sexta-feira, 25 de abril de 2008

Paris-Pequim: a corrida de obstáculos

As imagens são impressionantes : a bandeira tricolor (bleu, blanc, rouge) com o símbolo nazista é queimada diante de vários supermercados Carrefour, na China. Chineses gritam, indignados, slogans anti-franceses. Na web, outros incitam ao boicote dos produtos franceses.

Depois que a tocha olímpica passou por Paris e foi alvo de manifestações hostis de tibetanos, de franceses pró-Tibet e de militantes da ONG Réporters sans Frontières, que chegou a colocar uma grande bandeira na fachada da Notre-Dame com os anéis olímpicos com a forma de algemas, o clima entre a China e a França ficou sujeito a chuvas e trovoadas. No dia do desfile, o percurso da tocha encurtou, ela passou parte do tempo escondida num ônibus, que seguia os policiais e o aparato de carros para protegê-la.

Mas a proteção de milhares de policiais franceses espalhados por Paris não impediu as manifestações pró-Tibet. E os chineses se sentiram ultrajados.

Os chineses de Paris fizeram diversas manifestações públicas, com bandeiras e slogans, em defesa do governo chinês e das olimpíadas. Eles culpam os franceses pelo fiasco da festa da tocha na cidade-luz. E em toda a China, patriotas melindrados começaram a conclamar ao boicote dos produtos franceses, através da internet, para responder aos franceses que pregam o boicote aos jogos olímpicos. O supermercado Carrefour, que tem dezenas de pontos de venda em todo o país, é o mais atingido pela campanha de hostilidades.

A situação começou a ficar tão séria que Sarkozy mandou dois emissários a Pequim, o ex-primeiro ministro Jean-Pierre Raffarin e o presidente do Senado, com cartas pessoais ao presidente da República e à atleta chinesa paraplégica, que desfilou em Paris com a chama na mão, protegendo-a com seu próprio corpo no mometo em que um tibetano tentou arrancá-la de suas mãos. Ela se tornou uma heroína do dia para a noite na China.

Raffarin levou ao presidente chinês a biografia do General De Gaulle, o presidente que reconheceu a China Comunista, com a dedicatória de Sarkozy.

Para piorar o clima de tensão, Bertrand Delanoë, o prefeito de Paris recém-reeleito, propôs o título de cidadão de Paris ao Dalai Lama e ao dissidente chinês Hu Jia. Foi a gota d’água. De um lado o presidente francês tenta acalmar os ânimos, do outro lado o socialista Delanoë homenageia um dissidente e o Dalai Lama.

Os chineses, pouco acostumados ao debate de opiniões e à liberdade de posições divergentes coexistindo num mesmo país, consideraram a homenagem uma provocação e uma interferência nos negócios internos chineses.

Na China, há uma grande manifestação anti-francesa programada para o dia 1° de maio.
Será que as chinesas emergentes vão deixar de comprar suas caras bolsas Louis Vuitton e seus perfumes Chanel n° 5 em protesto contra o país que pretende dar lições de direitos humanos à China?

Sarkozy tem 28% de aprovação

Nicolas Sarkozy está no mais baixo nível de aprovação de um presidente francês, no fim do primeiro ano de mandato: 72% dos franceses desaprovam sua ação, segundo pesquisa publicada esta semana.

O jornal de direita Le Figaro prefere dar a seus leitores a informação pelo ângulo positivo. Diz que 28% dos franceses aprovam o governo Sarkozy.

Nesta quinta-feira à noite, o presidente falou aos franceses num debate com cinco jornalistas representando diversos canais de televisão. Ele tentou explicar suas opções e justificar por que os franceses têm o sentimento de que as promessas eleitorais não transformaram suas vidas.
A inflação e a queda do poder aquisitivo é o assunto diário na mídia francesa e “le moral des ménages” (o moral das famílias) só faz se degradar. A inflação de 2007, a maior dos últimos anos, vai fazer com que o governo antecipe a revalorização do salário mínimo (Smic), feita todos os anos em 1° de julho. Este ano, dia primeiro de maio, o Smic será aumentado de 2,3%, o que não chega a cobrir a inflação oficial, que foi de 2,6% em média.

No bolso dos dois milhões de assalariados franceses que ganham o salário mínimo a inflação foi sentida como bem maior pois o básico, isto é, os alimentos, o gás, a eletricidade e a gasolina tiveram aumentos bem acima da taxa média da inflação.

Mitterrand e o fantasma de Vichy

Na terça-feira, o canal France 2 (estatal) levou ao ar o “docu-fiction” (um filme de ficção baseado em fatos reais, geralmente tirado de um livro ou entrevistas) “Mitterrand em Vichy”.

Trata-se do período de um ano em que o jovem Mitterrand, aos 24 anos, passou na cidade de Vichy, onde estava instalado o governo colaboracionista do general Pétain, depois da rendição aos alemães. Mitterrand acabava de voltar da Alemanha, depois de se evadir de um campo de soldados franceses prisioneiros.

Essa passagem da vida do presidente socialista esteve ocultada até 1994, dois anos antes de sua morte, quando o jornalista Pierre Péan lançou o livro “Une jeunesse française”, que repercutiu como uma bomba entre amigos e inimigos do velho presidente.

Era o último ano do mandato de Mitterrand, que governou por 14 anos a França. O presidente veio a público explicar como e por que motivos trabalhou como documentarista para o governo de Vichy até cair na clandestinidade e se entregar corpo e alma à Resistência e à libertação da França.

O nome Vichy na França ficou conotado para sempre. A elegante e hoje démodée cidade de estação de águas virou sinônimo do governo colaboracionista. Seu nome ficou ligado ao crime do Estado francês que entregou os judeus, nascidos na França ou vindos de outros países europeus, ao ocupante nazista. A grande maioria não voltou dos campos de concentração.

Chirac, em um discurso memorável, reconheceu a responsabilidade da França na prisão e deportação dos judeus franceses para os campos de concentração nazistas. Mitterrand sustentava que não era a França a responsável por esse crime, mas um grupo de franceses que governou o país sob ocupação.

O filme foi seguido de um documentário em que jornalistas como Edwy Plenel e intelectuais como Edgar Morin e Jean Lacouture discutiam o passado vichysta de Mitterrand e o choque que as revelações do livro provocaram na época.

Aposentadoria

Na semana passada uma pessoa ganhou sozinha o prêmio da loteria chamada Euromilhões, vendida em vários países da Europa.

Era um francês.

O prêmio dá para resolver os problemas da maioria das pessoas. Com 58.367.681,00 de euros na conta corrente qualquer um pode se aposentar com tranqüilidade.

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