quinta-feira, 20 de março de 2008

Restaurante Le Cinq do Hotel Georges V


De vinhos e gastronomia francesa

Como os nazistas não conseguiram se apropriar da adega do Hotel Georges V

Leneide Duarte-Plon

Você tem duas chances de visitar a adega do hotel Georges V, um dos mais bonitos e luxuosos 4 estrelas de Paris (a cotação máxima na França) : se hospedar no hotel e solicitar a visita guiada ou ser amigo de Luciana Fróes, a crítica gastronômica mais charmosa do Brasil. Estou na segunda categoria. Sou amiga da Luciana e fui com ela visitar a “cave” do Four Seasons Georges V, que tem uma história surpreendente e guarda 40 mil garrafas de vinhos excepcionais.

Fizemos a visita da cave histórica, seguida de um jantar-degustação exclusivo, no restaurante do hotel, o Le Cinq, três estrelas de 2003 a 2006. Hoje, o restaurante tenta recuperar a terceira estrela do Michelin, perdida em 2007. Como não somos críticas do Guia Michelin, saímos dispostas a dar a terceira estrela de volta imediatamente. As quatro horas passadas à mesa degustando delícias indescritíveis são uma experiência existencial quase tão forte quanto o êxtase experimentado pelos místicos. Sei que exagero, mas é quase isso.

Guiadas por Eric Beaumard, que depois de longa e premiada carreira de sommelier (eleito o melhor da França e o melhor da Europa, em 1992 e 1994) se tornou diretor do Le Cinq, descobrimos a história da adega, que foi totalmente emparedada durante a guerra para preservá-la da pilhagem dos alemães.

Como ela fica a 14 metros do subsolo e foi toda construída na rocha da antiga pedreira ali existente, os alemães não suspeitaram que a pequena adega que os franceses mostravam como sendo “a” cave do hotel era apenas uma esperteza. Os franceses justificaram a pequena quantidade de vinho pelo número ínfimo de hóspedes que vinham ao hotel em plena guerra. E puderam assim manter um patrimônio fabuloso que hoje inclui um vinho Madeira de 1850 e um Romanée Conti de 1983, que vale 36 mil euros.

Eric Beaumard nos recebeu como os franceses sabem fazer num hotel da categoria do Georges V. Com distinção, cordialidade e classe. Desde 1997 o hotel é administrado pela Four Seasons, mas continua a pertencer à família real da Arábia Saudita, mais precisamente ao príncipe Al Waleed Bin Talal Abdulaziz Al Saud.

Beaumard comenta suas viagens a São Paulo e ao Rio, onde pôde visitar a adega de um certo Boni, que ele nomeia pelo nome completo. O sommelier ficou vivamente impressionado com o que viu na casa de Angra do milionário brasileiro. Ele diz que as famílias tradicionais brasileiras que se hospedam no Georges V sabem manter uma distância e uma distinção que os diferencia dos nouveaux riches barulhentos e exibicionistas que se hospedam em outros grandes hotéis parisienses. Ele não citou mas eu entendi e ele fez um gesto de cabeça quando eu lhe disse que sabe-se que o Plaza-Athénée é o preferido de celebridades e jogadores de futebol vindos do Brasil. Paulo Maluf e Ronaldo incluídos.

Construído em 1928, o Georges V foi o quartel-general de Eisenhower durante a Libertação de Paris. Depois, foi nele que outros presidentes como Jimmy Carter e Richard Nixon encontraram presidentes franceses.

O Georges V recebe sobretudo uma grande maioria de abonados hóspedes estrangeiros, o que justifica uma cave bem equipada onde os vinhos franceses são maioria. Quem vem à França e se hospeda num grande hotel com um grande restaurante não quer degustar la crème de la crème da gastronomia francesa com um vinho estrangeiro. E a equipe de Eric Beaumard está à disposição para indicar o vinho que melhor acompanha cada prato.

Na noite dessa quarta-feira, nos divertimos, Luciana e eu, a fazer um pequeno estudo socio-econômico a partir da análise dos freqüentadores do restaurante. E constatamos: os asiáticos estão cada vez mais ricos e gastando suas fortunas nos hotéis de luxo de Paris. Dois casais jovens de chineses (ou seriam coreanos? ou vietnamitas? ou japoneses? ) se deliciavam com os vinhos e a cozinha do Le Cinq. E ao nosso lado, duas louras magras, jovens e bonitas, vestidas com roupas de um luxo discreto chamavam a atenção pelo silêncio, quebrado de vez em quando pela voz das crianças, duas garotas louras de cerca de dez anos, que as acompanhavam. As quatro tinham um telefone celular na mão e passavam o tempo todo a escrever SMS ou falar discretamente ao telefone. Eram russas, como pudemos saber ao perguntar a um garçom que língua falavam. Devem pertencer à nova classe de milionários que enriqueceram com o gás e o petróleo na era Putim e invadem os grandes hotéis de Paris para gastar na capital do luxo suas recém-conquistadas fortunas.

