Liceus descem às ruas
“Lycéens en colère”. Este é o leitmotiv das passeatas (manifestations) dos estudantes de liceus (segundo grau) que vêm acontecendo há vários dias aqui em Paris. Hoje, quinta-feira, dia 3 de abril, eles saíram novamente às ruas para protestar contra a supressão de mais de 11 mil cargos de professores em todo o país, a partir do próximo ano letivo que começa em setembro. Muitos professores também participaram das passeatas organizadas pelos estudantes para defender a qualidade do ensino público. A “manif” de hoje passou pelo Boulevard du Montparnasse e logo que ouvi a sirene dos carros de polícia desci para fazer fotos. Os cartazes diziam, entre outras coisas, “De l’argent pour nos cours, pas pour la guerre!”, uma alusão à decisão de Nicolas Sarkozy de diminuir despesas, ao mesmo tempo que envia mais soldados franceses ao Afganistão. Outros cartazes diziam: “A educação custa caro? Tentem a ignorância.”
A organização de passeatas na França é definida por normas legais que envolvem diversos órgãos públicos para organizar a logística do fechamento de ruas e bulevares, desviar o trajeto de ônibus etc. A polícia abre e fecha os cortejos, dando proteção aos manifestantes, aos comerciantes e passantes, garantindo a ordem pública. Manifestar é um direito democrático exercido pelos cidadãos franceses como o direito de respirar. Aqui se faz passeata contra tudo e por tudo. Em Paris, nas épocas mais movimentadas como a que vivemos pode haver mais de uma passeata por semana. E a polícia garante a ordem como mera espectadora, enquanto o desfile for pacífico. Se grupos de “casseurs” (baderneiros) começam a quebrar vitrines ou virar automóveis, ela intervém para reprimir. Mas em geral, os policiais chegam e partem sem precisar agir. A presença deles é meramente persuasiva. Hoje, aconteceu uma pequena agitação e os policiais tiveram que intervir.
Esta é a terceira “manif” dos estudantes de liceu (segundo grau) em um mês. Duas delas passaram pelo Boulevard Raspail e fotografei do alto. Inclusive, quando alguns provocadores viraram um dos carros estacionados no canteiro central do Boulevard Raspail e começou uma correria. Depois de pequeno suspense, a maioria voltou a se impor, o desfile recomeçou e tudo transcorreu em paz. Os policiais nem precisaram intervir.
Na “manif” de terça-feira, dia 1° de abril, fiz a foto do professor que desfilava com as notas do resultado do bac nada brilhante de Nicolas Sarkozy. O bac, como todos sabem, é o exame final de segundo grau que dá direito ao diploma de acesso imediato ao ensino superior na França. Os aprovados podem se inscrever diretamente na universidade, sem novo concurso.
O resultado pífio do jovem Sarkozy foi publicado durante a campanha presidencial. Todos ficaram sabendo que ele nunca foi muito chegado aos livros.
Sarkozy, o melhor amigo dos EUA?
Sobre a decisão do governo francês de enviar mais soldados ao Afeganistão, para lutar com americanos e ingleses contra os talibãs, o respeitado historiador e demógrafo Emmanuel Todd, autor do livro “Après l’empire” (Depois do império) diz que é um erro diplomático e estratégico. Ele pensa que se a França se tornar um vassalo dos EUA, o país corre o risco de perder todo seu peso político.
No Parlamento francês, a bancada socialista condenou unanimemente o alinhamento à política dos Estados Unidos. O Parlamento francês não foi chamado a opinar e só coube aos deputados de esquerda protestar contra novo envio de tropas. A decisão de enviar mais soldados franceses foi tomada pelo presidente Sarkozy, que também decidiu que o país voltaria a fazer parte da OTAN. O General De Gaulle havia retirado a França da OTAN em 1966.
A utopia de Barenboim e do Paz Agora contra a realidade da ocupação
No Parlamento francês, a bancada socialista condenou unanimemente o alinhamento à política dos Estados Unidos. O Parlamento francês não foi chamado a opinar e só coube aos deputados de esquerda protestar contra novo envio de tropas. A decisão de enviar mais soldados franceses foi tomada pelo presidente Sarkozy, que também decidiu que o país voltaria a fazer parte da OTAN. O General De Gaulle havia retirado a França da OTAN em 1966.
A utopia de Barenboim e do Paz Agora contra a realidade da ocupação
O correspondente do Le Monde em Jerusalém, Michel Bôle-Richard, escreveu há um mês um texto em que comentava a posição de fraqueza de Ehoud Olmert, primeiro-ministro israelense, depois do fracasso da guerra de 34 dias contra o Hezbollah, em julho-agosto de 2006. O jornalista informava que a Anistia Internacional protestou contra o fato de a comissão Winograd, que fez um relatório sobre as causas da derrota de Israel, não ter denunciado “as violações pelo exército israelense das leis humanitárias internacionais bem como os crimes de guerra”. A Anistia Internacional menciona a utilização por Israel de bombas de sub-munição, que disseminaram 4 milhões de “mini-bombas” que ficam no solo e vão explodindo de vez em quando. Depois do fim da guerra, essas “mini-bombas” já mataram no sul do Líbano mais de quarenta civis, entre eles muitas crianças.
