domingo, 30 de março de 2014

VIVA LA MUERTE! Bandeira das Forças Armadas da ditadura

 « O Brasil ou faz sua revolução socialista — a revolução dos pobres, dos deserdados, desgraçados, degredados e degradados — ou então jamais se integrará como nação dona de si e de sua totalidade nacional capaz de ser sujeito e não objeto da história […] essa gente (a burguesia brasileira), ao menor sinal de abatimento, ou malestar, entregou, entrega e entregará o país aos militares, e estes são o braço armado dos ricos contra os pobres […] A saída — beco sem saída — é a força das armas, é a repressão, é a violência a serviço da morte contra a vida. VIVA LA MUERTE! É esta a bandeira das Forças  Armadas no Brasil. »(Helio Pellegrino carta a Otto Lara Resende de 25-07-68)


Copa do Mundo 2014. JO 2016.
Direitos Humanos 20… ?
Com esse título, o boletim da ACAT (Action des Chrétiens pour l’Abolition de la Torture) denuncia graves violações dos direitos humanos no Brasil  de « populações carentes ».
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O texto explica como funciona a polícia no Brasil, uma polícia civil e uma militar, realizando prisões arbitrárias e utilizando a tortura « em total impunidade », sob o pretexto de realizar uma « guerra contra o crime organizado ».

Segundo o texto, a polícia brasileira é responsável por 2 mil mortes por ano. Não raro, os policiais participam de redes de corrupção, extorsão, tráfico de armas e de drogas. As principais vítimas são jovens rapazes habitantes dos bairros pobres. “Os juízes que tentam condenar essas práticas se tornam alvo de intimidações e de ameaças.”
A violência policial se agravou nos últimos anos com a perspectiva da Copa do Mundo de futebal de 2014 e dos Jogos olímpicos de 2016. Segundo o boletim da ACAT, com o objetivo de tranquilizar os organizadores, as autoridades cobrem ou reforçam as intervenções brutais das forças policiais.
«Os policiais multiplicam as invasões de domicílio, torturas, desaparecimentos (35 mil no Rio de Janeiro desde 2007, segundo a ONG Rio de Paz) e execuções.»
Para quem quiser passar à Ação contra a tortura, o boletim  propõe uma carta a ser enviada ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo pedindo, entre outras coisas que “as missões de manutenção da ordem pública sejam feitas exclusivamente pelas forças de polícia civil.”





Um homem torturado: nos passos de frei Tito de Alencar
Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles
Editora Civilização Brasileira
420 páginas

“Ato de memória insurgente, a leitura deste livro, sem dúvida, alimenta e atualiza em cada um de nós a capacidade de indignação.” – Frère Xavier Plassat


Para Tito de Alencar Lima, 4 de novembro de 1969 foi o primeiro dia de uma prisão que duraria um ano e dois meses. Torturado no Deops e depois na Operação Bandeirantes, sob a acusação de pertencer à Ação Libertadora Nacional (ALN) – organização de luta armada fundada por Carlos Marighella –, Tito foi destruído psiquicamente por seus carrascos.
Escolhido a contragosto para ser um dos presos trocados pelo embaixador suíço, em 11 de janeiro de 1971, banido do território nacional por decreto, o frade dominicano viajou para Santiago do Chile juntamente com sessenta e nove presos políticos.
Na capital chilena, Tito deu entrevista aos cineastas americanos Haskell Wexler e Saul Landau, autores do documentário “Brazil, a report on torture” (Brasil, um relato de tortura), com testemunhos de ex-presos políticos torturados nas prisões brasileiras. Na Alemanha, foi entrevistadona TV e responsabilizou parte do clero conservador por conivência com a ditadura, que negava a existência de torturas.
Passou por Roma, onde não pôde falar a religiosos no Colégio Pio Brasileiro porque a hierarquia, conhecendo sua fama de “terrorista”, não quis recebê-lo. Foi para Paris, onde, por dois anos, morou no Convento Saint-Jacques. Na capital francesa militou ao lado de brasileiros na denúncia das torturas praticadas pela ditadura.
No Convento Sainte-Marie de LaTourette, perto de Lyon, para onde se mudou em 1973, esperava encontrar  um porto seguro e retomar os estudos de teologia. Em meio à natureza, no alto de uma colina, Tito encontrou o silêncio, mas não a tranquilidade. Levara dentro de si seus torturadores. Em 10 de setembro de 1974, o corpo do frade foi visto por um camponês, pendendo de uma árvore, perto de uma área inóspita, às margens do rio Saône. Tito foi enterrado no cemitério do convento. Seu corpo voltou ao Brasil em 1983. Hoje, repousa em Fortaleza.
O filósofo Jean Améry, amigo de Primo Levi, escreveu que quem foi submetido à tortura fica “incapaz de sentir-se em casa neste mundo”. O ultraje do aniquilamento é indelével, “a confiança no mundo que a tortura apaga é irrecuperável”.