O mundo dos ricos

Os grandes hotéis de luxo de Paris como o Crillon, Ritz, Plaza Athénée, o Bristol, Geoges V , o Meurice e o Fouquet’s não têm do que se queixar. A taxa de ocupação é superior a 80% para um preço médio de diária de 833 euros. E eesa taxa está numa linha ascendente.
Não existe crise no reino dos ricos, conclui um estudo publicado há poucos dias num jornal.

A maioria desses milionários ainda é formada de americanos (80%) capazes de gastar 4 mil euros por uma noite numa suite de luxo. Mas os hóspedes vindos da península arábica e dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) mostram que o capitalismo dos emergentes e dos petrodólares ainda garante a taxa de ocupação hoteleira de luxo de Paris, onde quatro novos grandes hotéis de luxo vão ser inaugurados nos próximos anos.

sábado, 15 de março de 2008

Homenagem e boicote a Israel


Salões do livro de Paris e de Turim causam polêmica


Leneide Duarte-Plon

O Salão do Livro de Paris foi aberto nesta sexta-feira, 14 de março, sob o signo da polêmica.

Nos últimos dias, os jornais franceses alimentaram um debate de escritores e intelectuais defendendo ou condenando o boicote ao salão, que homenageia este ano Israel pelos 60 anos de sua criação. Os países árabes se recusaram a montar seus estandes no salão de Paris, em solidariedade ao povo palestino, que há 60 anos luta pela criação de um Estado vizinho a Israel.

“Trata-se de lembrar os sessenta anos de colonização, de deslocamento de populações, de exílio e de mortos palestinos que são o espelho negativo das festividades de Israel”, escreveu em longo artigo no Le Monde o intelectual muçulmano Tariq Ramadan, professor da Universidade de Oxford, partidário do boicote.

O poeta israelense Aharon Shabtai compreende e partilha a posição pró-boicote. Ele foi convidado ao Salão do Livro de Paris e declarou que não iria por achar que “um Estado que mantém uma ocupação e comete diariamente crimes contra civis não merece ser o convidado de uma semana cultural, qualquer que seja ela. Não há nenhuma razão para comemorar nada. Israel não respeita as leis internacionais. E não somente a Convenção de Genebra. A Corte Internacional de Justiça de Haia condenou o muro ilegal que Israel construiu em terras palestinas confiscadas".

Todos os escritores israelenses que vieram para o Salão do livro de Paris escrevem em língua hebraica, o que já seria motivo para outra polêmica, pois no país há literaturas em diversas línguas. Por exemplo, quase 20% da população de Israel é formada de árabes mas a literatura israelense dessa língua não estará representada no salão, assim como as outras literaturas israelenses não-hebraicas. “Que literatura é homenageada a hebraica ou a israelense?” indagava o escritor e editor Mickaël Parienté em seu artigo.

O presidente da União dos Escritores Palestinos, Taha al-Moutawakel, pensa que “não é digno da França, país da Revolução e dos direitos humanos acolher um país ocupante e racista”. Já o escritor palestino Mohamed Hafez Yaacoub explicou à imprensa francesa que o boicote não visa diretamente os escritores israelenses. Ele acha que o momento pode, ao contrário, ser propício para falar dos 60 anos da “nakba” (catástrofe) palestina. “Comemorando os 60 anos de Israel, a França adota uma posição extremamente negativa em relação à Palestina e envia uma mensagem de indiferença a seu povo”.

A homenagem acontece num momento difícil para o processo de paz entre israelenses e palestinos. Na semana passada, o jornal Libération lembrava que nos últimos dois anos o exército israelense matou cerca de dois mil habitantes de Gaza : a metade eram paramilitares a outra metade civis, mulheres e crianças. Um editorialista do jornal israelense Haaretz escreveu na semana passada que o exército de Israel havia matado mais palestinos em uma tarde do que os foguetes palestinos Qassam mataram israelenses em sete anos. Há poucos dias, o novo atentado em Jerusalém em que morreram oito jovens estudantes de uma escola talmúdica chocou os israelenses. Nas duas semanas anteriores, cerca de cem palestinos haviam morrido em Gaza em diferentes ataques do exército israelense. Essa contabilidade macabra foi feita pelo jornal israelense para mostrar que a lei de Talião continua imperando na Terra Santa.

Outra homenagem a Israel será feita pela Feira do Livro de Turim, que se realiza de 8 a 12 de maio. E lá, como em Paris, a polêmica do boicote agita a imprensa e os meios intelectuais. O filósofo Gianni Vattimo explicou que a defesa do boicote não significa uma intenção de impedir os escritores israelenses de falar. “Os defensores do boicote recusam a idéia que os escritores venham como representantes de um Estado que festeja seu aniversário com o bloqueio de Gaza”. Para o escritor israelense David Grossman, “a cultura e o boicote são imcompatíveis”. O mesmo pensam os escritores Amos Oz e Avraham Yehoshua, que confirmaram a presença em Turim.

