O jornal Le Monde de 12 de setembro publicou publicidade de página inteira
sem fotos, cujo título, em corpo gigantesco, dizia : « A França deve
acolher os refugiados sírios. »
O texto lembra que o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (HCR) fez um apelo à União
Européia para que acolha parte dos dois milhões de refugiados sírios instalados
temporariamente nos países limítrofes (Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque).
Segundo o texto, a França,
contrariamente a outros Estados europeus, não respondeu ao apelo. Em vez disso,
tem dificultado o trânsito desses refugiados em direção a outros países da
UE. As ONG que assinam a publicidade (Anistia Internacional, Cimade, Médecins
sans frontières, Secours Catholique e Secours Islamique) fazem um apelo ao
presidente da República pela criação de uma política de acolhida àqueles refugiados.
Essas associações humanitárias se
comprometem a usar toda a infra-estrutura de que dispõem para ajudá-los, assim
como mobilizar a sociedade francesa.
Mas, pelo visto, os sobreviventes
dos massacres dos dois últimos anos não interessam à França, que como todos
sabem é o “pays des droits de l’homme” e se vangloria de ser uma “terre
d’accueil”.
Tudo que interessava a Hollande antes do acordo russo-americano era
mandar seus militares à Síria “punir” Bachar. Provando que a "comunidade internacional" é uma ficção, russos e americanos se reuniram e decidiram sozinhos os próximos passos da guerra na Síria.
O diretor de pesquisas do CNRS e
especialista em Iraque e em Oriente Médio, Pierre-Jean Luizard relembra em
entrevista ao L’Humanité que Saddam
Hussein usou gases contra os kurdos na guerra Irã-Iraque, em 1988. O Senado
americano tentou votar sanções econômicas contra o Iraque para “punir” o regime
pelo fato de utilizar gaz contra seus próprios cidadãos. O então presidente
Bush (pai) vetou qualquer tipo de sanção ao Iraque, em guerra contra a jovem
república islâmica do Irã.
Só mais tarde, Saddam Hussein se
transformou no inimigo que deveria cair. Quem será o próximo? Depois de Bachar, o Irã?
Em seguida, segundo analistas do
Pentágono, será a vez de enfrentar a China. Um mundo sem guerras somente depois que o homo sapiens desaparecer do planeta.
Kissinger e Nixon : terrorismo de Estado
O 11 de setembro chileno foi decidido por dois terroristas que nunca foram punidos: Henry Kissinger e Richard Nixon. O embaixador dos EUA no Chile contou ao cineasta Patricio Guzman, autor do extraordinário documentário Allende que os dois citados indivíduos chamaram-no para dizer que aquele sob (son of a b....) não podia continuar prejudicando os interesses dos EUA. Pinochet fez o trabalho sujo para eles.
O correspondente do jornal Le Monde em Santiago durante o governo
Allende, Pierre Kalfon, contou em longa entrevista ao jornal como teve de
deixar o Chile em 48 horas. Ele rememorou os momentos mais dramáticos que se
seguiram ao golpe. Uma pequena anedota: ao invadirem o apartamento do
jornalista, soldados armados até os dentes fizeram apreensões de fitas, livros
e documentos. Um dos livros, sobre o cubismo, foi levado por pensarem que se
tratava de Cuba.
Segundo o Le Monde, 75% dos chilenos pensam que os vestígios da ditadura
continuam presentes. Se fizéssemos uma pesquisa no Brasil o que teríamos? A
Comissão Nacional da Verdade, instalada com grande dificuldade no Brasil, vai
conseguir fazer seu trabalho em profundidade?
Em entrevista de página inteira
ao jornal Le Monde, o cineasta
chileno Patrício Guzman, autor dos documentários Allende, O caso Pinochet e A batalha do Chile,
entre outros, lemba que durante a era Allende 70% das rádios e dos jornais
faziam oposição ao goverrno.
“Seu socialismo era tolerante e libertário”, diz
Guzman (Foto em sua casa em Paris).
