Claude Lévi -Strauss festeja 100 anos nesta sexta-feira, 28 de novembro.
Além de exibir documentários e algumas das três mil fotos feitas pelo próprio antropólogo entre os índios do Brasil, o Musée du Quai Branly, o novo museu de Paris dedicado às artes primordiais ou “arts premiers” (antes chamadas de “arts primitifs”) programou uma homenagem original ao professor Lévi-Strauss: durante todo o dia, cem “personalidades do mundo da arte e da ciência” vão ler trechos de sua obra. Entre os cem, estarão o “tout Paris” intelectual, que inclui Julia Kisteva, Bernard-Henri Lévi, Jacques-Alain Miller, Elisabeth Roudinesco, além da antropóloga brasileira Manuela Carneiro da Cunha, que assina um texto sobre “Tristes Trópicos” no caderno especial do “Le Monde” dedicado ao mestre.
O estruturalismo, o pensamento selvagem, o cru e o cozido, os tristes trópicos. Mesmo quem não é especialista do pensamento de Claude Lévi-Strauss é tomado de emoção por vê-lo completar um século.
A Folha de São Paulo me pediu uma entrevista com Lévi-Strauss há poucos meses. A assistente do mestre se desculpou. O professor não dá mais entrevistas.
Na quinta-feira, véspera do aniversário, o canal franco-alemão “Arte” dedicou o dia inteiro à vida e à obra do professor que publicou “Tristes trópicos”, em 1955, com digressões sombrias a respeito das perspectivas da civilização mundial, marcada, segundo ele, pelo inchaço demográfico e pela homogeneização cultural.
A qualidade literária do livro é tal que naquele ano a Academia Goncourt publicou um comunicado lamentando não se tratar de um romance, pois teria sido ele o premiado. O antropólogo ficou sem esse prêmio, mas outros não lhe faltaram, inclusive a eleição para a Academia Francesa. Lévi-Strauss terminou sua vida ativa como professor no Collège de France, mas muito jovem lecionara na Universidade de São Paulo, que viu nascer.
O que fica da vida e da obra de Lévi-Strauss é um olhar novo sobre as chamadas sociedades primitivas. Suas fotos e os objetos de sua coleção estão reunidos no Musée du Quai Branly. Seu último livro, “Saudades do Brasil”, reúne as fotos do antropólogo que diz desconfiar da fotografia porque ela lhe dá “a sensação de um vazio, de uma falta, pois há sempre algo que a objetiva não consegue captar”.
Lévi-Strauss disse uma vez que o mundo que ele conheceu e amou tinha apenas dois bilhões e meio de indivíduos. Segundo ele, a perspectiva de sermos em breve nove bilhões coloca a espécie humana “numa espécie de regime de envenenamento interno”.
Na Fundação Cartier, os Yanomami brasileiros dizem num filme extraordinário de Raymond Depardon e Claudine Nougaret sobre o desenraizamento de populações no mundo: “Quando os brancos chegarem com as grandes máquinas nessa floresta, eles sujarão as águas. E morrerão todos como nós. Não pensem que somente os Yanomami vão morrer”.
CONTRA O RACISMO
Do historiador Tzevetan Todorov leio um texto que nos remete à antropologia e a Lévi-Strauss. Um recado sucinto e definitivo aos que, como Bush, Berlusconi e outros “pensadores”, tentam hierarquizar os seres humanos por raça ou pertencimento a tribos ou culturas:
“Pela maneira como se percebe e se acolhe os outros, os diferentes, pode-se medir nosso grau de barbárie ou de civilização... Ser civilizado significa ter a possibilidade de reconhecer plenamente a humanidade dos outros, apesar dos rostos e hábitos diferentes dos seus; saber se colocar no lugar do outro e saber se olhar de fora de si mesmo”.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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Um comentário:
Leneide, aqui no Brasil poucos entenderam "Tristes Trópicos". Seríamos tristes, nós, da civilização do sol? Pois é, acho que teremos de deixar que quebre a máquina inteira de aproveitamento das riquezas naturais para que a gente se volte para as coisas menores, para o afeto, para a sobrevivência com pouco, para o lixo zero.
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