sexta-feira, 11 de abril de 2008

Gil dá nota sete a Lula

O nosso ministro da Cultura passou por Paris, onde se apresentou no sábado e no domingo (5 e 6 de abril) na Cité de la Musique. O jornal Libération publicou matéria do enviado especial a Bruxelas. Além da capital belga, o ministro se apresentou em Londres, Rotterdam, Paris e deve continuar sua turnê pela Suiça, Espanha e Tunísia. O jornalista Edouard Launet diz que quando se trata de política, o ministro responde sempre evasivamente, mas faz questão de dizer que quando está em turnê “tira férias não remuneradas do ministério”.
No verão europeu passado, fiz para a Folha de São Paulo uma matéria sobre a apresentação do ministro no Festival de Jazz de Marciac, que festejava 30 anos de sucesso. A Folha publicou a matéria sobre o show e a entrevista que fiz com o ministro ficou inédita. Não pude deixar de perguntar sobre a passagem desastrosa de Pedro Correa do Lago pela direção Biblioteca Nacional, quando desapareceram fotos e gravuras de grande valor. Gilberto Gil respondeu diplomaticamente.
Abaixo, a íntegra da entrevista inédita, que fiz para a revista Trópico e que acabou não sendo publicada.

Gilberto Gil : “Nota sete para Lula, porque nada é perfeito”

Leneide Duarte-Plon, de Marciac

O Brasil é hoje um país melhor, mais justo, e o governo Lula merece nota sete (sobre dez). Quem garante é o ministro da Cultura, Gilberto Gil. “Menos de sete, para mim seria injusto”, dizia, dedilhando seu violão, com ar de quem não tem pressa, pouco antes de subir ao palco do Festival de Jazz de Marciac, na França, no verão passado. Mais cool, impossível.
De passagem pela Europa para a temporada dos festivais de jazz, Gilberto Gil deu uma entrevista exclusiva no seu camarim, no ritmo da Bahia, enquanto fora tudo era correria e nervosismo. Nela, aborda temas difíceis como o confronto entra a imprensa e o presidente Lula, a polêmica saída do presidente da Biblioteca Nacional, Pedro Correa do Lago e explica por que aceitou o convite de Lula para dirigir a cultura por mais quatro anos.
“Apesar das minhas ponderações junto ao presidente, do cansaço, da necessidade de me afastar para retomar mais diretamente as coisas relativas à minha vida artística e às minhas tarefas pessoais, acabei aceitando as ponderações do presidente”, diz o ministro-compositor detalhando essas ponderações.
Mesmo se referindo com respeito ao cantor e compositor Henri Salvador, Gil é categórico quanto à pretensão de Salvador de se atribuir a invenção da bossa nova: “A bossa nova propriamente foi criada lá no Brasil”.


LDP: Como fica a agenda do ministro quando o cantor-compositor viaja?

Gilberto Gil : A do ministério fica com o ministro interino que me substitui, que pode ser o número dois do ministério ou vários secretários que já foram chamados a assumir em diferentes momentos. Eu saio de férias, peço uma licença específica de férias. Tem sido assim durante os últimos 5 anos.

LDP: O que o presidente Lula fez para convencê-lo a aceitar uma segunda gestão no ministério?

Gilberto Gil : Ele ponderou muito, argumentou muito no sentido de que achava interessante, importante que nós déssemos continuidade ao trabalho à frente do ministério, pela liderança que tinha sido estabelecida, pelas relações especiais que foram estabelecidas com os colaboradores do ministério e também com a repercussão do trabalho do ministério, que acabou acolhido em setores amplos da população brasileira, com um desempenho pelo menos razoável. Apesar das minhas ponderações junto ao presidente, do cansaço, da necessidade de me afastar para retomar mais diretamente as coisas relativas à minha vida artística e às minhas tarefas pessoais, acabei aceitando as ponderações do presidente que eram também amparadas por uma certa manifestação razoavelmente ampla de setores culturais do Brasil e da população brasileira, no sentido de uma aprovação do trabalho que tinha sido feito e de uma reiteração para que uma continuidade se fizesse. Foi sso que me convenceu.