Ele lamenta que no Chile nunca
tenha havido uma verdadeira reflexão nacional, como na Argentina. “Os escritores, os cineastas,
os historiadores trabalham esse passado, mas quantos chilenos têm acesso a
essas obras?”, pergunta. Segundo ele, sem a experiência de Allende, que renovou
a esquerda latinoamericana, não existiriam hoje os governos progressistas da
América do Sul.
Quem quiser ler documentos
secretos já desclassificados sobre o golpe no chile pode clicar no link. Os
comentários são em francês:
Nos passos de Frei Tito de Alencar
As entrevistas para a biografia de Frei Tito de Alencar Lima me levaram a encontrar pessoas extraordinárias, entre elas, alguns frades dominicanos franceses, hoje octogenários, que conviveram com o frade brasileiro em seu exílio francês.
Nos passos de Frei Tito, fui
parar no cemitério de Ferrara, na Itália, onde visitei túmulos à procura dos
familiares de Carlos Marighella, criador da Ação Libertadora Nacional, na qual
alguns frades dominicanos militaram. O pai de Carlos, Augusto Marighella,
emigrou ao Brasil no início do século XX, se estabeleceu na Bahia e fundou
família.
Alguns dos Marighella de Ferrara, parentes do nosso líder
revolucionário, repousam no maravilhoso cemitério da cidade, de uma beleza que lembra os conventos medievais.
Outros Marighella de Ferrara têm seus nomes no catálogo telefônico da cidade. (Para ver a foto ampliada basta clicar sobre ela).
Outros Marighella de Ferrara têm seus nomes no catálogo telefônico da cidade. (Para ver a foto ampliada basta clicar sobre ela).
Ainda nos passos de Frei Tito,
fizemos, Clarisse Meireles e eu, diversas entrevistas com revolucionários
brasileiros, que participaram das lutas estudantis e da resistência à ditadura,
inclusive na luta armada.
Um deles, Luiz Eduardo Prado de
Oliveira, conseguiu escapar ao cerco das prisões que se seguiram ao sequestro
do embaixador americano, em setembro de 1969. Exilado na Europa, Prado de
Oliveira vive até hoje em Paris, onde trabalha como psicanalista.
Num texto notável sobre a
tortura, intitulado De la torture, de
l’exil et du génocide (Da tortura, do exílio e do genocídio) Luiz Eduardo
Prado de Oliveira observa, en passant, a propósito da Rede Globo :
“São a televisão e a imprensa – no Brasil, a formidável máquina de
destruição do imaginário de um povo e de suas capacidades de sublimação que representa
a Rede Globo, verdadeira máquina de tortura mental generalizada – que têm a
carga particular de distorcer e deformar o pensamento e a linguagem.”
Como não pensar nesse texto ao
ler a notícia do “mea culpa” feito pela Rede Globo? Os cúmplices da ditadura
são também responsáveis pelos mortos, pelos torturados, pelos desaparecidos. Além
de participarem até hoje do projeto de distorção do pensamento e da linguagem.
Il maestro terá museu em Ferrara
A cidade de Ferrara organizou de março a junho deste ano
uma maravilhosa exposição homenageando o cineasta Michelangelo Antonioni no
Palazzo dei Diamanti. O cineasta deixou para sua cidade natal mais de 40 mil
documentos, quadros, cartas, filmes, roteiros. Parte desse enorme acervo
Antonioni foi exposto este ano, preparando a abertura no ano que vem de um
museu na cidade exclusivamente dedicado ao genial cineasta que alguns de seus
pares chamavam carinhosamente de “Il maestro”.
Entre as cartas ao “maestro”, se destacam as de grandes atores e diretores do cinema
mundial. Sobre Antonioni, Fellini escreveu : “Profissão reporter” é o mais
completo, o mais puro, o mais essencial dos filmes já realizados pelo cineasta
de Ferrara, um filme crudelíssimo, cirúrgico e ao mesmo tempo dulcíssimo”.
