sexta-feira, 20 de março de 2009

Sauvons les riches

Quinta-feira, 19 de março, foi dia de greve geral na França. Entre um milhão e meio a três milhões de franceses saíram em passeata em mais de 200 cidades.
Na gigantesca manif (“manifestation”) de Paris, que levou mais de 300 mil pessoas às ruas, organizada pelos maiores sindicatos e associações de trabalhadores, não se pediu apenas aumento do salário mínimo, das pensões dos aposentados, mais assistência e maior proteção para os que, devido à crise, perdem seus empregos em bloco. Os franceses foram às ruas contra as reformas do governo, em defesa do serviço público (escolas, universidades e hospitais) e por medidas econômicas mais justas.
Mas um coletivo bem-humorado e criativo saiu na passeata em defesa dos ricos. Ele se chama “Sauvons les riches”. Os pesquisadores e cientistas não criaram o “Sauvons la recherche”, que creem ameaçada pela reforma? Por que não o “sauvons les riches”, os que mais perdem com a crise financeira? São eles que veem fortunas colossais de bilhões de dólares se evaporarem! E ficam mais pobres a cada Madoff que aparece no noticiário.
Uma carruagem com ricos arrependidos desfilou no meio do cortejo da CGT com uma faixa: “Sou rico mas estou me tratando”.

O presidente bling bling

Depois da recente viagem oficial de Sarkozy ao México, a mídia francesa se interroga sobre os excessos presidenciais e a fronteira entre ética e etiqueta.
Antes de começar a visita oficial, o casal Sarkozy passou o fim de semana numa praia de Manzanillo, no sul do México. Obviamente, cercado de ricos, pois o presidente bling bling gosta de luxo e dos sinais exteriores de riqueza. E quem frequenta o hotel em que ele ficou tem que ter cacife para desembolsar 50 mil euros por um fim de semana. Aliás, a imprensa francesa quer saber quem pagou o fim de semana do casal presidencial. Os sites Mediapart e Rue89 expõem o “affaire” explicando que o hotel Tamarindo pertence ao milionário Robert Hernandez Ramirez, suspeito de ligações com o narcotráfico, e amigo do presidente Felipe Calderon. Um jornalista especializado no tráfico de droga, Al Giordano, informou que pela fazenda de Ramirez, onde ele já recebeu Bush e Clinton, passariam carregações de droga. Por outro lado, o presidente Calderon viu sua popularidade subir como um foguete depois que iniciou uma verdadeira guerra contra o narcotráfico.
O palácio do Eliseu informou oficialmente que o fim de semana no hotel El Tamarindo foi um convite do presidente do México. Mesmo se, anteriormente, houvesse ficado claro, de acordo com a comunicação oficial, que o fim de semana do casal era um programa privado. O governo mexicano, por sua vez, declarou que Sarkozy e sua mulher foram convidados nessa parte não oficial da visita por empresários mexicanos.
Por mais de um motivo essa viagem de Sarkozy foi desastrosa para a imagem da França na opinião pública mexicana: primeiramente, o presidente solicitou que uma francesa acusada de sequestros, presa e condenada no México seja enviada à França - o que foi visto pelos mexicanos como interferência na Justiça mexicana. Depois, ficou a dúvida: teria Sarkozy passado um fim de semana financiado por um amigo do presidente envolvido com o tráfico de droga?

Militares israelenses denunciam crimes contra civis

Deu no Libération de quinta-feira, 19:
“Alguns militares israelenses confirmaram relatos de palestinos sobre excessos cometidos pelo exército de Israel em Gaza. Tiros injustificados provocaram a morte de muitos civis palestinos, segundo informação do jornal israelense Haaretz, que publica na sexta-feira, dia 20, os depoimentos na íntegra. Entre os relatos, o caso de uma mãe de família assassinada com seus dois filhos porque se enganou e pegou um caminho errado, seguindo ordens dos soldados. Outra senhora de idade foi morta pelos soldados israelenses enquanto atravessava uma rua”.
Para o diretor da Academia militar, Dany Zamir, esse tipo de relato é chocante. O chefe do Estado Maior, Gabi Ashkenazi, também acha e, por isso, ordenou a abertura de inquérito. Segundo o jornalista Amos Harel, esses relatos constituem a prova, em primeira mão, do que a maioria dos israelenses prefere não ver. A começar pelo ministro da defesa, Ehud Barak que defendeu a ética e as ações do exército durante a ofensiva contra Gaza, que fez 1300 mortos e cinco mil feridos entre os palestinos. “O Exército israelense é o mais moral do mundo”, garante Barak.

A consciência crítica de Noham Chomsky

O grande intelectual americano Noham Chomsky, um dos mais lidos e citados do mundo, se tornou há alguns anos a principal consciência crítica dos Estados Unidos. Professor emérito do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Chomsky é um linguista respeitado no mundo inteiro que se define como “anarco-socialista”. Em artigo publicado recentemente, Chomsky cita o escritor israelense Uri Avnery.
“Uri Avnery, uma das mais sábias vozes em Israel, escreve que, depois de uma vitória militar israelense, o que ficará marcado na consciência do mundo será a imagem de Israel como um monstro manchado de sangue, pronto para, a qualquer momento, cometer crimes de guerra e não preparado para obedecer a quaisquer limites morais. Isso terá consequências graves para nosso futuro a longo prazo, para nossa permanência no mundo, para nossa chance de conseguir paz e sossego. No fim, essa guerra é um crime contra nós mesmos, também um crime contra o Estado de Israel”.
Há uma boa razão para acreditar que Avnery está certo, diz Chomsky. Segundo o intelectual americano, “Israel está deliberadamente se tornando talvez o país mais odiado do mundo e também vem perdendo o apoio da população ocidental, inclusive dos judeus americanos jovens, que dificilmente tolerarão esses crimes chocantes por muito tempo”.

New Deal para o Oriente Médio

No fim de fevereiro um grupo de intelectuais franceses, entre os quais muitos de origem judaica como Daniel Cohn-Bendit, Edgar Morin, Jean Daniel, Stéphane Hessel, Michel Toubiana, outros não judeus como Antonio Tabucci e o deputado europeu Francis Wurtz lançaram um apelo por um novo compromisso (um New Deal) para chegar a uma solução de dois Estados que finalmente garanta a paz da região. Um trecho do documento diz:
“Devido ao estado atual de tensão ao impasse de hoje é preciso que os formuladores da política internacional intervenham com urgência para romper a atual engrenagem. Com efeito, quanto mais o contencioso cresce, mais os Palestinos ficarão desesperados e mais difíceis serão as chances de os israelenses continuarem a viver nessa terra. Um new deal é necessário para garantir a todos a segurança”.
Faz sessenta anos que a ONU determinou a criação de dois Estados. Os palestinos esperam o deles até hoje.

Um comentário:

Valéria Martins disse...

Querida Leneide, faz tempo que não venho aqui. Muito bom saber as novidades sobre Paris. Espero que esteja bem e feliz. Um beijo!