 De 4 de novembro de 1969, dia em que foi preso, a 10 de agosto de 1974, quando foi encontrado morto, Tito viveu como alguém que não se sentia mais em casa neste mundo. Tito de Alencar Lima preferiu a morte a conviver com a tortura, que não se apagava de sua memória.

Duas psicanalistas dicionarizadas

A convite de Chantal Major escrevi para o Dictionnaire des femmes Créatrices, publicado pela Editions des Femmes, um resumo biográfico de Helena Besserman Vianna e de Nise da Silveira, duas brasileiras que honraram a profissão de psicanalista. Abaixo os verbetes :
BESSERMAN VIANNA, Helena (Rio de Janeiro 1932 – 2002)
Médecin et psychanalyste
Helena Besserman Vianna fut qualifiée de  « pasionaria » pour son courage et sa ténacité dans la dénonciation, en 1973, d’un analyste en formation dans une société de psychanalyse de Rio de Janeiro comme participant activement à des séances de torture pendant la dictature militaire. Dans sa lutte contre le silence et l’oubli elle aura ainsi mis à mal la prétendue « neutralité psychanalytique ».
C’est le journal communiste clandestin Voz Operária qui publia la nouvelle en donnant le nom du médecin, Amilcar Lobo, ainsi que celui de son analyste, Leão Cabernite, qui présidait à l’époque la Société Psychanalytique de Rio de Janeiro (SPRJ), associée à l’IPA (Association Psychanalytique Internationale). Cette information fut transmise avec une note manuscrite à la revue argentine Cuestionamos que dirigeait alors la psychanalyste Marie Langer qui s’était réfugiée en Argentine après avoir fuit le régime nazi. La nouvelle circula à travers le monde psychanalytique et arriva à la connaissance du Président de la Confédération Psychanalytique d’Amérique Latine (COPAL),  et du Président de l’Association Psychanalytique Internationale (IPA), Serge Lebovici.
Pour identifier l’auteur de la dénonciation anonyme, la SPRJ fit appel à un spécialiste pour procéder à des investigations graphologiques qui permirent de reconnaître l’écriture d’Helena Besserman Vianna. Au lieu de vouloir établir la véracité de la dénonciation, la SPRJ préféra qualifier l’information de « calomnie ».
Helena Besserman Vianna, qui appartenait à la Société Brésilienne de Psychanalyse de Rio de Janeiro (SBPRJ-IPA),  sera désignée comme calomniatrice par les Conseils des deux Sociétés de Rio, soumise aux pires intimidations. Elle échappera, parfois de justesse, à l’exécution de nombreuses menaces ainsi qu’à un attentat. Par ailleurs, la SBPRJ empêcha la psychanalyste d’accéder au statut de membre titulaire.
En 1994, elle publie à Rio Não conte a ninguém – Contribuição à história das Sociedades Psicanalíticas do Rio de Janeiro (Imago), livre dans lequel elle raconte, documents à l’appui, son combat de 20 ans. Politique de la Psychanalyse face à la Dictature et à la torture – N’en parlez à personne (L’Harmattan, 1997) est publié à Paris avec  une préface et une lettre ouverte de René Major qui était alors Président de la Société Internationale d’Histoire de la Psychiatrie et de la Psychanalyse. Dans sa lettre, René Major présente sa démission comme membre de l’Association psychanalytique internationale.
