sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eleições 2010 : a sempre renovada luta de classes


Amigos franceses desconsolados ao ver Sarkozy destruindo o Estado (hospitais, escolas, universidades e pesquisa) em nome de uma falaciosa “modernização” me dizem que invejam a minha sorte de ter um presidente como o nosso, admirado no mundo inteiro por seu engajamento no combate à fome e por seu projeto desenvolvimentista com inclusão social.

Como piada, eles me propõem uma troca. Eu recuso, claro.

Agora, com meu voto quero eleger alguém que participou ativamente da luta contra a ditadura militar. Além disso, elegerei a primeira mulher presidente do Brasil, do qual voltei a me orgulhar, graças ao presidente Lula. Dilma Rousseff promete continuar a obra do presidente Lula e por isso terá meu voto de novo no segundo turno.

Reconhecido e aclamado no exterior, o ex-operário tornou-se o presidente mais popular da história do Brasil, deu visibilidade ao antigo “gigante adormecido”, que como potência emergente soube impor respeito e admiração ao mundo inteiro. No mês de setembro, quatro importantes revistas francesas fizeram números especiais para analisar o legado de Lula, mais que positivo, e alguns grandes jornais editaram cadernos especiais sobre as importantes mudanças realizadas no Brasil.

Josette Sheeram, do Programa de Alimentos da ONU, na entrega do título de "Campeão Mundial na Luta Contra a Fome" ao Presidente Lula, em maio de 2010 resumiu a motivação do prêmio : "Lula, você deu o que há de mais importante ao povo: esperança. O Brasil alcançou todos os objetivos do Milênio (Metas do Milênio de redução da fome e da pobreza) ...; demonstrou ao mundo que lutar contra a fome tem um significado econômico. O Fome Zero custa menos de 2% do orçamento nacional. Programas de combate à fome são um bom negócio, criam empregos e crescimento"

Há que continuar a obra do presidente Lula, aclamado e premiado internacionalmente. Veja lista de alguns prêmios abaixo. ***

“Elite” precisa de mão-de-obra servil

Revi há menos de um mês o excelente filme Allende, de Patricio Guzmán. Se o presidente Lula tivesse feito as opções radicais (perfeitas e justas ) de Allende, não teria terminado nem o primeiro mandato. O Brasil é uma terra de grandes desigualdades sociais que a minoria privilegiada tenta manter a todo custo. Os grandes latifundiários não teriam permitido a reforma agrária sem reagir. Infelizmente a reforma agrária, que Allende fez, é a grande ausente do balanço positivo dos dois mandatos do PT.

Nosso país é dominado por uma "elite" (econômica, não cultural, que se julga uma elite porque tem apartamentos em Miami ou Paris, não porque cursou universidades que acumulam prêmios Nobel de medicina, química ou física). Ora, essa « elite » não quer ouvir falar de justiça social, distribuição de renda, metas de educação de qualidade, gratuita e universal, hospitais públicos de qualidade para todos os cidadãos. Essa « elite » precisa de estoques de mão-de-obra barata e servil. Os membros dessa « elite » acham que a palavra "cidadão" é arcaica, preferem "consumidores". Luta de classes? Uma obscenidade.

O balanço de Lula não é perfeito, longe disso. O Brasil não é o paraíso, longe disso. Mas é um país mais justo do que era. E, pelo que li, Dilma Rousseff quer aprofundar as reformas e os projetos sociais. Quem tem a biografia que ela tem e não renega o passado, merece um voto de confiança. Queremos o aprofundamento dos programas sociais ou o retrocesso ?

As revistas, os jornais franceses e mundiais louvam o legado de Lula. Admiro seu gênio político, como Hélio Pellegrino e Apolônio de Carvalho admiravam. Muitos outros brasileiros ilustres como Leonardo Boff continuam a admirar o metalúrgico que colocou o Brasil no caminho do resgate da nossa monumental dívida social.

O presidente Lula não tinha opção para governar. As alianças com os sarneys do nosso Congresso foram necessárias, uma vez que o PT não tinha maioria no parlamento.

Prefiro olhar a política externa desses oito anos, moderna, inteligente. Que o novo presidente, que espero seja Dilma Rousseff, continue na mesma linha independente e soberana, sem alinhamento automático aos EUA, a que nos impelia o nosso « complexo de vira-latas » de que fomos curados pelo presidente Lula, segundo análise de um jornalista francês.

Se os votos de Marina Silva fossem transferidos todos para José Serra ele seria eleito e voltariam as privatizações, o sucateamento de nossas grandes empresas, Petrobras, Banco do Brasil, tudo o que o tucano-mor não teve tempo de privatizar. Voltaria a “privataria”, como chamam alguns jornalistas. Vou votar em Dilma Rousseff no segundo turno com convicção. Ela garantiu que em seu governo não haverá privatizações.

O Brasil precisa dividir de forma mais equitável a renda do crescimento. E inserir cidadãos numa sociedade mais democrática e igualitária, diminuindo a concentração de renda. O Brasil precisa deixar de ser o país mais injusto do mundo na distribuição das riquezas. Queremos justiça social, muito mais do que já foi feito.

Precisamos votar em quem está preocupado com ela.