O jornal de esquerda Il Manifesto, favorável à causa palestina mas contra o boicote, publicou um texto de seu fundador, Valentino Parlato, que defendia o uso da feira internacional de Turim para, ao contrário, criticar a política de Israel e defender os direitos dos palestinos. “Vamos discutir, debater, mas vamos mandar o boicote ao inferno, pois ele é mudo, é um “não” sem argumentos”.

Ponticelli, o último poilu

Ele se chamava Lazare Ponticelli. Tinha 110 anos. Era o último sobrevivente dos 8,5 milhões de soldados franceses que lutaram na Primeira Guerra Mundial.

Ponticelli morreu na quarta-feira, dia 12, e vai ser enterrado em cerimônia nacional na segunda-feira, nos Invalides, na presença do presidente da França e das mais altas autoridades do país.

Era o último “poilu”, como eram chamados os soldados franceses que voltaram do front barbudos, sobreviventes da horrível carnificina da Grande Guerra. Ponticelli tinha 16 anos quando se apresentou como voluntário na Legião Estrangeira, aumentando a idade para poder defender a França, para onde emigrou aos 9 anos, em 1906. Ele fez parte da Legião Garibaldina, composta exclusivamente de legionários italianos.
Os funerais nacionais só foram aceitos por Ponticelli com a condição de serem uma homenagem não ao humilde soldado que ele foi mas a todos os homens e mulheres franceses que morreram na terrível guerra.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Separação necessária

Leneide Duarte-Plon


Quando morre um grande homem, ficam sua vida e sua obra. Do psicanalista Emilio Rodrigué, 85 anos, o argentino mais baiano que já existiu, que adotou Salvador, viveu em Itapoã e depois em Ondina até o fim da vida, fica ainda, o título de sua autobiografia a nos lembrar que as separações são necessárias. E inevitáveis.

Ele deixou sua Argentina natal e se instalou no Brasil, quando parte dos psicanalistas argentinos tiveram de partir, nos anos de chumbo da ditadura militar.


Em 2000, sua biografia de Freud (Sigmund Freud – O século da psicanálise) foi saudada na França com grande entusiasmo por uma crítica ultra exigente e recebeu a melhor acolhida no meio psicanalítico, onde ele tinha verdadeiros amigos e admiradores. Paris o recebia freqüentemente para o lançamento de seus livros ou para visitas de trabalho ou de lazer. Seu Freud logo se tornou um clássico, colocando-se à altura das reconhecidas biografias de Ernest Jones et Peter Gay. Robert Maggiori, do jornal Libération, ressaltou o “rigor e o sopro romanesco” do Freud de Rodrigué. O Le Monde louvou a “magistral biografia de Freud” escrita pelo argentino.

Numa entrevista à revista Le Nouvel Observateur, Rodrigué confessava sua crença de que a psicanálise mudou a face do mundo. “O pensamento freudiano transformou o mundo muito além de toda expectativa, a tal ponto que podemos dizer que a neurose contemporânea é uma criação de Freud. Ele projetou sua própria neurose no mundo atual e é nisso que reside boa parte de seu gênio: sua neurose deu sentido à nossa. Em outras palavras: Freud modelou o homem do século XX. Mas ele o modelou até um certo tempo. E esse tempo está prestes a se acabar”.

Quando lançou em Paris sua autobiografia, em 2004, o delicioso “Séparations nécessaires”, o livro foi comentado e elogiado em grandes espaços pelos mais importantes jornais e revistas do país. Devorei o livro com enorme prazer e fiz para ele um clipping de todos os artigos que pude recolher e entreguei-os pessoalmente quando o visitamos em Salvador, logo depois da publicação da tradução francesa. Ele me agradeceu me presenteando com os três volumes da edição brasileira de seu Freud.

A dedicatória de “Séparations nécessaires” é a primeira marca do humor cáustico do autor. Emílio escreve: “Dedico esse livro a Emilio Rodrigué, psicanalista argentino criativo, corajoso e um pouquinho histérico”. O crítico do Figaro Littéraire, Claude Jannoud, ressaltou que a biografia mostra que Rodrigué, um “hedonista impenitente”, usa seu saber psicanalítico com uma naturalidade e desenvoltura admiráveis, “bem ao contrário dessa multidão de carolas que proliferam na profissão. Ainda que admire Lacan, nutre pouca simpatia pelos lacanianos”.