LDP: Que nota você daria ao governo Lula, de 1 a 10?

Gilberto Gil : Sete. Porque nada é perfeito. Nota dez é impossível, eu não daria a nenhuma gestão, nem pública nem privada. Mas a gestão do presidente Lula tem sido suficientemente eficaz para pautar de uma forma adequada as questões brasileiras internas, pautar de uma forma adequada as questões das relações do Brasil com o mundo, as questões da inserção do Brasil na mundialização para especialmente pautar as questões brasileiras com a reconhecida dívida social histórica que o país tem através de políticas públicas novas ligadas ao social, criativas com resultados que os números e as estatísticas confirmam como sendo exitosos. Então, menos do que nota sete, para mim seria injusto.

LDP: O presidente Lula tem governado com a imprensa praticamente toda contra ele, fazendo campanha para afastá-lo. Como você avalia essa campanha?

Gilberto Gil : A imprensa brasileira não sei se pode ser responsabilizada por esse tipo de atitude. Setores da sociedade brasileira sim, se manifestam abertamente a favor de uma interdição, de um afastamento, seja ele de que maneira for. Já falaram até em impeachment num determinado momento. Mas a imprensa brasileira... eu não a responsabilizaria, a não ser aqui e ali, manifestações muito explícitas de algum jornalista contra o governo e a favor de uma interdição do governo. Mas no sentido geral, não arrolaria a imprensa brasileira nesse campo dos que efetivamente, explicitamente trabalham pelo afastamento do presidente Lula.

LDP: Você acha que hoje o Brasil é melhor ou pior do que há 5 anos ? Por quê?

Gilberto Gil : Acho que é melhor, porque o mundo é melhor, apesar de haver opiniões em contrário.

LDP: O Brasil é melhor por quê?

Gilberto Gil : Porque está no mundo e tem consciência clara dessa inserção no mundo, dialoga com essa dimensão das suas responsabilidades internacionais de uma forma muito importante, do ponto de vista da economia, do ponto de vista da política, do ponto de vista do respeito aos direitos, do ponto de vista da emergência de novos direitos, da condição cada vez mais difusa dos direitos que se espalham de muitas maneiras em muitos setores da vida, um país cada vez mais cioso da sua condição democrática, com um governo também muito cioso disso, que trabalha nessa direção e nessa proposta, apesar de tudo. Então, eu acho que é melhor, mesmo do ponto de vista das avaliações objetivas que se possa fazer, através dos índices, das estatísticas, dos indícios confirmáveis através de números. O país está melhorando.

LDP: Você nomeou Pedro Correa do Lago presidente da Biblioteca Nacional. Ele saiu no bojo de uma denúncia de desaparecimento de fotos e documentos históricos. Alguns jornalistas disseram que você teria colocado a raposa para tomar conta do galinheiro, já que ele é colecionador. Como ficou essa história?

Gilberto Gil : Nunca vi dessa maneira. A indicação do Pedro na ocasião veio de setores confiáveis ou pelo menos consideráveis do mundo cultural brasileiro. Eu tive na ocasião o cuidado de submeter o nome à apreciação de vários agentes culturais importantes do Brasil, não tive nenhuma contra-indicação.

LDP: As acusações contra ele não tinham cabimento?

Gilberto Gil : As acusações contra ele foram a posteriori, em relação à gestão dele. As áreas incomodadas ou afetadas por uma gestão supostamente incompetente dele tiveram amplo direito e amplas oportunidades de comprovar as suas teses contrárias à gestão dele. Nada o incriminou. O afastamento dele se deu por uma questão política, aí sim, exatamente por uma questão de instabilidade, da dificuldade de ambiente que se criou em relação à presença dele. Foi um afastamento de comum acordo.

LDP: O ano do Brasil na França foi um sucesso absoluto graças ao trabalho do seu ministério, à vontade política do governo e também dos franceses que investiram muito dinheiro, tempo e trabalho na realização de muitos eventos. A França vai fazer o ano da França no Brasil. Vai ser importante para o Brasil?

