quarta-feira, 15 de outubro de 2008

EXPLOSÃO DE FAVELAS

Se nada for feito na área de urbanização nos países mais pobres, haverá dois bilhões de pessoas vivendo em favelas daqui a trinta anos, segundo relatório da ONU divulgado no dia Internacional do Habitat, comemorado dia 6 de outubro. Hoje já existem 200 milhões de chineses, 160 milhões de indianos e 50 milhões de brasileiros vivendo em favelas. Em números absolutos, o Brasil ocupa o terceiro lugar em população favelada (medalha de bronze) e tem 36,6% de sua população vivendo em casas precárias, construídas em áreas parcial ou completamente insalubres. Consolo para quem precisa de consolo: a Tanzânia, a Etiópia e o Sudão têm uma percentagem da população bem maior morando em favelas: 92,1%, 99,4% e 85,7% respectivamente.

A pobreza urbana e as favelas, decorrentes da migração do campo para as cidades, serão o problema mais importante e politicamente explosivo deste século, segundo uma previsão do Banco Mundial.

FICHAMENTO DE CIDADÃOS FRANCESES

No dia 16 deste mês, os franceses vão fazer um dia nacional de protestos contra o fichamento de cidadãos, o Fichier EDVIGE, criado pelo governo Sarkozy. Um coletivo de cidadãos organiza em todo o país passeatas para dizer “Non à EDVIGE”.

Um atentado às liberdades individuais, o fichamento já provocou protestos e petições contra sua instauração em todo o país. A Comission Nationale de l’Informatique et des Libertés (CNIL) recebeu um relatório de magistrados e vai se manifestar sobre o fichamento, que já teve nova versão que tenta dourar a pílula para fazê-la passar mais facilmente.

O fichário pretende manter dados de todos os cidadãos a partir dos 13 anos “que pretendem exercer ou exerçam mandato político, sindical ou econômico ou que tenham algum papel institucional, econômico, social ou religioso significativo”, conforme o decreto de junho que instituiu o EDVIGE. O governo terá em mãos informações extremamente sensíveis como origens “raciais” ou étnicas, opiniões filosóficas, políticas ou religiosas e filiação a sindicatos.

A França começa a reagir ao Estado dos sonhos do presidente Sarkozy: policialesco e centralizado.

«MON MARI» PRA CÁ, «MON MARI» PRA LÁ

Vou abrir um espaço para um bilhete « people », como os franceses chamam as notícias em torno de celebridades.

Carla Bruni-Sarkozy costuma falar de Nicolas Sarkozy como “mon mari”. Nas entrevistas, jamais ela se refere a ele pelo nome, Nicolas. Deve achar que não fica bem falar do presidente como se fosse um simples namorado. E como ele é o primeiro marido dela (“ele me pediu em casamento, foi o primeiro homem que me fez o pedido”), a posição de “mari” conta muito, aparentemente. Sua biografia de mulher livre, conquistadora e “femme fatale” (Eric Clapton conta no seu livro a fossa quando ela o deixou) ficou para trás. Por outro lado, o novo papel de boa esposa que fala de “mon mari” com respeito e quase reverência soa ridículo para muitos.

Raphael Enthoven, filósofo de formação, tem um programa cultural na Rádio France Culture chamado “Les chemins de la connaissance”, no qual debaterá a obra de Freud durante toda esta semana.

Mas o que isso tem a ver com Carla? Deixemos Freud de lado e falemos do mundo parisiense no qual Enthoven circula. Ele é um personagem conhecido das revistas “people” francesas porque vem a ser o pai de Aurélien, filho de Carla Bruni. Graças a seu envolvimento com a ex-manequim e cantora, Raphaël Enthoven e ela se tornaram personagens de um romance que virou best-seller há quatro anos.

Esse ex-namorado de Carla B. (como o jornal satírico “Canard Enchaîné” trata a primeira dama, autora de um diário fictício engraçadíssimo) era marido de Justine Lévy, filha do filósofo Bernard-Henri Lévy. Para quem não se lembra, Justine foi abandonada por Raphaël quando este conheceu Carla, que era namorada... de seu pai, o editor Jean-Paul Enthoven. Separação dos dois casais, filho e pai deixam de se falar, Justine escreve o romance “Rien de grave” no qual lava a roupa suja (200 mil exemplares vendidos). O livro assassina todos os personagens: o marido, a femme fatale, que ela chama de “Paula” e trata de “mulher Terminator”, bela e perigosa, com o rosto todo refeito em cirurgias plásticas. Justine também conta como se deixou tragar pela depressão, anfetaminas, aborto, entre outras misérias.

Na época do lançamento do livro, Carla Bruni respondeu soberana na revista “Elle”: “A ex-mulher do meu marido (Raphaël) me faz passar por uma mulher que rouba maridos, quando todo mundo sabe que maridos não são roubados. A gente sabe mantê-los ou não”.