Enquanto essa notícia informava sobre bombas que vão explodir por muitos anos ainda, o maestro Daniel Barenboim, criador da orquestra Baremboin-Saïd, na qual tocam músicos judeus, palestinos e de vários países árabes, escrevia no mesmo dia um artigo no mesmo jornal para defender a dupla nacionalidade para israelenses e palestinos. E assinava, “Daniel Barenboim, israelense e palestino”.
Barenboim, filho de judeus nascido na Argentina, que tem a nacionalidade israelense, escreve: “Os israelenses devem estar preparados para a integração da minoria palestina, mesmo que seja revendo certos princípios do Estado de Israel; eles devem também compreender a necessidade e a legitimidade de um Estado palestino ao lado de Israel. Não somente não há alternativa, não há varinha mágica para fazer desaparecer a presença dos palestinos, mas essa integração é uma condição indispensável – moralmente, socialmente e politicamente – à sobrevivência de Israel”.
Barenboim termina seu artigo dizendo: “Em qualquer território ocupado, é o ocupante o responsável pela qualidade de vida do ocupado; no caso dos palestinos, os governos israelenses que se sucederam durante os últimos quarenta anos lamentavelmente falharam a essa tarefa. Os palestinos devem continuar a resistir à ocupação e a lutar contra as tentativas de negação de seus direitos e necessidades fundamentais. Mas, em seu próprio interesse, essa resistência não deve se expressar de forma violenta, que só pode trazer prejuízo à causa palestina. Por outro lado, os israelenses deveriam se mostrar tão preocupados com as necessidades e os direitos dos palestinos quanto são preocupados com os seus próprios. Nós que partilhamos uma mesma terra e um mesmo destino deveríamos todos ter a dupla nacionalidade”.
A utopia de Barenboim era dramaticamente desmentida no Le Monde de hoje. Segundo um relatório de 31 de março da organização não governamental israelense Paz Agora, depois da cúpula de Anápolis de novembro de 2007, na qual o primeiro-ministro de Israel Ehoud Olmert tinha se comprometido cessar totalmente a colonização, 495 novos prédios estão sendo construídos em 101 colônias.
O Paz Agora constata que as colônias continuam avançando por terras palestinas enquanto o presidente Abbas pede que cesse o processo de colonização que pode inviabilizar qualquer acordo de paz e de criação do Estado Palestino.
No início de seu mandato, o presidente Bush garantiu que antes de 2005 o Estado Palestino seria criado.
Enquanto essa notícia informava sobre bombas que vão explodir por muitos anos ainda, o maestro Daniel Barenboim, criador da orquestra Baremboin-Saïd, na qual tocam músicos judeus, palestinos e de vários países árabes, escrevia no mesmo dia um artigo no mesmo jornal para defender a dupla nacionalidade para israelenses e palestinos. E assinava, “Daniel Barenboim, israelense e palestino”.
Barenboim, filho de judeus nascido na Argentina, que tem a nacionalidade israelense, escreve: “Os israelenses devem estar preparados para a integração da minoria palestina, mesmo que seja revendo certos princípios do Estado de Israel; eles devem também compreender a necessidade e a legitimidade de um Estado palestino ao lado de Israel. Não somente não há alternativa, não há varinha mágica para fazer desaparecer a presença dos palestinos, mas essa integração é uma condição indispensável – moralmente, socialmente e politicamente – à sobrevivência de Israel”.
Barenboim termina seu artigo dizendo: “Em qualquer território ocupado, é o ocupante o responsável pela qualidade de vida do ocupado; no caso dos palestinos, os governos israelenses que se sucederam durante os últimos quarenta anos lamentavelmente falharam a essa tarefa. Os palestinos devem continuar a resistir à ocupação e a lutar contra as tentativas de negação de seus direitos e necessidades fundamentais. Mas, em seu próprio interesse, essa resistência não deve se expressar de forma violenta, que só pode trazer prejuízo à causa palestina. Por outro lado, os israelenses deveriam se mostrar tão preocupados com as necessidades e os direitos dos palestinos quanto são preocupados com os seus próprios. Nós que partilhamos uma mesma terra e um mesmo destino deveríamos todos ter a dupla nacionalidade”.
A utopia de Barenboim era dramaticamente desmentida no Le Monde de hoje. Segundo um relatório de 31 de março da organização não governamental israelense Paz Agora, depois da cúpula de Anápolis de novembro de 2007, na qual o primeiro-ministro de Israel Ehoud Olmert tinha se comprometido cessar totalmente a colonização, 495 novos prédios estão sendo construídos em 101 colônias.
O Paz Agora constata que as colônias continuam avançando por terras palestinas enquanto o presidente Abbas pede que cesse o processo de colonização que pode inviabilizar qualquer acordo de paz e de criação do Estado Palestino.
No início de seu mandato, o presidente Bush garantiu que antes de 2005 o Estado Palestino seria criado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário