sábado, 18 de setembro de 2010

Le Monde espionado pelo Palácio do Eliseu*


O presidente Sarkozy entrou no turbilhão de um Sarkozygate?

Desde segunda-feira, 13 de setembro, quando o jornal Le Monde publicou uma matéria de capa assinada por Sylvie Kauffmann, diretora da redação, sob o título « Affaire Woerth : o Eliseu violou a lei sobre o segredo das fontes jornalísticas » o “Affaire Bettencourt” que se tornou “Affaire Bettencourt-Woerth” pode se transformar em “Affaire Bettencourt-Woerth-Sarkozy” por conta das novas revelações do jornal. Ou, simplesmente, « Sarkozygate », como já o chamam alguns politicos da oposição.

«O Eliseu utilizou o serviço de contra-espionagem para identificar uma fonte do Monde ». Sem meias palavras, o « jornal de referência » da França acusa o Palácio do Eliseu de « ter empregado métodos que infringem a lei de proteção das fontes jornalísticas » quando ordenou aos serviços secretos (Direction Centrale du Renseignement Intérieur – DCRI) uma investigação dos telefonemas dados e recebidos por pessoas que, em julho, haviam tomado conhecimento do depoimento de Patrice de Maistre, administrador da fortuna da dona da L’Oréal, Madame Liliane Bettencourt. O depoimento, que colocava o atual ministro do Trabalho, Eric Woerth, em situação difícil, foi comentado no dia seguinte pelo Le Monde em matéria exclusive, assinada pelo jornalista Gérard Davet. A versão de Patrice de Maistre desmentia a de Woerth sobre o emprego de sua mulher, Florence Woerth, pela empresa que administra os bens da proprietária da L’Oréal.

Daí à caça a possíveis responsáveis pelo « vazamento » foi um pulo. Os serviços de espionagem tiveram acesso às ligações telefônicas dos « suspeitos » e revelaram que um magistrado, David Sénat, assessor especial da ministra da Justiça, Michèle Alliot-Marie, teve contato com o jornalista que assinou a matéria. Grande coincidência : o magistrado foi transferido no mês de agosto para Caiena, capital da Guiana Francesa. Punição ? De modo algum, nega o porta-voz do ministério da Justiça. O magistrado queria voltar a trabalhar « sur le terrain », deixando os gabinetes da burocracia administrativa. Foi mandado para a Guiana para implantar um tribunal. Por acaso, mas isso é apenas uma coincidência, era lá que, no passado, os antigos prisioneiros faziam serviços forçados.

O Le Monde informou que instruiu seus advogados a ajuizar uma ação na qual o réu é desconhecido, que no direito francês corresponde a « déposer une plainte contre X ».

No « affaire Bettencourt-Woerth » há suspeitas de financiamento ilegal da campanha de Sarkozy para presidente, uma Legião de Honra concedida ao administrador da fortuna da proprietária da L’Oréal (recomendada por Woerth), um cargo importante na empresa que administra essa fortuna dado à esposa do ministro (em troca da Legion d’Honneur ?), evasão fiscal de muitos milhões de euros na Suiça da fortuna de Liliane Bettencourt, entre outros escândalos.

Até hoje, o presidente e seus ministros tentaram formar um cordão de proteção a Eric Woerth negando todas as acusações e garantindo o apoio incondicional ao ministro. Jornalistas americanos e ingleses entrevistados pela televisão foram categóricos desde o princípio do caso: tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, Woerth não seria mais ministro há muito tempo.

O editorial de primeira página da segunda-feira (jornal datado de 14 de setembro) se intitula « Le Monde, l’Elysée et la liberté d’informer ». O texto lembra que foi sob o governo Sarkozy que o segredo das fontes jornalísticas foi reforçado por uma lei que diz : « O segredo das fontes dos jornalistas fica protegido no exercício de sua missão de informação do público ».

No texto assinado por Sylvie Kauffmann, o jornal lembra que a lei diz expressamente que « é considerado como um atentado indireto ao segredo das fontes o fato de tentar descobrir as fontes de um jornalista através de investigações dirigidas a qualquer pessoa que, por suas relações habituais com um jornalista, pode deter informações permitindo identificar as fontes ». Kauffmann lembra, ainda, que um jornalista pode manter o silêncio sobre suas fontes mesmo interrogado no contexto de uma investigação judiciária.

O « Affaire Bettencourt » começou com uma denúncia da filha da milionária de que o fotógrafo François-Marie Banier abusava da fragilidade psicológica de Liliane Bettencourt. Segundo a filha de Madame Bettencourt, sua mãe já havia doado ao amigo gay _ que ela chegou a pensar em adotar como filho _ o equivalente a um bilhão de euros. Em pouco tempo, as investigações em torno das doações da milionária apontavam para financiamento ilegal da campanha de Nicolas Sarkozy, via Eric Woerth, que de tesoureiro do partido do presidente (UMP) se transformou em ministro do Planejamento e atualmente, do Trabalho.
O Sarkozygate está apenas começando.