A inteligência e o fino senso de humor do autor estão presentes em cada página do livro, leitura obrigatória para quem quer conhecer este personagem extraordinário e ao mesmo tempo ter um panorama do mundo psicanalítico da segunda metade do século XX, pois o psicanalista começou sua análise na Argentina mas continuou-a na Inglaterra com Paula Heimann. Em Londres, trabalhou com Donald D. Winnicott, Masud Kahn e com Melanie Klein, que lhe enviou sua própria neta para ser analisada. Depois de um rápido retorno à Argentina ele vai para os Estados Unidos, onde trabalha com Erik Erikson e David Rapaport.

A biografia de Rodrigué não é, de forma alguma, obra de auto-promoção de um cabotino. O estilo é leve, a auto-zombaria e o espírito crítico e mordaz do escritor transformam o livro numa fascinante viagem guiada por um psicanalista irreverente, iconoclasta e criativo, muito mais que um mero repetidor das idéias e métodos de Freud e Lacan. Rodrigué constrói um texto ágil e sedutor com o brilho de um contador de histórias fora de série.

A leitura de “Séparations nécessaires” me proporcionou o verdadeiro prazer que só os grandes livros nos dão. Desde que conheci Emilio houve uma grande empatia e com o tempo a admiração por sua inteligência só fez aumentar.

O brilho de sua inteligência e sua verve estão, felizmente, acessíveis a todos através de seus livros. A morte, uma de suas grandes obsessões, não conseguirá nos roubar o prazer de lê-lo e relê-lo.

A seguir, divido com todos um pequeno texto que o psicanalista Michel Plon escreveu para uma revista do Colégio de Psicanálise da Bahia, que traduzi para a publicação em breve:

« Um velho jovem analista »

Uma ternura cheia de pudor, um tantinho de ceticismo, um rigor que sabia ser alegre, uma escuta tão perspicaz quanto audaciosa, minha tristeza à idéia de que não o reverei mais não pode ocultar o orgulho de ter recebido dele, de Emílio, mais de uma prova de amizade.
Em Paris, por ocasião da publicação de seu Freud, um telefonema caloroso para me agradecer o artigo publicado na “Quinzaine Littéraire”, um jantar de homenagem a ele no “La Coupole” depois do debate, o reencontro na sua praia, em Itapoã, depois, mais uma vez, a última, degustando um espaguete na sala do seu apart-hotel em Salvador, a leitura, emocionante, de “Séparations nécessaires”, uma troca de e-mail para a publicação em “Essaim” de um artigo totalmente impregnado de seu humor e depois um longo silêncio, o anúncio de sua morte em dezembro, rapidamente desmentida – obrigada Urania – um alívio feliz mas curto demais e depois o fim...
Uma pitada de argentino, outra de britânico, uma boa quantidade de baiano, Emilio Rodrigué era um coquetel que jamais nenhum barman do mundo poderá refazer. Ele era o maior psicanalista sulamericano do século passado e tinha essa elegância suprema que consistia, sabendo-o perfeitamente, em não se deixar iludir, em fazer de conta que não sabia.

sábado, 1 de março de 2008

O sintoma Sarkozy

Por Leneide Duarte-Plon

Em seu novo livro, o filósofo Alain Badiou diz que o presidente francês é sintoma do medo e das divisões da sociedade francesa

O filósofo Alain Badiou, de 70 anos, ex-aluno do marxista Louis Althusser e um dos principais pensadores da atualidade, transformou seu seminário do ano passado na École Normale Supérieure, em Paris, em espaço de discussão sobre a eleição de Nicolas Sarkozy e o que ela representa no cenário político de uma França na qual a esquerda vive uma crise sem precedentes.
O livro “De Quoi Sarkozy Est-il le Nom?” (Sarkozy É o Nome de Quê?) é o resumo daqueles seminários numa das escolas que formam a elite intelectual francesa. Badiou apresenta o novo presidente francês como um sintoma da sociedade que ultrapassa o próprio personagem. Ele vê seu país caminhar para “cair no modelo ianque, a dominação dos ricos, o duro trabalho dos pobres, o controle de todos, a suspeita sistemática para com os estrangeiros, o desprezo dos povos que não vivem como nós”.
Badiou captou o mal-estar sentido por parte dos franceses que vivem, segundo ele, uma ressurgimento do “pétainismo”, cuja principal característica é um desejo de segurança. Enfim, Sarkozy seria produto do medo. Produto de uma história francesa dividida entre dois pólos: revolução e contra-revolução, resistência e colaboração, desejo de liberdade e igualdade e desejo de autoritarismo e ordem.
“Acho que Sarkozy tem uma visão deformada da humanidade. Ele pensa que todo mundo pode ser corrompido, me parece profundamente convencido disso. Na sua opinião, todo mundo tem um preço. Ele tem medo de encontrar pessoas que não têm preço”, diz Badiou.
Em poucos meses, a obra vendeu 20 mil exemplares, um sucesso extraordinário no mundo das idéias e sobretudo no campo filosófico. Os livros de Badiou não costumam vender mais de 3 mil exemplares.
Na entrevista a seguir, Badiou afirma que Sarkozy representa o fim de um longo período histórico na França e defende que o Partido Comunista Francês seja dissolvido e as idéias marxistas sejam retomadas em um outro dispositivo político _nem a internacional de Marx, nem o partido de Lênin. "Hegel dizia: 'Tudo o que nasce merece morrer'. Pois bem, o Partido Comunista Francês nasceu em 1920 e pode morrer em 2010", diz o filósofo.
*