Gilberto Gil : Acho que sim. Não sei em que medida o governo brasileiro e mesmo a sociedade brasileira e o mundo empresarial teriam capacidade de investir na intensidade com que a sociedade francesa investiu para o ano do Brasil na França. Mas, de qualquer forma, nós já estamos trabalhando junto ao governo brasileiro para que haja dotações específicas de orçamento não somente na cultura mas em outras áreas para fazer face ao custo das iniciativas que terão de ser feitas.

LDP: O ano da França no Brasil é importante para o seu ministério?

Gilberto Gil : Acho muito importante porque a França é um berço da cultura universal com contribuições reconhecidas e indiscutíveis no campo das artes, das ciências sociais, no campo da política e mais recentemente no campo das técnicas, das indústrias, do comércio. E à semelhança do que foi o ano do Brasil na França, é um ano em que a dimensão cultural não é vista no sentido restrito daquilo que diz respeito apenas às artes, às manifestações puramente simbólicas. O papel da academia, o papel do mundo empresarial, da sociedade civil com suas iniciativas, com suas tecnologias sociais, tudo isso tem muita importância para o Brasil, para o mundo e para a francofonia de um modo geral. A França tem responsabilidades históricas com a África, com o Caribe, com setores considerados ainda não completamente incluídos na fruição da riqueza material e simbólica e, portanto, tem importância muito grande. Tudo o que o Brasil venha a fazer para estabelecer uma reciprocidade no ano da França no Brasil, à imagem do que tivemos no ano do Brasil na França, será feito.

LDP: Quando você se apresenta num festival de jazz leva em conta algum repertório especial ?

Gilberto Gil : Não necessariamente. Os festivais de jazz desde há alguns anos vêm ganhando uma abrangência maior do ponto de vista de gêneros e estilos. Não se restringem mais ao jazz como é conhecido. O Festival de Nice, o festival de Juan Les Pins, na França, o de Montreux, na Suíça, Peruggia, na Itália, o da Finlândia. Todos eles já vêm incorporando de há muito elementos do pop internacional, dos estilos mais ligados a determinadas regiões como a música cubana, a música brasileira, a música árabe. Como não sou propriamente um músico de jazz não me atenho ao sentido clássico ou convencional do jazz, faço meu trabalho. Faço o meu repertório da turnê.

LDP: O jornal Le Monde disse em uma reportagem sobre a bossa nova e freqüentemente a imprensa francesa também repete essa informação: Henri Salvador é o inventor da bossa nova. Ele já foi até apresentado na TV francesa assim. O que você acha desse mito?

Gilberto Gil : Tem gente que de alguma maneira está na origem da bossa nova. Por ter sido um dos músicos que fora do Brasil teve mais influência na geração que acabou sendo responsável pela criação da bossa nova como Tom Jobim, João Gilberto, Baden Powell, Carlos Lyra, Roberto Menescal. Toda essa gente teve no Henri Salvador, com também eu e Caetano, uma referência importante pela procedência latina do trabalho. Henri Salvador é de origem antilhana e depois pela própria atitude cool, aquela forma tranqüila, quieta, calma, de encarar a música e a forma de emitir as sonoridades e escolher as canções.

LDP: Mas é um exagero da imprensa francesa atribuir a Henri Salvador a invenção da bossa nova, é um chauvinismo levado ao extremo, não?

Gilberto Gil : Acho que nem ele próprio tem essa presunção. Ele está muito ligado ao Brasil, passou muitos anos lá, numa fase importante da carreira dele, tem muitos amigos brasileiros, tem um carinho especial pela música brasileira. Mas o Chet Baker também foi considerado um dos inspiradores e padrinhos da atitude cool da bossa nova. Todos eles estariam no conjunto de referências importantes para a criação da bossa nova. A bossa nova propriamente foi criada lá no Brasil.

Um comentário:

Anônimo disse...

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