***Em abril deste ano, a Time, revista semanal de maior circulação no mundo, elegeu Lula um dos 25 líderes mais influentes do planeta. E no perfil publicado, escrito pelo cineasta Michael Moore, é destacado o programa Fome Zero (praticamente substituído pelo Bolsa Família), citado como uma das conquistas para levar o Brasil ao "primeiro mundo". A história de vida de Lula também é ressaltada por Moore, que chama o presidente brasileiro de "verdadeiro filho da classe trabalhadora da América Latina".

Em 2007, o presidente Lula recebeu o Prêmio Nehru. Em 2008 recebeu em Paris o Prêmio Félix Houphouët, oferecido pela Unesco. Um terço dos vencedores desse prêmio ganhou depois o Prêmio Nobel da Paz. No mesmo ano foi à Espanha receber o 1º. Prêmio Internacional Dom Quixote de La Mancha.

Em 2009 o presidente Lula recebeu em Paris o 1º World Telecommunication and Information Society Award; em Londres, depois de participar de encontro com a rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham, recebeu o Prêmio Chatham House 2009 por sua atuação na América Latina; e em Nova York foi agraciado com o Prêmio Woodrow Wilson for Public Service. Na mesma cidade, em solenidade na sede da Organização das Nações Unidas, recebeu de Federico Mayor Zaragoza o Prêmio Sucesso Internacional (ISP, na sigla em inglês).

No fim de 2009, a revista Le Monde Magazine instituiu o título de Homem do ano e escolheu o presidente Lula para ser o primeiro homenageado.

Em Roma, durante a Cúpula Mundial da Alimentação das Nações Unidas recebeu o Prêmio Contra a Fome, da ActionAid, e um par de luvas de boxe pelo sucesso na luta contra a fome no Brasil. Este ano recebeu um prêmio inédito no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça: Estadista Global. Lula foi eleito para o prêmio por ser um líder político que usou o mandato para melhorar o mundo, justificou o Fórum de Davos. Foi a primeira vez que o Fórum concedeu um prêmio, em 40 anos de existência.

Le Monde : « No Brasil, duvidosa campanha dos evangélicos »

No Le Monde desta sexta-feira, 8 de outubro, o editorial de primeira página trata do Brasil com o título acima. Ele analisa o resultado do primeiro turno e dá alguns dados interessantes : segundo uma estatística oficial, 15% das brasileiras entre 18 a 39 anos já abortaram ao menos uma vez. O aborto mal praticado é responsável por grande número de mortes no Brasil.

O editorial termina dizendo : « O Brasil, primeiro país católico do mundo, tem seus arcaísmos e seus tabus, que se pode, segundo o ponto de vista de cada um, aceitar ou criticar. É pena que esse grave problema, em vez de suscitar um verdadeiro debate, seja utilizado como uma máquina de guerra eleitoral ».

O Le Monde pode levar o leitor desavidado a concluir que no maior país católico do mundo a divulgação de « fatwas » fundamentalistas tentando definir uma eleição presidencial vem somente dos evangélicos. Como todos sabemos, a campanha do atraso e da má fé associa católicos e evangélicos.

Vida extraterrestre

Depois da avant-première do filme « Nostalgia da luz » em Paris, esta semana, num cinema de Montparnasse, o cineasta Patricio Guzmán confirmou que todos os astrônomos que trabalham noite e dia na observação das estrelas e galáxias no deserto de Atacama no Chile, um lugar privilegiado para a observação dos astros, têm a plena convicção de que existe vida extraterrestre. Um novo telescópio com 60 antenas susceptíveis de captar ruídos vindos do big-bang está sendo instalado com verba de diversos países.

Por que estaríamos sozinhos nesse espaço infinito ? Que tipo de vida pode existir nos exoplanetas?

Fui ouvir o filósofo Alain Badiou na École Normale Supérieure nesta quinta-feira, 7 de outubro, como faço todos os meses, há três anos. Badiou é atualmente o filósofo francês mais lido e estudado no mundo. Este ano, seu seminário tem como título “Que signifie “changer le monde”? Grande leitor de Marx, Badiou é o maior especialista de Platão, em torno de quem fez seus seminários nos últimos anos. Seu livro « De quoi Sarkozy est-il le nom » foi um sucesso de vendas extraordinário, com tiragens sucessivas e uma repercussão na mídia que Badiou nunca tinha tido.

Na quinta-feira, no meio do curso de duas horas, ouvido com atenção por um auditório de mais de 200 pessoas - jovens, idosas e de meia idade - Badiou soltou a frase : « É provável que no universo existam outros seres que pensem. Isso é provável mas essa probabilidade é sem utilidade ».

Ele falava de hip
óteses levantadas recentemente, mas seu ponto de partida era Platão e sua teoria do mundo, exposta no diálogo de Timeu.

Francês naturalizado não pode matar policiais

Se quisier manter a nacionalidade, um francês naturalizado recentemente não deve matar policiais.
A lei criada recentemente pelo governo Sarkozy prevê a perda de nacionalidade para franceses naturalizados há menos de 10 anos que atentem contra a vida de um gendarme ou de um policial.
Conclusão óbvia : se você quiser matar um policial tem interesse em ser francês há mais de 10 anos. Ou ter nascido franês. Se você é naturalizado há menos de 10 anos e não quer perder a nacionalidade, não mate um policial ou gendarme. Mate a sogra ou o patrão, por exemplo. Ou o presidente.

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