O que levou o sr. a escrever este livro?
Alain Badiou: Durante meu grande seminário público do ano passado, senti quase fisicamente que as pessoas estavam preocupadas com a eleição presidencial e que, mesmo que não fosse meu tema, era preciso falar disso. É o que afirmo no início do livro. Eu disse: vejo que é preciso que lhes fale disso, e então fiz uma aula antes da eleição e duas outras após a eleição. Foi no contato direto com o público que freqüenta meu seminário na École Normale Supérieure que senti que deveria, na qualidade de filósofo, falar sobre o problema. Antes da eleição, porque eles estavam preocupados, e depois, porque estavam deprimidos.

O sr. pode explicar o título do livro?
Badiou: Acho que o significado da eleição de Nicolas Sakozy ultrapassa sua pessoa. Eu não queria somente falar do personagem, queria falar do que se passa hoje e de fatos que são resumidos nesse personagem. Isso é mais importante que o personagem, e por isso intitulei meu livro “De Quoi Sarkozy Est-il le Nom?”. Essa é a pergunta importante. Quis explicar às pessoas que não era minha opinião sobre Sarkozy, mesmo que eu tenha uma opinião sobre ele e a expresse, mas a questão era explicar o que estava acontecendo com essa eleição de Sarkozy. É uma situação política na qual Sarkozy é mais um nome que uma força verdadeira.

Na Itália, os políticos e a política perdem credibilidade junto aos eleitores.Sarkozy, que foi comparado a Berlusconi, vai na direção do descrédito da política?
Badiou: Há duas razões que me fazem pensar que Sarkozy vai contribuir para tornar as pessoas mais céticas em relação à política. A primeira é que ele é extraordinariamente cínico do ponto de vista da relação da política com o dinheiro. Ele freqüenta abertamente os milionários, fez um presente aos ricos com diminuição de impostos. Quando, logo depois de sua eleição, foi jantar no Fouquet’s, grande restaurante de ricos, e quando partiu num cruzeiro no iate de um milionário, ele fazia isso de maneira deliberada. Quer que todo mundo possa dizer: “Sou rico, tenho o direito de ser rico”. Ele quer que os políticos possam freqüentar os ricos de maneira aberta. Isso é uma mudança na França, é uma novidade. Mitterrand, por exemplo, disse a seu ministro Tapie, que era um homem de negócios: “Cuidado, os franceses não amam o dinheiro”. Um dos objetivos de Sarkozy é fazer com que os franceses amem o dinheiro, e isso é uma corrupção intelectual, essa ligação cínica entre a política e o dinheiro. Um dia ou outro haverá escândalos. Sem dúvida, haverá escândalos. E a segunda razão é que ele agrava o caráter espetacular da política. Ele passa o seu tempo a utilizar a mídia, com golpes espetaculares, ele está em toda parte, não por razões políticas profundas, mas porque quer se mostrar. Resumindo, sua relação com o dinheiro, com a mídia e com o espetáculo, acho que tudo isso não vai numa boa direção e não contribui para devolver a confiança nos políticos e na política.

Alguns políticos socialistas aderiram ao governo de Sarkozy. Ser socialista na França é realmente ser de esquerda?
Badiou: Acho que os socialistas na França se adaptaram à política governamental e ao sistema econômico e político dominante. Pouco a pouco. A diferença é mais ou menos a que há entre os republicanos e os democratas nos Estados Unidos. São partidos que na realidade estão de acordo sobre a parte mais importante da política, da gestão do Estado e da gestão da economia e que têm uma pequena diferença no tratamento da questão social. Mas, desse ponto de vista, acho que a palavra socialismo não quer mais dizer grande coisa. Durante muito tempo e mesmo no início do governo Mitterrand a palavra "socialismo" significava que se ia nacionalizar a economia, os grandes bancos etc. Eles desistiram completamente disso. Penso que a diferença entre a esquerda e a direita, entre os socialistas e o partido dominante é muito pequena, o que explica aliás que importantes socialistas possam fazer parte do governo Sarkozy. E haverá outros. Fala-se muito da possibilidade de Jack Lang tornar-se ministro da Justiça. Eu diria que a identidade política é mais importante que a diferença hoje.

