domingo, 5 de setembro de 2010

Carla Bruni-Sarkozy e Jesus : mesmo combate

Libération publica há vários dias cartas dirigidas a Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana acusada de adultério e condenada à morte por lapidação. Isabelle Adjani, Jeanne Birkin, Bertrand Delanoë (o prefeito de Paris), os ex-presidentes Chirac e Giscard d’Estaing, entre outros, escreveram à iraniana. Carla Bruni-Sarkozy escreveu : « O que pode lhe acontecer ferirá profundamente todas as mulheres, todas as crianças, todas as pessoas dotadas de sentimentos humanitários »… « Do fundo de sua cela, saiba que meu marido defenderá sua causa e a França não a abandonará ».

O jornal iraniano « Kayhan », considerado porta voz do islamismo radical, criticou a primeira-dama francesa e chamou-a de « prostituta ». Para desfazer o mal-estar diplomático, o ministério das Relações Exteriores do Irã divulgou um comunicado condenando o palavreado obscurantista do jornal. Mas a sentença permanece.

Vale lembrar que a morte por lapidação aos acusados de adultério foi instituída por Moisés e era ainda praticada pelos judeus no tempo de Jesus. A lei de Moisés que determina a pena de morte para o homem e para a mulher adúlteros está no livro de Levítico, no Antigo Testamento.

Um dos momentos cruciais da pregação de Jesus pode ser lido no Evangelho de João. Os fariseus trazem a Jesus uma mulher acusada de adultério, com a intenção de colocá-lo à prova. Se ele a absolver, pode ser acusado de não cumprir a lei de Moisés. Jesus dá sua sentença : « Quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra ». Eles se retiram um a um e Jesus se dirige à mulher dizendo : « Onde estão os teus acusadores ? Ninguém te condenou ? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais ».
Não sei quando o povo judeu deixou de cumprir essa determinação bárbara da lei mosaica. O jovem profeta de Nazaré deve ter uma parte de responsabilidade nisso.


« Reconduzidos » à fronteira

Rom, tzigane, romanichel, gitan, bohémien. A língua francesa é rica em vocábulos para designar os ciganos, oriundos da Europa do Leste, sobretudo da Romênia e Bulgária. Além de todas essas palavras, o francês ainda tem a expressão gens du voyage para designar esse povo nômade que chega com suas casas sobre rodas e estaciona em áreas previamente demarcadas pelas municipalidades.

Acontece que o governo Sarkozy resolveu eleger os ciganos como bode expiatório ideal, como os nazistas designaram o judeu em outros tempos. O cigano é hoje para a França o que judeus e os próprios ciganos foram para a Alemanha nazista, que matou milhares de nômades, considerados sub-raça, em campos de concentração.

As novas leis repressivas já permitiram a « recondução à fronteira » de centenas de ciganos. Esse delicado eufemismo da comunicação oficial substitui o antipático « expulsão ». « Reconduzidos » a seus países de origem, os ciganos pretendem voltar assim que puderem pois na Bulgária e na Romênia são tão discriminados e perseguidos quanto na França ou na Itália. E quando os dois países assinarem os derradeiros acordos com a União Européia, eles terão os mesmos direitos de livre circulação que um inglês ou um belga.

A ONU, a União Européia, a igreja católica, inclusive Bento XVI, criticaram em uníssono o desvio securitário do governo, que resolveu lançar a caça aos ciganos no momento em que o caso Bettencourt-Woerth ameaçava respingar no presidente.

Indignado, o padre Arthur Hervet, de 71 anos, que trabalha na assistência aos « roms » na cidade de Lille, não se conteve e declarou a um jornal : « Rezo para que Nicolas Sarkozy tenha uma crise cardíaca ». Depois, caiu em si e se retratou pedindo desculpas pelo excesso de sua indignação. Em uma das entrevistas que deu, o padre Arthur revelou : votou em Sarkozy em 2007.

Ninguém é perfeito.

Kouchner discorda … mas não larga o cargo

Todo mundo sabe que os responsáveis pela política externa da França são o secretário-geral do Eliseu, Claude Guéant, o chefe do setor diplomático do Eliseu Jean-David Levitte e o próprio presidente. O ministro Bernard Kouchner, ex-socialista que trocou de camisa e virou ministro de Sarkozy, manda muito pouco. Esta semana ele declarou que quase pediu demissão por discordar da política do governo em relação aos ciganos. Mas o fato é que não pediu demissão e continua no Quai d’Orsay onde brilha pela opacidade.

Com um bom cálculo político manteve o (excelente) salário de ministro, as honras e o brilho do cargo e garante, ao mesmo tempo, a permanência de sua mulher, a jornalista Christine Ockrent, vice-presidente do canal internacional da TV pública France 24, chamado oficialmente Audiovisuel Extérieur de la France (AEF).

Pedófilos no ar

Todo adulto sentado num avião ao lado de uma criança é um pedófilo potencial. Essa é a convicção da Air France.

Há poucos dias a companhia reforçou a norma que proíbe a um adulto de viajar no mesmo bloco de poltronas ao lado de uma criança desacompanhada, de menos de 12 anos.
O sindicato da companhia protestou alegando que em caso de despressurização que necessite o uso da máscara ou outra emergência que necessite do colete salva-vidas ninguém poderá socorrer a criança sentada sem nenhum adulto.

Um passageiro da Bitish Airways, que aplica a mesma norma da Air France, processou recentemente a companhia inglesa por discriminação e ganhou o processo. Ele havia sido proibido de sentar-se perto de uma criança não- acompanhada.

Nenhum comentário: