quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nefertiti de volta ao Egito?

Zahi Hawas, secretário-geral do Conselho das antiguidades egipcias, conseguiu uma vitória e tanto: a França vai devolver cinco fragmentos faraônicos conservados no Louvre e reclamados pelo Cairo. Essas pinturas murais foram compradas há poucos anos pelo museu francês em leilões parisienses mas foram comprovadamente roubadas há mais de 30 anos de um túmulo da 18a dinastia, em Luxor, no Egito. Os fragmentos conseguiram sair do país graças a documentos falsos.
Hawas, que faz parte da lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita pelo Time Magazine, lançou uma campanha para levar de volta ao Egito todas as obras de peso atualmente em museus estrangeiros e saídas ilegalmente do país, como o busto de Nefertiti, exposta em Berlim como a peça mais importante do Neues Museum, que ganhou este mês uma nova sede, projeto do arquiteto britânico David Chipperfield.
Além de Nefertiti, o Cairo quer ver de volta a pedra de Roseta conservada no British Museum e outros tesouros guardados no Louvre.
Para conseguir o repatriamento das cinco peças do Louvre, Zahi Hawas ameaçou suspender as pesquisas arqueológicas em associação com o museu parisiense no sítio de Saqqara. Quanto a Nefertiti, os alemães alegam que sua cabeça saiu legalmente, no século XIX, fruto de um contrato assinado entre o alemão Henri James Simon com o Estado egípcio autorizando as escavações arqueológicas e o repatriamento dos objetos encontrados.
Affaire à suivre, como dizem os franceses.
Foto de Leneide Duarte-Plon

Guerrilha urbana

A violência no Rio continua fazendo estragos para o turismo.
As imagens que os jornais de televisão passam aqui na França é de uma cidade em guerra. Aliás era de guerra que falava o título da primeira página do Le Monde que circulou segunda (datado de terça, 20): “A Rio de Janeiro, scènes de guerre entre policiers et trafiquants”. Na página interna o título:“Cenas de guerrilha urbana nas favelas do Rio de Janeiro”. A matéria do correspondente do Le Monde, Jean-Pierre Langellier termina informando que o governador do Rio lançou uma ofensiva sem precedentes contra o crime organizado, em 2007, que resultou na inegável “pacificação” (as aspas são do jornal) de quatro favelas ocupadas permanentemente pela polícia. “Quatro favelas entre as 1020 da cidade”, conclui o jornalista fechando sua matéria.
Langellier não precisa acrescentar nenhum comentário.
A tarefa de “pacificação” é um trabalho de Hércules.

Direito à vida

Outra guerra , a de Gaza, marcou tragicamente a vida de Ezzedine Aboulaïch, o médico palestino diplomado de Harvard que trabalhava num hospital israelense de Tel Aviv e perdeu três filhas e uma sobrinha, todas adolescentes, durante os bombardeios israelenses. A explosão de dor do médico na TV israelense ao ter notícia da morte das filhas na tragédia de Gaza despertou muitas consciências em Israel.
Ezzedina Aboulaïch veio a Paris lançar sua Fundação para a educação das meninas e mulheres palestinas. Seu perfil na última página do Libération continha um alerta aos cidadãos de Israel: “Eles deveriam se perguntar por que os palestinos são hostis aos israelenses. Mas eles não querem ultrapassar o medo. Eu digo uma única coisa aos israelenses : vocês vivem num estado independente, têm uma vida livre e confortável. Os palestinos só querem poder ter o mesmo. Defender os direitos dos palestinos é defender o direito de vocês próprios à vida e à felicidade”.
Os judeus fanáticos que estão expulsando os moradores palestinos de Jerusalém-Leste e os colonos que constroem novas colônias na Cisjordânia sob proteção do governo israelense estão interessados no direito dos palestinos à vida e à felicidade?

Nobel da Paz

O prêmio Nobel da Paz atribuído a Barack Obama suscitou reações extremas. Os entusiasmados aplaudiram. Os críticos acharam prematuro premiar promessas e intenções. Os jornais listaram todos os americanos que já receberam o Nobel da paz, de 1906 até hoje.
Quando vejo que em outubro de 1973 o Nobel da Paz foi atribuído a Henry Kissinger, diplomata e secretário de Estado americano, tenho vontade de rir. Nobel da paz, o homem que manipulara habilmente, naquele mesmo ano, as peças do jogo político, juntamente com o presidente Nixon, para que Pinochet e seus asseclas destituíssem o presidente Allende com um banho de sangue no Chile, inaugurando a ditadura que todos conhecemos...
Obviamente, o Nobel da paz foi atribuído a Kissinger por outros motivos. Foram seus “esforços pela paz no Oriente Médio” que lhe valeram o prêmio. A paz no Oriente Médio entre palestinos e israelenses não chegou até hoje, mas isso é uma outra historia. A ironia é que o Nobel da paz de Kissinger veio penas um mês depois do golpe e da morte de Allende.
Mas, somente alguns anos depois, a participação da dupla Nixon-Kissinger no golpe chileno, através da CIA, foi revelada e provada.

Lady Di inspira livro de ex-presidente da França
colaboração para a Folha de S.Paulo, publicada em 3 de outubro de 2009
LENEIDE DUARTE-PLON
Ele descende da aristocracia, tem um castelo e foi presidente da República. Foi eleito para a Academia Francesa em 2003 e presidiu a comissão que elaborou o texto da Constituição Europeia. Esse pedigree deveria lhe bastar aos 83 anos. Mas não.
Valéry Giscard d'Estaing, um especialista da obra de Guy de Maupassant, quer se afirmar como romancista.
Ele lançou o romance "La Princesse et le Président" (a princesa e o presidente, pela editora XO-de Fallois), no qual uma princesa britânica, Patricia ou Lady Pat, se apaixona por um presidente francês, Jacques-Henri Lambertye, viúvo e pai de dois filhos.
A princesa e o presidente se conhecem no Palácio de Buckingham, no jantar de encerramento de uma cúpula do G-7. Os encontros furtivos se sucedem nos palácios da República francesa como Rambouillet e Soucy, que Giscard d'Estaing frequentou de 1974 a 1981 como presidente, ou no palácio de Kensington.
No livro, Lambertye (que rima com Valéry) é presidente no meio da década de 80, quando, na realidade, Mitterrand governou o país em dois mandatos (de 1981 a 1995).
No romance, Patricia, princesa de Cardiff, conta ao presidente Lambertye: "Dez dias antes do meu casamento, meu futuro marido veio me dizer que tinha uma amante de quem não tinha intenção de se separar depois de casado". A história do romance segue em detalhes a verdadeira história de Lady Di.
Quem revelou com exclusividade o conteúdo explosivo do livro foi o jornal "Le Figaro" de 21 de setembro, que publicou trechos da obra.
Jornalistas franceses e ingleses começaram a especular sobre o possível romance de Giscard e Lady Di. As fotos publicadas nos jornais e na capa de "Paris Match" desta semana são de 1994, numa festa de gala promovida por Anne-Aymone Giscard d'Estaing. Diana era uma jovem princesa infeliz de 33 anos; Giscard, um ex-presidente de 65 anos.
Giscard teria sido um dos inúmeros namorados da princesa Diana? O novo livro do presidente seria um "roman à clef" no qual a cronologia foi modificada para embaralhar as cartas e narrar uma história real? Pouco provável.
Assediado pela imprensa francesa, o autor garantiu que o livro é uma ficção, mas a princesa Patricia é um duplo de Diana, a quem teria feito a promessa de transformá-la em personagem de um romance. A epígrafe do livro é "Promessa cumprida".
A imprensa britânica reagiu no dia seguinte à publicação da matéria do "Figaro". Os ingleses ressaltaram que os presidentes franceses têm casos fora do casamento e que os franceses aceitam sem problemas essas aventuras amorosas.
"Um novo personagem junta-se ao elenco dos que garantem ter tido um papel na vida amorosa de Diana", escreveu o "Times". Para o jornal, Giscard quer mesmo é ofuscar o livro de memórias que Jacques Chirac, seu inimigo, lança neste ano.
Para o "Daily Mail", o romance do presidente não passa de "produto da imaginação de um francês". O "Guardian" se pergunta se o livro não é apenas resultado "da imaginação literária de um velho senhor". Nenhum jornal britânico encarou como real a história.
Uma coisa é certa, misturando cenários reais nos quais viveu por sete anos como presidente e construindo o personagem de uma princesa muito próxima de Diana, Giscard d'Estaing se vinga da realidade: o presidente Lambertye foi reeleito - ao contrário de D'Estaing, que perdeu em 1981 para Mitterrand.

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