Balzac assistiu a tudo impassível. Ele estava numa posição privilegiada, diga-se de passagem.
Toda a “manif” de mais de 30 mil jovens dos liceus e centenas de professores passaram diante dele. Ou do que Rodin imaginou que fosse o verdadeiro Balzac. Essa escultura do gênio feita por outro gênio fica no canteiro central do Boulevard Raspail, olhando para o Boulevard du Montparnasse, por onde mais uma vez desfilaram em passeata os alunos dos liceus públicos de Paris e da banlieue. Raspail cruza o boulevard du Montparnasse no carrefour que outrora se chamou Vavin e hoje se chama Pablo Picasso, como diz a placa. Mas os parisienses ignoram a mudança e continuam a chamar de Carrefour Vavin a Place Pablo Picasso.
Era a segunda manif pelo mesmo boulevard em uma semana. Pela quinta vez em um mês, os lycéens foram nesta quinta-feira, dia 10, às ruas de Paris para protestar contra a supressão de cargos no ensino público. Eles pensam que essa diminuição do número de professores vai ocasionar a queda na qualidade do ensino. O governo nega. Não a supressão. A perda da qualidade.
Na quinta, como na terça-feira, eles desfilaram durante mais de duas horas pelo Boulevard du Montparnasse, vindos do Luxembourg. Para mim, é um prazer sempre renovado ver as passeatas em Paris. Desci para ver e fotografar. Fiz fotos dos estudantes e dos “flics” (policiais, na gíria) que fecharam o Boulevard Raspail com os carros da polícia e faziam um cordão de isolamento. Eles ficam olhando o cortejo passar, protegidos por escudos transparentes, prontos para intervir. Quando me aproximei um pouco mais para fotografar, um deles me disse: “Cuidado, madame, não se aproxime muito pois a senhora pode receber algum projétil”.
De vez em quando, a coisa degenera e os provocadores que vêm da banlieue com o único objetivo de fazer baderna, quebrar vitrines e tumultuar, muitas vezes se divertem agredindo os policiais com pedras ou outros objetos.
Como as “manifs” em Paris fazem concorrência umas às outras, 30 mil jovens nas ruas desfilando para pedir a manutenção da qualidade do ensino público não passa de uma foto-legenda na maioria dos jornais.
Para mim é um deleite. Aproveito para fazer fotos.
A caça aos “sans papiers” faz nova vítima
Baba Traoré tinha 29 anos e tinha vindo à França para doar um rim à irmã. Depois de expirar sua autorização de permanência no território francês, Baba Traoré foi ficando e fazendo pequenos biscates. Um controle policial inesperado numa estação de trem numa cidade de banlieue perto de Paris levou Baba Traoré a uma fuga desesperada. A perseguição terminou com a morte por afogamento do jovem, que se jogou no Rio Marne sem saber nadar.
Mais uma vítima mortal da caça aos estrangeiros ilegais.
No domingo, milhares de pessoas foram às ruas em Lyon protestar contra a caça aos “sans papiers”, esse flagelo que matou recentemente em Paris uma chinesa que se atirou pela janela quando os policiais bateram à sua porta.
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