A França era vista como o último bastião da luta contra a dominação americana. O sr. diz que sob Sarkozy ela vai “cair no modelo ianque, a dominação dos ricos, o duro trabalho dos pobres, o controle de todos, a suspeita sistemática para com os estrangeiros, o desprezo dos povos que não vivem como nós”. É esse o futuro da França?
Badiou : Sem dúvida. Infelizmente, penso que isso é certo. Veja o discurso de Sarkozy sobre o homem africano, sua verdadeira alegria em ser recebido por Bush e por sua família, a decisão de participar mais ativamente da guerra no Afeganistão. Começa-se a falar da entrada da França na Otan e, em política interna, ele dá aos ricos menos impostos e, aos pobres, mais trabalho. Creio que nos dirigimos para um modelo americano de sociedade. Aliás, isso é o que se chama na França há muitos anos de modernização. Quando você é pobre e do povo e lhe falam de modernização, desconfie. Isso quer dizer que eles vão fazer uma revisão das leis trabalhistas. Será uma data muito importante na história do regime, e mesmo na história da França, já que eles vão transformar as leis trabalhistas para agradar evidentemente ao patronato. Do ponto de vista do modelo de sociedade, é para isso que a gente caminha, e, do ponto de vista da política externa, caminhamos na direção de uma normalização da política francesa. O gaullismo representava uma pequena exceção francesa, um pouco de distância em relação aos americanos.

Sarkozy fará um alinhamento automático com os Estados Unidos?
Badiou : Acho que as coisas se farão progressivamente e lentamente. Vai depender das posições das outras potências européias. A França é muito próxima das posições alemãs. Mas essa é uma tendência. A tendência é de se alinhar com o que chamamos de Ocidente.

O sr. se chocou com os panfletos que a polícia colocou nas caixas de correio para pedir à população que denuncie as pessoas que participaram de confrontos em Villiers-le-Bel, em novembro de 2007?
Badiou : Isso me chocou muito. Você sabe que no meu livro falei da época do pétainismo (do general Pétain, que governou a França na época da ocupação nazista) e da Colaboração (com o nazismo). Acho que incitar as pessoas à delação e à denúncia é uma coisa horrível. Que a polícia faça seu trabalho. Não é preciso transformar todo mundo em espião de seu vizinho. Acho que isso ajuda a criar uma atmosfera detestável e não é uma boa forma de resolver os problemas dos bairros populares. Isso vai indispor as pessoas umas contra as outras, vai colocar os adultos contra os jovens, vai dividir os estrangeiros e os franceses. Essa prática é detestável. Fiquei chocado, mas não surpreso, infelizmente.

O sr. diz no livro: "O que Sarkozy mais teme é que seu medo se torne visível". Qual é o medo de Sarkozy ?
Badiou : O medo principal de Sarkozy é o de encontrar uma resistência verdadeira no campo político ou popular. Ele é um homem que tem necessidade de seduzir todo mundo. Ele funciona com cooptação. Logo se viu isso. Ele é um homem que pensa que não existe mais verdadeira oposição. Por isso, acho que é um homem que ficaria muito à vontade com um partido único. Penso que ele teme as oposições verdadeiras, os conflitos verdadeiros e que só está à vontade quando existe um consenso, quando há acordo. Ele governa de maneira clara pela cooptação e pela corrupção. Acho que ele tem uma visão deformada da humanidade. Ele pensa que todo mundo pode ser corrompido. Ele me parece profundamente convencido disso. Todo mundo tem um preço a seu ver. Ele tem medo de encontrar pessoas que não têm preço.

O sr. pensa que ele ousaria suspender o direito de greve?
Badiou : Ele tenta por todas as formas limitar esse direito. Já existe o serviço mínimo, que é uma restrição ao direito de greve. Mas tudo vai depender da relação de forças, do que vai acontecer nos movimentos sociais nos próximos meses e anos. Isso vai ser determinante. Se o compararmos a Thatcher na Inglaterra que também era pela modernização e que devastou literalmente a Inglaterra, vê-se que um episódio fundamental foi o momento em que Thatcher conseguiu quebrar a greve dos mineiros. Isso foi um episódio central para seu governo. Haverá algo análogo para Sarkozy? Será que, em determinado momento, vai haver uma prova de força da qual surgirá claramente um vencedor e um vencido? Não se sabe ainda. As coisas ainda estão indefinidas. No meu livro, digo que Sarkozy representa o fim de um longo período histórico na França em que imperava a balança direita-esquerda. Ele inaugura algo novo e como sempre não se sabe onde isso vai chegar.

Ele sabe o que quer e onde vai ?
Badiou: Acho que não. Por isso ele é mais o nome do período que seu ator. Penso que ele mesmo não sabe muito bem onde vai. Ele tem o gozo do poder de uma maneira muito visível. Mas, fora esse gozo do poder e de algumas direções da qual eu falei antes, americanização no sentido amplo, por onde isso vai passar, quais vão ser os detalhes da vida política na França, não se sabe ainda.

Sartre dizia que "a esquerda é um grande cadáver que cheira mal". O que está acontecendo com a esquerda francesa que não consegue encontrar um líder ou líderes para reestruturá-la?
Badiou: Acho que Sarkozy encontrou uma forma de transformar a direita. Ele encontrou um meio essencial que foi a reunificação da direita e da extrema-direita. É preciso ver que Sarkozy ganhou porque tirou votos do Front National (de Jean-Marie Le Pen). Atualmente não existe um processo simétrico à esquerda. A grande questão da esquerda oficial é saber se ela é capaz de unificar a esquerda e a extrema-esquerda.
É preciso saber que o reino de Mitterrand foi fundado inteiramente sobre o fato de que o Partido Socialista e o Partido Comunista pela primeira vez em suas histórias se aliaram, e que o Partido Socialista “comeu” o Partido Comunista. Mitterrand comeu o Partido Comunista como Sarkozy comeu o Front National. Isto é absolutamente simétrico. Acho que a crise da esquerda vai durar muito tempo, pois não há nenhuma aliança em curso. Sobretudo porque ela está dividida em duas tendências que não vão se reconciliar tão cedo. A tendência que pensa que é preciso ir mais à direita (Strauss-Kahn e Ségolène Royal) e, por outro lado, uma extrema-esquerda que pensa que é preciso ir mais à esquerda. Acho que ainda teremos muitos anos de crise da esquerda.

Como o sr. analisa a liderança do líder de extrema-esquerda Olivier Besancenot?
Badiou : Besancenot não tem uma verdadeira originalidade. Ele está tentando reconstruir um pequeno partido comunista porque o grande morreu. Existe um lugar para isso porque as pessoas são órfãs do Partido Comunista. Se a gente ler os textos, as propostas e a visão política de Besancenot, ela é clássica, tradicional. Acho que não tem grande futuro.

Sarkozy diz que quer acabar de uma vez por todas com a herança de Maio de 68. O sr. pode explicar as causas dessa cruzada?
Badiou : Maio de 68 representou na França o último momento forte da esperança de uma mudança política profunda. Era a idéia que havia uma outra possibilidade além do capitalismo desenfreado, da reação, na época do gaullismo. Foi, pois, um momento de esperança política extremamente forte. Penso que, quando Sarkozy diz que é preciso acabar de uma vez por todas com Maio de 68, ele quer dizer “é preciso acabar com essa esperança”. É mais profundo do que acabar com qualquer coisa que existe realmente. É acabar com a esperança de uma outra política e se instalar de maneira realista e resignada no mundo tal e qual ele é, isto é, no mundo da monstruosidade capitalista atual. Ele diz que não há outra coisa, não há outra esperança. Mas ele não vai conseguir apagar essa esperança.

O sr. escreve: "A hipótese comunista como tal é genérica, ela é o 'fundo' de toda orientação emancipadora e dá nome à única coisa que faz com que valha a pena nos interessarmos pela política e pela história". Por que o Partido Comunista Francês não sabe mais falar ao povo?
Badiou: Acho que, no século XX, com a União Soviética, com os partidos comunistas tradicionais, pouco a pouco a palavra "comunismo" perdeu seu significado genérico. No fundo, comunismo não queria dizer mais uma esperança verdadeira e viva de uma outra sociedade, queria dizer o partido, os Estados socialistas que todos sabíamos que não eram um paraíso, ao contrário. Então, pouco a pouco, em sua realização concreta a idéia comunista perdeu seu vigor, sua força e sua inspiração.
No fundo, o fim do comunismo de Estado, o fim da União Soviética e finalmente o fim dos partidos comunistas ocidentais significa o fim desse período do comunismo. O que digo no meu livro é que nesse momento a gente pode escolher entre duas possibilidades: ou abandona completamente a hipótese comunista, ou renuncia à palavra "comunismo" e procura outra coisa...

O Partido Comunista Francês é o único partido comunista ocidental que não mudou de nome, não?
Badiou: Sim, mas ele pretende mudar. E Olivier Besancenot pensa em tirar a palavra "comunista" do nome de seu partido, a Liga Comunista Revolucionária. A primeira hipótese seria renunciar a essa palavra. Penso que isso seria uma derrota. Acho que se deve valorizar a palavra, dar-lhe vigor, sabor e novidade. É preciso fazer a crítica completa do que foi o comunismo do século XX, reconhecendo que ele teve sua grandeza, encarnou formas de organização popular verdadeiras.
Não se deve jogar o bebê com a água do banho. Precisamos defender e transformar a palavra, criticando o período anterior e não abandoná-la pura e simplesmente, porque penso que, se não temos uma palavra que designe a esperança geral de uma outra política, ficamos enfraquecidos, e é como dizer: “Só podemos mudar poucas coisas”. Mas, se queremos uma esperança geral, acho que a hipótese comunista continua a ser o bom caminho, no sentido que lhe dava Marx, no sentido que ela tinha no século XIX.

