sexta-feira, 11 de abril de 2008

A tocha olímpica em Paris





A tocha olímpica passou por Paris dia 7 de abril, uma segunda-feira de uma primavera bastante fria. A cidade despertou com uma fina camada de neve, rara nessa época do ano, que se dissipou logo que a temperatura aumentou um pouco. Fora de Paris, havia muita neve em todo o norte da França. Depois, durante o dia, os parisienses viram uma chuva de gelo se alternar com ligeiras aparições do sol.


Num ambiente tenso, os chineses comandaram o espetáculo do desfile pela cidade. Mas a chama olímpica só foi mostrada aos curiosos em poucos momentos do longo percurso. Na maior parte do tempo, ela desfilou dentro de um ônibus, cercado de policiais franceses e chineses que deslizavam em patins.


O aparato policial que cercou o desfile da tocha olímpica foi comparável ao que acompanha as visitas de chefes de Estado em Paris. Milhares de policiais, de gendarmes e de CRS se espalharam pela cidade, fechando as ruas e impedindo que as pessoas se aproximassem do cortejo. Os militantes da causa do Tibet e manifestantes da ONG Repórteres sem Fronteiras, que reproduziram em bandeiras e t-shirts os anéis olímpicos como algemas, fizeram manifestações. Grupos de chineses e grupos de tibetanos ou pró-Tibet se enfrentaram verbalmente em vários momentos. Em alguns pontos, a polícia interveio para impedir que os militantes pró-Tibet se aproximassem demais da tocha que eles queriam apagar.


Quando a tocha passou no Boulevard Raspail, só se soube que ela estava desfilando pelo aparato policial chinês e francês. Ninguém pôde vê-la pois estava dentro do ônibus. A etapa de troca de atleta diante do Hôtel de Ville (a prefeitura de Paris) foi anulada por ordem dos chineses, irritados com as manifestações pró-Tibet.


Resta saber se Nicolas Sarkozy vai anular sua ida a Pequim para a abertura dos jogos olímpicos. Hoje, a imprensa inglesa confirma que Gordon Brown não irá.

Aznavour no Brasil

Fui entrevistar Charles Aznavour para a Folha de São Paulo. Ele canta no Brasil na semana que vem. Aos 82 anos, Aznavour é o último monstro sagrado da canção francesa. Depois de Aznavour, sobrará um grande número de jovens que fazem uma música simpática mas sem grande interesse.


Aznavour teve uma carreira brilhante, escreveu canções maravilhosas e fez um sucesso planetário. Quem não conhece pelo menos um punhado delas como “La bohème”, “Que c’est triste Venise”, “La mamma” ou “She”? O velho compositor confessou que tem um problema de audição que, no entanto, não o impede de cantar e encher as casas de espetátulo por onde passa. Ele vendeu mais de 100 milhões de discos, compôs mais de mil canções e cantou em diversas línguas suas próprias composições. Perguntei a ele por que apesar de ter vivido na casa de Piaf (para quem compôs e de quem foi muito amigo) não teve nenhum envolvimento amoroso com ela. Ele respondeu que nem toda amizade deve necessariamente passar pela cama. “Éramos cúmplices”, disse.


No fim da entrevista, feita na sede de sua gravadora, ele posou para mim diante de um cartaz de Piaf, que os franceses chamavam “La môme” (a guria, a garota), nome do filme que deu o Oscar a Marion Cotillard.

Um comentário:

Valéria Martins disse...

Oi, Leneide! Finalmente consegui um tempinho para entrar no Blog. Muito legal! Me sinto por dentro do que acontece em Paris. Vc já entrou no meu?
http://pausadotempo.blogspot.com/
Beijos!