube parisiense Paris Saint-Germain. A
imprensa revelou que o craque está morando na suite imperial do Hotel Bristol,
um cinco estrelas a poucos metros do Palácio do Eliseu, na rue du Faubourg
Saint-Honoré.
A suite tem 300 m2 e custa
somente 17.500 euros por dia.
A família fica em Londres. Por
uma questão de impostos, domicílio fiscal, segundo explica uma advogada. Mesmo
que ele tenha informado à imprensa que tudo o que ganhar no PSG vai ser doado a
uma associação que se ocupa de crianças carentes.
As
más línguas dizem que o nome da associação, não revelada, é Victoria Beckham.
Hossexualidade : doença
ou pecado capital ?
Temos
um casal de amigos que adotou um menino russo. Boris é lindo e inteligente. Em
pouco tempo, depois de chegar em Paris com quase três anos, já falava e
entendia bem o francês. Agora
« camarada Boris » um perfeito parisiense, bem integrado na escola. Já
não precisamos tentar dizer “Niet” quando queremos afastá-lo de algum perigo. Basta
explicar em francês pois ele já tem o vocabulário das crianças de sua idade.
Acontece
que em dezembro passado a Rússia de Vladimir Poutin aprovou uma lei que proíbe
crianças russas de serem adotadas por americanos. Este ano, a proibição se
estendeu aos casais de gays que vinham de países europeus adotar órfãos russos.
Como a França adotou esta semana a lei do casamento de pessoas do mesmo sexo, a
proibição vai atingir os gays franceses.
No
Rossiiskaia Gazeta, o representante
do Kremlin para os direitos da criança, Pavel Astakhov justificou : « Nossa
Constituição e o código da família dizem que um casamento é a união de um homem
e uma mulher. Nenhuma outra coisa. Ponto ». Citando a convenção da ONU dos
direitos da infância, ele continua : « Não se pode mudar o modelo, a
criança precisa de um pai e de uma mãe ».
Na
semana passada, o país de Putin adotou uma lei de severo controle dos
homossexuais e da expressão da homossexualidade no espaço público. Tudo o que
pode ser considerado « propaganda da homossexualidade » será severamente
reprimido.
A
maioria dos russos consultados numa pesquisa hesita em considerar a homossexualidade uma doença ou um
pecado capital.
No
Irã e em alguns países muçulmanos, os homossexuais são condenados à morte…
Tortura : crime
imprescritível
Os
assassinos do deputado Rubens Paiva estão soltos. Rubens Paiva está até hoje
desaparecido.
Para
quem não leu a entrevista de Marcelo Rubens Paiva no Estado de São Paulo, no dia em que a Comissão da Verdade confirmou
a morte de seu pai sob tortura, desmontando a versão oficial, fantasiosa e
delirante, eis uma das respostas do escritor. A certa altura a repórter diz :
Pela lei da anistia de 1979,
os responsáveis não podem ser punidos.
Marcelo
Rubens Paiva responde: « Eu discordo. Essa é uma lei antidemocrática,
promulgada com o Congresso engessado pelo Pacote de Abril, com senadores
biônicos. Na época, não existia debate democrático, a imprensa estava sob
censura, as passeatas e manifestações pela anistia eram reprimidas brutalmente
pela polícia. A oposição brasileira estava metade morta e metade no exílio, os
partidos de esquerda não podiam existir, os sindicatos não tinham liberdade.
Como é que alguém pode dizer que a lei, promulgada nesse clima, é democrática?
Outro paradoxo dessa história é que o Brasil é signatário da carta
internacional que afirma que a tortura é crime contra a humanidade e, portanto,
imprescritível. Como é que o País, sendo signatário da carta, considera a
tortura prescritível? »
Nenhum comentário:
Postar um comentário