terça-feira, 10 de novembro de 2009

A bossa nova, Henri Salvador e a grande lorota

Na exposição extraordinária que a Cité de la Musique consagra ao genial jazzman Miles Davis, descobri um pequeno livro chamado “Jazz Quiz”, de Jean-Marie Villemot e Yannis Perrin. O subtítulo diz: “300 questões para (re)descobrir o jazz divertindo-se”.
Ao abrir o capítulo 14 chamado Un air de bossa encontro a pergunta 158: “Uma música de filme composta por um músico francês contribuiu decisivamente ao nascimento da bossa nova. Quem é o autor? Michel Legrand, Joseph Kosma, Henri Salvador. Nas respostas vemos que a “certa” é a C, Henri Salvador. E o comentário diz: “Essa doce e sensual música brasileira (a bossa nova) deve muito a Salvador. Sua canção “Dans mon île” foi descoberta pelos músicos brasileiros em 1958 num filme italiano “Noites da Europa”. Nessa ocasião, Antonio Carlos Jobim exclama: “É isso que se deve fazer, diminuir o tempo do samba e colocar belas melodias”. A bossa foi popularizada em 1958 pelo disco “Chega de Saudade” composta por Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes e interpretada por João Gilberto".
Isso poderia parecer desinformação dos autores do livro se não representasse uma “informação” repetida exaustivamente na televisão e nos jornais franceses. A cada vez que apresentavam Henri Salvador (morto no ano passado) na TV repetia-se a "informação" de que ele inventou a bossa nova. Quando os jornais franceses falam da Bossa Nova vem a "informação" (muitas vezes no condicional) de que Salvador teria inventado a bossa nova com a canção "Dans mon île".... Inúmeras vezes ouvi Henri Salvador ser apresentado como o verdadeiro pai da bossa nova. Num programa especial sobre a Canção Francesa, ele chegou a cantar em francês “Eu sei que vou te amar”, que não é propriamente uma canção da bossa nova, sem informar o nome dos compositores. Nem ele nem os apresentadores do programa disseram de quem era a canção que foi ouvida como mais uma canção francesa. Nesse dia, decidi entrevistar o compositor. A Folha de São Paulo publicou minha entrevista com Salvador em que o grande mitômano, gentil e simpático como um bom malandro, disse que não gostava que lhe atribuíssem a invenção da bossa nova. Como se ele não tivesse nada a ver com isso. Mas para ele chegar a esse ponto, tive que provocá-lo com perguntas que o levaram a dizer o que disse.
A seguir a íntegra da entrevista da Folha para quem gosta de bossa nova e para quem aprecia a verdade dos fatos:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u69379.shtml

Lula, secretário-geral da ONU?

A ideia é do presidente Sarkozy.
Quem garante é um jornalista francês que acrescenta que como a França vai presidir o G20 em 2011, Sarkozy gostaria de ver Lula como secretário-geral da ONU, um aliado para a construção do mundo novo que deve emergir dessa crise. Sarkozy acha a ideia formidável. Principalmente porque é dele.
Seria por amor a Lula e às ideias ele representa ou não passa de cálculo para vender seu lote de Rafale ao Brasil?


Literatura na TV

Outro dia, alguém contava num documentàrio a história do início da televisão na França e comentava: ao criar a primeira grade de programação da ORTF (Office de Radio et Télévision Française) os responsáveis pensaram logicamente em criar um telejornal, um programa de divertimento, um programa político de entrevistas e ... um programa literário.
Os livros, a literatura, os intelectuais não poderiam estar ausentes da programação da televisão francesa. Não poderia ser diferente uma vez que a França é um país da cultura, dos livros, das ideias e do debate político, encarnado no século XX por Sartre, intelectual que foi ícone da geração de franceses do pós-guerra.
Infelizmente, a televisão francesa também se globalizou, na pior direção, aderiu ao programas do tipo big brother (Loft e outros) e os programas de cultura são cada vez menos numerosos. Bernard Pivot, que fez durante anos o melhor programa literário da TV francesa (Apostrophes e Bouillon de culture) parou. Os cineclubes para cinéfilos na televisão são coisa do passado e apenas alguns programas perdidos no meio da geleia geral garantem momentos de inteligência e informação. Felizmente, o canal franco-alemão Arte é ainda uma ilha de inteligência e bom gosto na programação audiovisual.

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