E qual é o bom caminho para o Partido Comunista Francês?
Badiou : Morrer de uma vez. Ele deveria propor sua dissolução e sua reconstituição sobre outras bases, outras perspectivas. Como um partido que carrega uma esperança política é uma aventura terminada. Hegel dizia: “Tudo o que nasce merece morrer”. Pois bem, o Partido Comunista nasceu em 1920 e pode morrer em 2010.

Mas, se o sr. considera a hipótese comunista, seria preciso ter um Partido Comunista, não?
Badiou: Isso é um grande problema. Quais as formas de organização adaptadas à hipótese comunista? Acho que isso muda. A idéia de Marx não era a de um partido, era de uma internacional, e a internacional era outra coisa, era uma confederação de organizações. A idéia de Lênin é a de um partido. Depois da idéia de uma internacional no sentido de Marx, depois do partido no sentido de Lênin, penso que devemos entrar numa terceira forma de organização que ainda não conheço. Se soubesse lhe diria...

Seria um furo...
Badiou: Claro, seria um furo. Mas penso que não seria nem a internacional no sentido de Marx nem o partido de Lênin. É preciso criar algo. A grande questão atual é que é preciso reinstalar a hipótese comunista primeiramente. É um trabalho de pensamento, um trabalho teórico, um trabalho intelectual, um trabalho de experimentação social. Mas o problema da organização não está resolvido. Isto é evidente.

Mas o sr. pensa que Marx é sempre atual ?
Badiou: Marx é atual do ponto de vista da formulação da hipótese comunista e de algumas de suas características. Não digo que devemos refazer uma internacional como a internacional de Marx, mas creio que os grandes problemas de hoje sejam internacionais. Por exemplo, dizem que na França não existe mais uma classe operária. Sim, mas em escala mundial há uma enorme classe operária.
Na China, há dezenas, centenas de milhões de operários que trabalham 15 horas por dia em fábricas. Não é, pois, verdade que não exista mais classe operária. Os fenômenos são mundiais. E, portanto, uma das questões difíceis da organização contemporânea da hipótese comunista é sua forma mundial.

Quem faz resistência a Sarkozy atualmente e como se organiza hoje essa resistência?
Badiou: Na análise que proponho da França contemporânea, digo que se vêem quatro forças contra Sarkozy. A juventude dos liceus e das universidades; a juventude popular da periferia ("banlieue"); a grande massa de assalariados comuns, inclusive os ferroviários, os funcionários da RATP (companhia estatal de trens), os técnicos das fábricas, mas também os empregados dos Correios; e, depois, os proletários recém-chegados, a grande massa de operários de origem estrangeira: africanos, magrebinos, asiáticos... São as quatro forças possíveis. Todas essas forças fazem seus movimentos. Houve movimentos estudantis importantes, houve movimentos da juventude popular, houve greves de assalariados e há organizações e manifestações importantes dos operários que não têm documentos.

Os operários sem-documentos têm peso numa nova política?
Badiou: Eles têm formas de organização, de manifestação e de resistência importantes. São os mais perseguidos de todos. O grande problema, um problema político maior para a organização de todas as forças políticas contra Sarkozy, é o da unidade entre essas quatro forças, de passagem de uma força a outra. No momento, elas estão separadas e, enquanto for assim, o adversário terá uma margem de manobra importante.

Os sindicatos são fracos e divididos?
Badiou: Exatamente. E, além disso, representam tradicionalmente uma força secundária, não decidem os acontecimentos. Maio de 68 não foi exatamente um acontecimento sindical. Mesmo a greve não foi iniciada sob comando dos sindicatos, ela começou antes. É chocante ver que entre os levantes da juventude popular e as manifestações e greves dos estudantes não há uma relação, ou então ver que a greve dos assalariados e os protestos dos trabalhadores de origem estrangeira também não têm unidade. Enquanto persistirem essas divisões, seremos fracos. Concretamente, o problema de organização política hoje é o problema de um mínimo de circulação e de unidade dessas quatro forças.

Qual seria a solução para uni-las?
Badiou: Será preciso começar por experiências locais. A possibilidade para os jovens intelectuais de trabalhar com operários de origem estrangeira sobre a questão dos documentos já existe, não é uma coisa impossível. Que a juventude popular seja apoiada ou considerada pela juventude estudante também é uma possibilidade. Podem-se construir pequenas experiências e tentar generalizá-las depois. Esse é o verdadeiro trabalho político.

Entrevista publicada na revista TROPICO em 23/2/2008
Leneide Duarte-Plon
É jornalista e vive em Paris.