Como os nazistas não conseguiram se apropriar da adega do Hotel Georges V
Leneide Duarte-Plon
Você tem duas chances de visitar a adega do hotel Georges V, um dos mais bonitos e luxuosos 4 estrelas de Paris (a cotação máxima na França) : se hospedar no hotel e solicitar a visita guiada ou ser amigo de Luciana Fróes, a crítica gastronômica mais charmosa do Brasil. Estou na segunda categoria. Sou amiga da Luciana e fui com ela visitar a “cave” do Four Seasons Georges V, que tem uma história surpreendente e guarda 40 mil garrafas de vinhos excepcionais.
Fizemos a visita da cave histórica, seguida de um jantar-degustação exclusivo, no restaurante do hotel, o Le Cinq, três estrelas de 2003 a 2006. Hoje, o restaurante tenta recuperar a terceira estrela do Michelin, perdida em 2007. Como não somos críticas do Guia Michelin, saímos dispostas a dar a terceira estrela de volta imediatamente. As quatro horas passadas à mesa degustando delícias indescritíveis são uma experiência existencial quase tão forte quanto o êxtase experimentado pelos místicos. Sei que exagero, mas é quase isso.
Guiadas por Eric Beaumard, que depois de longa e premiada carreira de sommelier (eleito o melhor da França e o melhor da Europa, em 1992 e 1994) se tornou diretor do Le Cinq, descobrimos a história da adega, que foi totalmente emparedada durante a guerra para preservá-la da pilhagem dos alemães.
Como ela fica a 14 metros do subsolo e foi toda construída na rocha da antiga pedreira ali existente, os alemães não suspeitaram que a pequena adega que os franceses mostravam como sendo “a” cave do hotel era apenas uma esperteza. Os franceses justificaram a pequena quantidade de vinho pelo número ínfimo de hóspedes que vinham ao hotel em plena guerra. E puderam assim manter um patrimônio fabuloso que hoje inclui um vinho Madeira de 1850 e um Romanée Conti de 1983, que vale 36 mil euros.
Eric Beaumard nos recebeu como os franceses sabem fazer num hotel da categoria do Georges V. Com distinção, cordialidade e classe. Desde 1997 o hotel é administrado pela Four Seasons, mas continua a pertencer à família real da Arábia Saudita, mais precisamente ao príncipe Al Waleed Bin Talal Abdulaziz Al Saud.
Beaumard comenta suas viagens a São Paulo e ao Rio, onde pôde visitar a adega de um certo Boni, que ele nomeia pelo nome completo. O sommelier ficou vivamente impressionado com o que viu na casa de Angra do milionário brasileiro. Ele diz que as famílias tradicionais brasileiras que se hospedam no Georges V sabem manter uma distância e uma distinção que os diferencia dos nouveaux riches barulhentos e exibicionistas que se hospedam em outros grandes hotéis parisienses. Ele não citou mas eu entendi e ele fez um gesto de cabeça quando eu lhe disse que sabe-se que o Plaza-Athénée é o preferido de celebridades e jogadores de futebol vindos do Brasil. Paulo Maluf e Ronaldo incluídos.
Construído em 1928, o Georges V foi o quartel-general de Eisenhower durante a Libertação de Paris. Depois, foi nele que outros presidentes como Jimmy Carter e Richard Nixon encontraram presidentes franceses.
O Georges V recebe sobretudo uma grande maioria de abonados hóspedes estrangeiros, o que justifica uma cave bem equipada onde os vinhos franceses são maioria. Quem vem à França e se hospeda num grande hotel com um grande restaurante não quer degustar la crème de la crème da gastronomia francesa com um vinho estrangeiro. E a equipe de Eric Beaumard está à disposição para indicar o vinho que melhor acompanha cada prato.
Na noite dessa quarta-feira, nos divertimos, Luciana e eu, a fazer um pequeno estudo socio-econômico a partir da análise dos freqüentadores do restaurante. E constatamos: os asiáticos estão cada vez mais ricos e gastando suas fortunas nos hotéis de luxo de Paris. Dois casais jovens de chineses (ou seriam coreanos? ou vietnamitas? ou japoneses? ) se deliciavam com os vinhos e a cozinha do Le Cinq. E ao nosso lado, duas louras magras, jovens e bonitas, vestidas com roupas de um luxo discreto chamavam a atenção pelo silêncio, quebrado de vez em quando pela voz das crianças, duas garotas louras de cerca de dez anos, que as acompanhavam. As quatro tinham um telefone celular na mão e passavam o tempo todo a escrever SMS ou falar discretamente ao telefone. Eram russas, como pudemos saber ao perguntar a um garçom que língua falavam. Devem pertencer à nova classe de milionários que enriqueceram com o gás e o petróleo na era Putim e invadem os grandes hotéis de Paris para gastar na capital do luxo suas recém-conquistadas fortunas.
O mundo dos ricos
Os grandes hotéis de luxo de Paris como o Crillon, Ritz, Plaza Athénée, o Bristol, Geoges V , o Meurice e o Fouquet’s não têm do que se queixar. A taxa de ocupação é superior a 80% para um preço médio de diária de 833 euros. E eesa taxa está numa linha ascendente.
Não existe crise no reino dos ricos, conclui um estudo publicado há poucos dias num jornal.
A maioria desses milionários ainda é formada de americanos (80%) capazes de gastar 4 mil euros por uma noite numa suite de luxo. Mas os hóspedes vindos da península arábica e dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) mostram que o capitalismo dos emergentes e dos petrodólares ainda garante a taxa de ocupação hoteleira de luxo de Paris, onde quatro novos grandes hotéis de luxo vão ser inaugurados nos próximos anos.
quinta-feira, 20 de março de 2008
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2 comentários:
Olá Leneide!
Como vai?
Você foi minha professora na Faculdade da Cidade há muitos anos. Estava lendo o Blog da Luciana Fróes e ela comentou sobre o Bilhete de Paris e sobre você!
Muito bacana este espaço! Parabéns!
Passarei por aqui outras vezes! Ler sobre Paris é mutio gostoso! Estive aí no ano passado pela segunda vez e quero voltar muitas outras vezes!
Um grande beijo para você e muito sucesso!
Daniela
Eis aqui outra aluna e depois coleguinha no JB, quando ainda era na Av, Brasil! Tudo bem querida! Tb cheguei até vc através da Fróes. Adorei a história da adega. incrível. Bem, adicionei um link do seu blog no meu site/blog. Vc ainda está escrevendo livros? mande notícias! beijo,
Sylvia Braconnot
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