Cette histoire inspira à René Major la convocation des Etats Généraux de la Psychanalyse, qui eurent lieu à Paris en juillet 2000 et furent marqués par un discours mémorable de Jacques Derrida. C’est dans ce cadre qu’Helena Besserman Vianna annonça sa démission de l’IPA.
Fille de juifs polonais et membre du Parti Communiste Brésilien jusqu’en 1968, Helena Besserman Vianna exerça la psychanalyse à Rio où elle fut formée par Zenaira Aranha. Elle  reprit ensuite une analyse à Paris avec André Green.
Avec Teresa Pinheiro, elle a écrit « As bases do amor materno » (Escuta, 1991) autour de la conférence de Margarete Hilferding sur l’amour maternel.
DA SILVEIRA, Nise, psychiatre (Maceió 1906 – Rio de Janeiro – 1999)
Quand la psychiatre Nise da Silveira commence ses études de médecine à Salvador de Bahia, elle a 16 ans et elle est la seule femme de la promotion  (158 élèves) de 1926, où elle rencontre Mário Magalhães da Silveira qui deviendra son mari. En 1933, elle passe un concours public et devient médecin de l’hôpital de Praia Vermelha, à Rio de Janeiro. En 1936, arrêtée comme communiste pendant la dictature de Getúlio Vargas, elle devient un des personnages du roman Memórias do cárcere (Mémoires de la prison) du grand écrivain  Graciliano Ramos, arrêté dans la même prison. Après 18 mois de détention, elle fut libérée mais écartée du service public pour des raisons politiques. Le plus important héritage de Nise da Silveira - qui étudia à Zurich à l’Institut Carl Gustav Jung de 1957 à 1958 et entre 1961 et 1962 - demeure le Musée des Images de l’Inconscient (Museu de Imagens do Inconsciente) qu’elle créa en 1952 dans le Centro Psiquiátrico Pedro II. Dans cet établissement, elle avait fondé en 1946 un service de thérapie occupationnelle qu’elle dirigea jusqu’en 1974 et dans lequel les malades mentaux s’exprimaient par le moyen de dessins, de peintures et de sculptures. Farouchement opposée à l’utilisation par la psychiatrique traditionnelle des chocs électriques, elle mena un combat sans merci contre la pratique de la lobotomie encore à l’usage à l’époque. En 1956, elle fonda la Casa das Palmeiras, à Rio de Janeiro, qui fonctionne comme hôpital de jour pour les patients ayant quitté l’hôpital psychiatrique. Son travail a inspiré la création de plusieurs musées e institutions thérapeutiques comme l’Association Nise da Silveira-Images de l’Inconscient à Paris, le Centro de Estudos Imagens do Inconsciente, de l’Université de Porto, au Portugal ou encore le Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli à Gênes, en Italie. Le musée Imagens do Inconsciente de Rio de Janeiro possède un fonds de plus de 300 mille travaux  de malades mentaux parmi lesquels Fernando Diniz et Bispo do Rosário, qui sont devenus très célèbres. Nise da Silveira créa en 1957 un groupe d’études de psychanalystes, psychiatres et psychologues qui se réunirent jusqu’à sa mort en 1999. Elle a notamment écrit Jung: vida e obra (1968), Imagens do Inconsciente (1981) - Images de l’inconscient (Halle Saint-Pierre Passage Piétons Editions, Paris, 2005) et Cartas a Spinoza (1990). Plusieurs films et expositions ont été réalisés au Brésil sur l’œuvre de Nise da Silveira qui a reçu en 1993 la médaille Chico Mendes pour son combat pour les droits de l’homme.

                                                                     


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