sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Luta de classes na metrópole e além-mar

No país do carnaval os blocos saem às ruas e o povo samba.
Em Paris só se fala na crise.
Sarkozy convocou ontem rede nacional de TV para anunciar medidas (paliativas) para conter o vulcão social que se anuncia.
No dia 29 de janeiro houve uma greve geral com passeatas contra as diferentes reformas que o governo quer implantar (sobretudo na educação e na saúde), que levaram dois milhões de pessoas às ruas das principais cidades da França. Foi considerado o primeiro teste social de Sarkozy.
Ontem o presidente recebeu os patrões e os sindicatos e no fim do dia anunciou medidas sociais. Para os patrões, ele já tinha suprimido a “taxe professionnelle”, um imposto que pesa no custo das empresas. Com a supressão, o governo quer tentar manter as empresas francesas e estrangeiras em solo francês, preservando milhares de empregos que se evaporam todos os dias. Há anos, elas estão partindo para se instalar onde a mão de obra é mais barata. Ontem, Sarkozy anunciou medidas que não satisfazem a nenhum dos grandes sindicatos de trabalhadores. O governo se negou a aumentar o salário mínimo como pediam os sindicatos.
Agora mesmo, acaba de passar pelo Boulevard Raspail uma enorme passeata de professores e pesquisadores do ensino superior para protestar contra a reforma das universidades.
No próximo dia 19 de março haverá mais uma greve geral, outro dia nacional de protestos contra as reformas dos hospitais, das escolas, das universidades. Continua a queda de braços entre trabalhadores de um lado, governo e patrões do outro.
Em Guadalupe e Martinica, Départements d’Outre Mer (DOM), os trabalhadores em greve pedem aumento de salário e preços mais baratos para os artigos de primeira necessidade. A greve geral já dura um mês com paralisação total de serviços, indústria e comércio. Ontem, em Guadalupe cada vez mais mobilizada, um sindicalista foi morto e vários carros foram incendiados.
O bloco dos trabalhadores continuará a desfilar em protesto contra os efeitos nefastos da crise que só traz para eles desemprego e (mais) privação.
Estes blocos que desfilam sem samba enredo e sem batucada são a versão século XXI da luta de classes, que o neoliberalismo tentou transformar em coisa superada, do passado.


Novo partido anticapitalista (NPA)


Esse é o nome provisório do novo partido do carteiro Olivier Besancenot, que já foi candidato à presidência da França pela Liga Comunista Revolucionária (LCR), em 2002 e em 2007, e foi apontado por uma pesquisa recente como o melhor candidato da esquerda para enfrentar Sarkozy, superando a atual dirigente do Partido Socialista, Martine Aubry.
Besancenot acaba de fundar o Novo partido anticapitalista (NPA), que nasce das cinzas da LCR, de orientação trotskista. Na pesquisa feita com mil pessoas, Besancenot obteve 23% dos votos como melhor candidato para derrotar Sarkozy em 2012, seguido da socialista Martine Aubry, com 13%. Ségolène Royal, também do Partido Socialista, e François Bayrou, do centrista MoDEM, ficaram com ¬6% cada um.
Quanto às alianças de partidos de esquerda para enfrentar a direita nas eleições européias deste ano e nas eleições regionais de 2010, 22% dos eleitores ouvidos pela pesquisa pensam que o Partido Socialista deveria se aliar aos outros partidos de esquerda, inclusive o NPA.
Besancenot, um jovem carismático e um orador articulado, teve 4,25% dos votos na eleição presidencial de 2002, a fatídica, que levou Le Pen ao segundo turno, contra Chirac, deixando Lionel Jospin fora da disputa. O resultado de Besancenot em 2007 foi mais do dobro da percentagem obtiva pelo Partido Comunista francês, que não para de minguar.
O trotskismo se moderniza e conquista novos adeptos, cansados das concessões dos partidos da esquerda social-democrata.

Religião : barbárie ou civilização?

A revista Foreign Policy colocou-o em quinto lugar numa lista dos 100 intelectuais mais influentes do planeta.
Ele é categórico: as religiões são a pior invenção do homem.
Estrela da revista Vanity Fair, Christopher Hitchens é um jornalista inglês, naturalizado americano, que escreveu um livro de combate publicado há quase dois anos nos Estados Unidos, e traduzido agora em francês : “Deus não é grande: como a religião envenena tudo”.
Quando se vê a intolerância da maioria das religiões e a manipulação que, em nome de Deus, religiosos de todas as origens podem exercer sobre os povos, em todos os pontos do planeta, em todas as épocas da história do homem sobre a terra, devemos nos perguntar se a religião pesa mais na balança do lado da barbárie ou da civilização.
Ontem li no Le Monde que uma região do Paquistão trocou a promessa de paz pela instauração da chariá, a lei islâmica, num acordo com chefes talibãs do oeste do país, no vale de Swat. Mulheres lapidadas, meninas proibidas de frequentarem a escola, casamentos forçados são o lote que vem no pacote dessa paz negociada contra a chariá.
E o que dizer dos papas torturando e matando “hereges” durante a Inquisição, em nome de Deus? E do judaísmo que levanta a bandeira do “grande Israel”, para anexar terras ocupadas por palestinos, mas, na realidade, pertencentes aos judeus pois “herdadas” diretamente de Deus pelos ancestrais dos israelenses ?

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