terça-feira, 13 de julho de 2010

Bronca de BB



A minha forma de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais engraçada do mundo. George Bernard Shaw



Texto de Brigitte Bardot vociferando contra a política de Nicolas Sarkozy só pode ser publicado na rubrica “Humor”.

Foi isso que pensaram os jornalistas da revista Le Point. A nota divulgada pela ex-atriz criticando o atual presidente francês, de direita como ela, saiu na rubrica “Humour”. Talvez porque BB é casada com um político do Front National, o partido de extrema-direita de Le Pen, perto de quem Sarkozy é um homem de esquerda. Talvez simplesmente porque como ela é considerada tudo menos inteligente, ninguém a leve a sério quando ela resolve tratar de política.

A ex-musa do cinema, que ficou conhecida por suas frases racistas contra os árabes e os imigrantes em geral, resolveu dizer o que pensa do governo Sarkozy, fragilizado por revelações de financiamento ilegal de campanha e eterno suspeito de governar e legislar para isentar os ricos de impostos e facilitar grandes negociatas. Seu ministro do trabalho, Eric Woerth, está no centro de um escândalo ligado à mulher mais rica da França, Liliane Bettencourt, dona da L’Oréal.

Aliás, o site Mediapart, do ex-diretor do Le Monde, Edwy Plenel tem dado um show de jornalismo investigativo provando que um jornal online pode ser tão bom quanto os grandes jornais da imprensa tradicional quando se trata de fazer jornalismo investigativo. Todos os grandes jornais têm sido furados pelas matérias exclusivas de Mediapart no chamado « affaire Bettencourt-Woerth ».

No seu desabafo BB escreveu a Sarkozy : « O senhor e seus ministros tão inúteis quanto covardes beiram a desonestidade e o ridículo e não conseguem e nunca conseguirão satisfazer a população francesa que os elegeu em 2007 acreditando em suas promessas não cumpridas”.

A defensora emérita dos animais aproveita para dizer a Sarko que ele precisa se preocupar seriamente com os animais “tratados na França do século XXI de maneira bárbara, desumana (sic), escandalosa e indigna”.

Tratar animais de forma “desumana” é matar bebês focas a pauladas tingindo de vermelho a neve das geleiras do norte do Canadá ou é entupir os pobres gansos e patos de ração para fabricar o delicioso “foie gras”?

Provavelmente os dois.

Pechincha em Paris


Em Paris, o preço dos imóveis volta a patamares de antes da crise. A imprensa faz reportagens sobre o reaquecimento do mercado imobiliário e numa delas descubro a rua mais cara da França : Rue de Furstenberg, em Paris, perto da igreja Saint-Germain-des-Prés onde o metro quadrado custa 17 mil euros. Um sonho de consumo de qualquer pessoa de bom gosto.

Essa ruazinha cheia de charme desemboca na menor e mais linda praça da cidade, a Place de Furstenberg, um luxo absoluto, onde viveu o diretor de cinema Joseph Losey. Na última cena do filme de Martin Scorsese “A idade da inocência”, o personagem de Daniel Day-Lewis observa dessa praça uma janela onde vivia a mulher que amou. Nessa praça também fica o Musée Delacroix, com a obra do pintor, numa casa que tem nos fundos um jardinzinho absolutamente delicioso.


Godard : cachorros para palestinos e israelenses

Depois de ter marcado o festival de Cannes por sua ausência este ano, Jean-Luc Godard deixou Rolle, seu retiro na Suíça, para apresentar “Film Socialisme” numa sessão em Paris. Ele veio a convite do jornalista Edwy Plenel, fundador do site Mediapart, que criou o Cinéma des cinéastes.

No dia do debate com Godard, os cinéfilos que enchiam a sala ouviram o cineasta falar sobre o filme e sobre o cinema com o mesmo ar displicente de sempre. Ele contou que quando sai para passear com o cachorro em Rolle, que fica à beira do Lago Léman, onde vive com sua mulher (a cineasta Anne-Marie Miéville), costuma parar e conversar com os vizinhos que também têm cachorro. “Falamos sobre nossos animais com os vizinhos que estão perto de nós e com quem eu não poderia ter uma conversa artística ou política. Durante meia hora é a paz”.

A sugestão veio como uma evidência típica do humor godardiano: “Por que não distribuir cachorros aos israelenses e aos palestinos para lhes dar um assunto de conversa pacificador ?”

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