Berlusconi e Sarkozy
O jornalista Robert Maggiori, professor de filosofia e intelectual respeitado, escreveu esta semana no jornal Libération um artigo para criticar o presidente francês, tendo como pretexto a reação de estudantes e professores, em janeiro deste ano, à ida do papa Bento XVI à Universidade La Sapienza de Roma.
A separação da igreja e do Estado, prevista pela lei de 1905, voltou a ocupar um grande espaço no debate político depois que Sarkozy, que se diz católico, fez diversas referências ao papel civilizatório da religião e falou explicitamente de Deus. Seus discursos, feitos em Roma e em Riad, indignaram os defensores da laicidade “à la française”.
Em Roma, estudantes e professores escreveram nos muros da universidade La Sapienza: “A ciência é leiga”. Formou-se um verdadeiro movimento anti-papa e o Vaticano anulou a visita de Bento XVI, que tem-se revelado um grande reacionário sobre todos os temas ligados a família, aborto, homossexualismo, procriação assistida e eutanásia.
Esse papa não escreveu recentemente que a única igreja de Cristo na terra é a Igreja Católica? Os protestantes da Europa protestaram, absolutamente chocados com esse retrocesso no ecumenismo iniciado por João XXIII.
Antes de comentar o incidente entre os defensores da laicidade e o Vaticano, Maggiori desenha um retrato do presidente francês Nicolas Sarkozy, aproximando-o do italiano Silvio Berlusconi.
Reproduzo a comparação entre Berlusconi e Sarkozy no texto de Maggiori: “O mesmo populismo, o mesmo autocratismo, o mesmo histrionismo, o mesmo gosto imoderado pelos holofotes, a mesma maneira de tratar os colaboradores e aliados como vassalos, a mesma vontade de controlar a informação (controle efetivo para um, mas em latência para outro) a mesma incultura literária e filosófica – dá para imaginar um deles com um livro na mão? – a mesma habilidade retórica, a mesma maneira de exibir a riqueza. Mas um ponto comum merece ser destacado: divorciados e pais de filhos de mulheres diferentes – situação que a Santa Igreja romana não aprecia muito – eles afirmam as virtudes da religião e tentam desqualificar a laicidade”.
Nós que conhecemos outro populista com um gosto imoderado pelos holofotes, temos outro modelo para aproximar de Nicolas Sarkozy. Fernando Collor de Mello e Nicolas Sarkozy se assemelham em muitos aspectos (exibicionismo às câmeras na prática do cooper é apenas um detalhe em comum), entre eles a incultura e a demagogia. Fora outras semelhanças que os jornais não ousam publicar, mas que se comenta nos salões de Paris.
A nossa sorte é que Collor não terminou o mandato, expulso do palácio por um impeachment, inexistente no direito francês.
Nicolas Premier
Saiu este mês um livro chamado "Chroniques du règne de Nicolas Ier", de Patrick Rambaud (que foi Prix Goncourt em 1997 pelo livro “La Bataille”).
O livro é uma paródia dos textos de Saint-Simon e descreve Nicolas Ier e sua corte com um texto absolutamente delicioso. Jamais o sobrenome Sarkozy é mencionado (como Bonaparte se tornou Napoleão Ier, esse suspeito de querer inaugurar uma dinastia, pode vier a ser Nicolas Ier). Ele é tratado no livro como Notre Maître Absolu, Son Ombrageuse Majesté, Notre Fortifiant Leader, Notre Rusé Souverain, Notre Leader Maximum etc.
O memorialista faz dele um personagem embriagado de si mesmo, atraído por tudo o que brilha e, além do mais, inculto. Os personagens do governo são descritos como uma caricatura dos nobres das antigas cortes francesas. Tudo com um tom satírico.
O Nicolas real e de carne e osso vai inspirar muitos outros livros.
Ele não foi capaz de ficar consultando os SMS do celular enquanto esperava no Vaticano a entrada de Bento XVI?
“Président bling bling”
Você sabe quem é bling bling?
Adivinhou. Bling bling é o novo apelido que a imprensa francesa deu a Sarkozy pelo seu “gosto pelo luxo”. A onomatopéia não é nova, como explica o jornal Le Monde. Ela vem do mundo dos rappers e designa o barulho das pulseiras de ouro (ou colares) que chacoalham nos braços e nos pescoços dos que os usam.
Mas foi Libération quem chamou pela primeira vez o hóspede do Eliseu de “président bling bling”. A Time explicou que o termo é usado em francês para “descrever atitudes de nouveau riche como as do presidente Sarkozy que usa roupas caras, óculos de marca conhecida e relógios caros e extravagantes”.
O que tornou Sarkozy um presidente bling bling? Os relógios de luxo (Rolex), óculos Ray-Ban e o fim de semana, logo depois de eleito, no iate de um milionário, depois de festejar a vitória no Fouquet’s (um restaurante de altíssimo luxo) ao lado de um pequeno grupo de rich and famous.
Agora, o presidente se casou com uma top model que ele tem que esconder para não chocar mais ainda a opinião pública francesa, que não lhe perdoa o exibicionismo de sua vida privada. O casamento foi feito na mais discreta intimidade, sem nenhuma foto em nenhum jornal e a primeira dama literalmente se esconde para não aumentar a queda vertiginosa do marido nas pesquisas de opinião. O nível de aprovação do presidente não pára de cair.
O brilho e o luxo do “presidente bling bling” contrasta com a perda de poder aquisitivo da maioria dos franceses, que esperam ainda as promessas do candidato de que seria o “presidente do poder aquisitivo”.
Lula na Guiana
Os telejornais franceses mostraram o presidente Lula em camisa, ao lado do presidente francês Sarkozy, de terno e gravata. O encontro era em território francês, na fronteira com o Brasil.
Mas foi o enviado especial do jornal Libération, Antoine Guiral, quem relatou o detalhe. Vale a pena reproduzir o que diz o jornal na matéria: En Guyane, Lula traverse le fleuve et Sarkozy, des “difficultés”.
“Logo que desembarcou no território francês, Lula roubou a cena a seu anfitrião. Foi aclamado por uma multidão que dizia seu nome, mas não dizia o de Sarkozy. Em sua fala, Lula zombou das promessas dos presidentes franceses lembrando que, há dez anos, “outras fotos e outros discursos foram feitos aqui” sem que a ponte sobre o Rio Oiapoque fosse construída (segundo Sarkozy será em 2010)”.
Decididamente, Sarkozy está passando por momentos difíceis. Nesse caso, seria melhor não aparecer ao lado de um presidente popular como Lula.
Robbe-Grillet: imortal malgré lui
Eleito imortal no dia 25 de março de 2004, Alain Robbe-Grillet morreu esta semana sem ter degustado a “imortalidade” da Academia Francesa, o templo das letras francesas.
Ele não queria vestir o fardão, não queria portar a espada, nem submeter-se à cerimônia formal e totalmente anacrônica para seu espírito iconoclasta. E também não queria fazer um discurso com o elogio de Maurice Rheims (que o precedeu na cadeira que ocuparia) e muito menos ter que submeter seu discurso à academia antes de lê-lo. Resultado: nunca assumiu a cadeira.
O inventor do Nouveau Roman chegou a ser convidado a assumir em traje civil pela secretária perpétua da Academia, Hélène Carrère d’Encausse. Mas como ele queria que um canal de televisão filmasse e ela não o permitiu, fez-se um impasse.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
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