*Artigo de Leneide Duarte-Plon publicado originalmente no Observatório da Imprensa em 15-09-10


Seu Deca e Zé Perri

O autor do « Pequeno Príncipe », Antoine de Saint-Exupéry foi, na década de 30, um dos pioneiros da Aéropostale, empresa francesa que ligava a Europa ao continente Sul-americano, desde Natal até o sul da Argentina.

O correspondente do Le Monde no Brasil, Jean-Pierre Langellier conta em um delicioso artigo que um dos pescadores da ilha de Florianópolis ficou amigo de Saint-Exupéry. Cada vez que Saint-Exupéry ia desembarcar em Florianópolis, seu Deca era avisado pelo rádio que seu amigo « Zeperri » estava chegando. A amizade dos dois homens foi contada pelo filho de seu Deca, Getúlio, que vive em Florianópolis, no livro intitulado «Deca e Zé Perri ».

Zé Perri, com o « pseudônimo » de Antoine de Saint-Exupéry, escreveu alguns anos depois de suas viagens na Aéropostale o genial Le petit prince, um conto poético e filosófico sob a aparência de um conto para crianças. Ilustrado pelo próprio autor, O pequeno príncipe foi publicado em Nova York em 1943 e somente depois ganhou uma edição francesa.

O maior fenômeno editorial de língua francesa foi traduzido em 104 línguas e já vendeu mais de 80 milhões de exemplares. A obra inspirou um musical, uma ópera, além de fazer parte do programa escolar de inúmeros países e ser o livro de cabeceira de nossas misses. No Japão, existe até um museu do Pequeno Príncipe.


Murakami invade Versalhes

Nunca tinha ouvido falar em Murakami até o dia em que o artista japonês « invadiu » o Palácio de Versalhes com suas obras de arte inspiradas na estética dos mangas japoneses. Pessoalmente, acho o que ele faz excelente para colecionadores de objetos « kitsch ». Mas o diretor de Versalhes, ex-ministro da Cultura, Jean-Jacques Aillagon, deve gostar.

Este mês, formou-se em Paris e em Versailles dois partidos : o dos defensores e o dos detratores de Murakami. Há quem considere que a arte de Damien Hirst, Jeff Koons, Murakami e outros que encantam os milionários seja uma heresia quando colocada lado a lado com as maravilhas clássicas do palácio do Rei-Sol. Outros, como Aillagon, apreciam a polêmica que atrai mais visitantes para um dos monumentos franceses mais visitados por turistas do mundo inteiro.

Murakami e seus horríveis bonecos de plástico colorido podem ser apreciados (ou execrados) no Palácio de Versalhes até o dia 12 de dezembro.

Um Nobel da Paz para Netanyahu?

Deu no L’Humanité:

O jornal The New York Times identificou 40 grupos americanos que coletaram 200 milhões de dólares de doações dedutíveis de imposto para as implantações judaicas na Cisjordânia em Jerusalém-Leste, que como todos sabem fazem parte do futuro (e cada vez mais improvável) Estado Palestino, conforme previsto na partilha da ONU de 1948.

Em princípio, o dinheiro é destinado a escolas, sinagogas e centros de lazer. Mas ele financia também casas e apartamentos, cães de guarda, coletes à prova de bala e veículos para a segurança das regiões ocupadas, entre outras coisas.
Enquanto Netanyahu negocia de um lado com o presidente da Autoridade Palestina, os judeus americanos financiam de outro a continuação da colonização em terras palestinas.

Depois do Prêmio Nobel da Paz atribuído em 1994 a Shimon Peres, Arafat e Isaac Rabin e do Nobel da Paz atribuído a Barack Obama no ano passado, um Nobel para Netanyahu ?

Tudo é possível neste “mad, mad, mad world”.


Dengue na Côte d’Azur

A Côte d’Azur está em polvorosa.

Os médicos franceses descobriram a dengue no Sul da França. A notícia ocupou uma página inteira pelo Le Monde : « A dengue coloca o sul da França em alerta sanitária ». O primeiro caso de dengue « autóctone », contraída por alguém em território francês, foi anunciado dia 13 de setembro em Nice. Imediatamente o Sul da França entrou em vigilância sanitária para o combate ao mosquito tigre chamado pelos cientistas de « aedes albopictus ».

Em Paris, o Institut Pasteur é o centro nacional de referência para a doença que começa a se aproximar lentamente da rica Europa.

A mundialização inclui agora a dengue, graças aos mosquitos que vêm fazer turismo em solo europeu.

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