Raphaël apenas retrucou: « Justine Lévy tem talento, mas ela é para a literatura o que seu pai é para a filosofia há muito tempo: uma anedota.

SINÉ DE VOLTA

Quando Siné foi despedido de “Charlie Hebdo” pelo diretor do jornal, Philippe Val, sob acusação de anti-semitismo, o humorista e caricaturista mais irreverente da imprensa francesa decidiu que não iria calar a boca.

Sentindo-se injustiçado ao ser demitido de “Charlie Hebdo”, Siné abriu um processo contra Val e fundou um jornal tão irreverente e mal-educado quanto o dono. Como carimbo “Siné Hebdo” exibe um garoto levado fazendo caretas dentro de um círculo duplo onde se lê “Le journal mal élevé” (O jornal mal-educado). O número 1 de “Siné Hebdo” saiu dia 10 de setembro com uma capa em que uma caricatura sua faz um gesto obsceno com a mão que mostra um dedo e diz: “Olha eu de novo!”

E como prova de que os quatro números já publicados incomodam, os computadores da redação do jornal foram roubados no domingo, 5 de outubro. Obviamente, nos computadores estavam os textos do número que sai na quarta-feira, 8. Catherine Sinet, que é diretora de redação do jornal, já tinha denunciado à polícia uma série de ameaças recebidas por telefone de uma organização extremista judaica.

Com a saída do número 4 no dia 1° de outubro, o jornal contabiliza um mês de vida e mantém o nível de interesse dos leitores dispostos a apoiar o trabalho de um grupo de cartunistas e jornalistas revoltados com a acusação a Siné, ao qual se juntaram nomes como Michel Onfray e Michel Warschawski. O primeiro é um professor de filosofia, um iconoclasta de carteirinha, que escreveu, entre outros, um “Tratado de ateologia” e cujos livros e DVDs são best-sellers em toda a França difundindo a filosofia entre o maior número possível de leitores. Para isso, ele fundou uma universidade livre, totalmente gratuita, na cidade de Caen, a poucas horas de Paris.

Warschawski é um intelectual israelense, autor de diversos livros sobre o conflito israelo-palestino e defensor incondicional da causa palestina. No seu primeiro artigo para “Siné Hebdo”, o filho do rabino Warschawski diz que em seu artigo semanal não falará jamais do que se convencionou chamar “processo de paz”. “Siné me pediu uma coluna na qual falarei das realidades políticas, sociais e culturais dessa região do planeta na qual vivo, milito e escrevo. Ora, o “processo de paz” é exatamente o contrário de uma realidade: é vento, virtual, alguns diriam que ele é pura propaganda política”, escreve o escritor.

Há três meses, ao ser acusado de anti-semitismo, Siné reagiu energicamente: "Quanto ao meu suposto anti-semitismo, nunca fui anti-semita, não sou anti-semita, nunca serei anti-semita. Condeno radicalmente os que são anti-semitas, mas não tenho nenhum apreço pelos que, judeus ou não, jogam irresponsavelmente essa palavra abjeta na cara de seus adversários para desconsiderá-los, sabendo que esta acusação é o insulto supremo depois do Holocausto (Shoah). Isso está se tornando insuportável. No que me diz respeito, tenho tanta antipatia por todos os que, judeus ou não, defendem o regime israelense, quanto pelos que defendiam o apartheid na África do Sul. Há mais de 60 anos luto contra todas as formas de racismo e se tivesse tido idade de esconder judeus durante a ocupação o teria feito sem hesitar, como o fiz pelos argelinos durante a guerra da Argélia. Estou do lado de todos os oprimidos!"

O jornal de Siné tem o mesmo formato do outro do qual ele foi expulso. E se continuar a vender e despertar o interesse dos leitores como o primeiro número, vai longe. No editorial do número 2, o cartunista informa que o número 1 foi um sucesso de vendas (151 mil exemplares) e que o fato de terem conseguido fundar o jornal com tão pouco dinheiro era um milagre que deveria continuar a ser apoiado pelos leitores.

No primeiro número, o cartunista se se congratulou com os leitores pela criação do jornal “mal-educado, impertinente, libertário, em cores e barato” (dois euros). Para continuar a viver sem nenhum anúncio publicitário como outro tradicional e respeitado jornal satírico “Le Canard Enchaîné”, “Siné Hebdo” só conta com o apoio de seus leitores. Siné escreveu um pequeno texto pedindo doações para a associação “Les mal-élevés”:

“Não tenhamos ilusão. Temos de contar com o silêncio da mídia. Muitas pessoas nos detestam e vão fazer tudo para nos sabotar”. O texto tem um título provocante: “Pare de beber (provisoriamente) e de fumar (se for possível) e envie o dinheiro economizado pra gente”.

Pedido de doações mais irreverente, impossível.

3 comentários:

Unknown disse...

Interesante blog !!!
Besos de Paz desde España !!!
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Patrícia Morais disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Thanks :)
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