sexta-feira, 23 de abril de 2010

Trabalho que mata

Estamos numa encruzilhada: ou conseguimos organizar as resistências dos povos do mundo para mudar o curso da mundialização neoliberal ou nos contentamos, através da eleição, um dos últimos direitos formais que nos restam, em escolher o molho no qual seremos comidos. Eu não tenho absolutamente vontade de ser comido”. (Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980)

O ministério público abriu um inquérito para investigar os casos de suicídios na empresa France Télécom. Os novos métodos de gestão da empresa, introduzidos em 2006, seriam a causa e se caracterizariam como “assédio moral”.

Entre 2008 e 2009, 35 empregados se suicidaram e este ano o número de suicídios já chegou a 11. O psiquiatra e psicanalista francês Christophe Dejours, um dos maiores especialistas da relação entre o trabalho e a saúde mental, autor de inúmeros livros sobre o assunto explica:

“Os suicídios no local de trabalho não existiam. Apareceram há cerca de doze anos, sem que se desse importância. Em 2007 aconteceu uma virada com os casos de suicídios na Renault e na Peugeot. Os primeiros suicídios de que ouvi falar constituíam para mim uma forma de descompensação psicopatológica como outras. Mas a repetição deles tornou-se inacreditável. Havia um suicídio no local de trabalho e depois nada acontecia. Os suicídios no trabalho marcam incontestavelmente uma mudança que atinge o mundo do trabalho. Vi operários alcoólatras que não podiam subir em telhados para trabalhar. Os colegas lhe diziam para ficar em baixo e faziam seu trabalho. Pode-se imaginar o que isso significa em termos de prevenção de acidente, de prevenção de suicídio, de prevenção de distúrbios psicopatológicos. Hoje isso é impensável. Agora, aprende-se o pior, antes aprendia-se o melhor, a solidariedade. Foi por se ter adotado novos métodos de trabalho que hoje tem-se um deserto no sentido arendtiano do termo: a solidão total.”

Les risques de la Sarkocaïne

Era esse o título de um artigo de página inteira do escritor e pesquisador Christian Salmon, fundador do Parlamento Internacional dos Escritores, no jornal Le Monde. No seu artigo, Salmon dizia que Chirac tinha um efeito sedativo sobre a sociedade francesa. Seu sucessor funciona como um perigoso excitante. “Ele não cessou de redesenhar nos últimos anos a imagem fugitiva da função presidencial e de reduzir o exercício do poder à crônica agitada de seus feitos e gestos. (...) A gesticulação sarkozysta seria a forma fenomenal desse agir impotente que caracteriza o homem político neoliberal e não um defeito de educação, uma falta de gosto ou um sinal de instabilidade psicológica”.

O escritor diz ainda que os magos da comunicação sarkozysta tentam aplicar as leis do cinema à política e fazer da política um espetáculo.

Pelo visto o povo francês não está gostando do filme. A popularidade do presidente não pára de cair.

Eyjafjallajökull

O vulcanólogo Armann Höskuldsson, especialista desse vulcão de nome impronunciável, diz que alguns historiadores atribuem, em parte, a Revolução Francesa às más colheitas que precederam 1789. Estas teriam sido resultado dos estragos causados no solo e na atmosfera pelo vulcão islandês Laki, que entrou em erupção em 1783. Höskuldsson afirma que nesse ano o Laki vomitou suas lavas basálticas durante quase um ano causando terríveis consequências para a agricultura e provocando fome na Islândia e em outras partes da Europa.

Até agora o vulcão Eyujafjallajökull só causou um caos no tráfego aéreo e um enorme prejuízo às empresas aéreas. Pode ser que o pior esteja por vir.

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