“Il maestro” foi
definido por Martin Scorsese como “um dos maiores artistas do século XX, um
poeta do nosso mundo que se transforma.”
França: telefones celulares e i-pads proibidos aos ministros
O governo francês recomendou esta
semana a seus ministros que não usem seus telefones celulares para assuntos
considerados importantes e sensíveis. O
efeito Snowden começa a se fazer sentir também na França. A proibição diz
respeito aos smart phones e i-pads, que não dispõem de dispositivos de segurança
garantidos pelo órgão francês de segurança informática. As informações
confidenciais devem passar por telefones especiais e pelo intranet interministerial.
Entre as recomendações, o governo alerta para as viagens no
estrangeiro. Nesse caso, todo cuidado é pouco. Nada de telefonar de organismos
internacionais, hoteis, restaurantes. Cyber-cafés não são dignos de confiança.
Nunca deixar o computador ou mesmo o telefone celular dentro do cofre do quarto
do hotel, recomenda o governo.
Nos próximos dias, novas
diretrizes serão dadas para completar as medidas de segurança do governo.
O Brasil, o mais visado pela espionagem americana, continua vulnerável. Será que governos como o da França vão conseguir neutralizar o Big Brother?
Morte em Veneza
Estávamos de férias na Itália, em agosto, quando ocorreu o primeiro acidente com vítima fatal no Canal Grande, de Veneza, consequência do choque entre uma gôndola e um vaporetto. Quem garante que esse foi o primeiro acidente com morte é o jornal de esquerda La Repubblica. Foi de manhã, perto da ponte de Rialto. No choque, um casal de alemães que estava na gôndola com dois filhos caiu na água. O pai conseguiu salvar a família mas foi ferido mortalmente pelo vaporetto.
O jornal La Repubblica registrou o
acidente em uma página. O texto ressalta a necessidade de frear o incessante
aumento de turistas que invadem Veneza, sobretudo em ano de Bienal de arte, como este.
No
pico do verão europeu, o mês de agosto torna as ruas de Veneza um verdadeiro
formigueiro de turistas, que vêm, na maioria das vezes, por um dia apenas. Eles
saem dos navios de cruzeiros, verdadeiros monstros que ficam ancorados não
muito longe da cidade. O movimeto das águas provocado pelos mastodontes na laguna é o bastante para ameaçar todo o
ecossistema e fazer tremer os alicerces da basílica de San Marco.
Durante
o dia, esses monstros despejam milhares de turistas que se precipitam para a
Piazza San Marco e outros pontos turísticos. À noite, os habitantes da
Sereníssima reencontram a paz e o
silêncio que perdem durante o dia. Mas a infra-estrutura da cidade sofre danos gravíssimos.
Quando
vemos o Canal Grande engarrafado de táxis, vaporettos e gôndolas nos dizemos
que é um verdadeiro milagre a ausência de acidentes.
Pausa para um SMS que ninguém é de ferro ...
(FOTOS DE LENEIDE DUARTE-PLON)
(FOTOS DE LENEIDE DUARTE-PLON)
Uma morte bem-sucedida
Essa é a atual ambição de
Jean-Louis Trintignant, o genial ator francês de Amour, de Michael Haneke. Entrevistado por uma revista francesa, o
ator disse que Amour foi seu último filme e agora só espera a morte. Não tem
nenhuma ambição.
“Vou tentar ter uma morte
bem-sucedida, morrer com saúde e não cheio de tubos num hospital. Se isso for
irreversível, não vale a pena esperar”.
Ele conta que não foi por pudor
que recusou o convite de Bertolucci para protagonizar o filme “O último tango
em Paris”. Foi a pedido de sua filha Marie, então com 12 anos. Ela lhe pediu
que não fizesse o filme ao ler o
roteiro.
Marie não queria que na escola
todo mundo lhe falasse do pênis de seu pai. Foi para protegê-la que Trintignant
recusou, mesmo tendo trabalhado com Bertolucci na elaboração do roteiro do filme.
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