terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tchin !


O millésime de Champagne 2011 é o melhor da história deste vinho depois do millésime 2007.
Aproveitemos e brindemos a 2012 !


Pênis em profusão e eretos

 
“Por que em Pompeia se erguiam esses falos ?” Esse é um título do jornal Le Monde de terça-feira, 10 de janeiro. Uma página inteira de fotos e de uma bela reportagem sobre a extraordinária exposição que o Musée Maillol de Paris dedica a Pompeia. Os falos da exposição, sempre eretos, não me chocaram mas me chamaram a atenção quando visitei a exposição com Samuel, de 13 anos. Chegamos a comentar com naturalidade o fato de estarem sempre em ereção, simbolizando a fertilidade.


Fiz fotos de um pênis diante na entrada de uma casa em Pompeia. Segundo o guia, o símbolo indicava um bordel. 




Mas segundo o Museu Maillol, uma professora teria escrito ao ministro da cultura Frédéric Mitterrand dizendo-se chocada. O diretor das pesquisas arqueológicas explica ao Le Monde : «Pompeia não é a cidade do pecado, a cidade pervertida, uma espécie de Sodoma, castigada pelos deuses. Numa sociedade que não conhecia nem a dúvida, nem o pecado, nem o pudor, nem a malícia típicas de nosso tempo, o sexo era vivido com grande naturalidade ». Daí o número de pênis eretos nas pequenas estatuetas e em grandes esculturas que podem ser vistas no Musée Maillol até 12 de fevereiro.


Das ruínas de Pompeia, descoberta no século XVIII, já foram escavados dois terços que representam 1500 casas ou palácios e templos, com mais de 20 mil metros quadrados de afrescos e 2 mil metros quadrados de mosaicos.
 

Mas com a crise e a falta de recursos para manter o sítio, muitas paredes de pedra com mais de dois mil anos correm o risco de ruir. Mais de 500 milhões de euros são necessários para manter o perímetro arqueológico e a receita com os ingressos de visitantes em Pompeia arrecada apenas 22 milhões por ano. Uma gota d’água.
 

Numa escultura que vi no Museu arqueológico de Nápoles falta o pênis de Alessandro Severo (225 d.C.), mas a perda parece compensada pela espécie de cetro que ele tem à mão. 


(Fotos de Leneide Duarte-Plon)
 

Uma bofetada em Le Pen

O criador do Front National, Jean-Marie Le Pen, simboliza o racismo e a xenofobia de uma parte da população francesa que detesta negros, árabes e estrangeiros em geral.
 

Por isso, a pesquisa que anualmente aponta a personalidade preferida dos franceses é uma bofetada no velho líder racista e ultra-nacionalista.  Publicada em 1° de janeiro 2012, ela informa que os franceses elegeram como personalidades preferidas três símbolos da França que Le Pen detesta : o primeiro colocado é um francês mestiço (o ex-tenista e atual cantor Yannick Noah), o segundo é um francês de origem argelina (o ex-jogador Zinedine Zidane)  e o terceiro é um francês negro, de origem africana (o ator Omar Sy, um show de interpretação em Intouchables). Noah e Zidane já estão há vários anos liderando a lista.
 

Iniciada em 1988, a pesquisa foi muito tempo dominada pelo comandante Cousteau (eleito 20 vezes a personalidade preferida dos franceses) e pelo abade Pierre (16 vezes), fundador de uma obra de caridade extraordinária chamada Emmaüs. A ex-ministra da Saúde Simone Veil, responsável pela lei que legalizou o aborto em 1975, é a quarta colocada. Nicolas Sarkozy é o 49°. 

Aliás, outro dia ouvi o pai de Sarkozy, Pal Sarkozy, dizer que se seu filho « tivesse 30 cm a mais ele não teria sido levado a se tornar presidente da República ». Ele queria dizer que a ânsia de poder e reconhecimento é uma compensação para o complexo que vem de sua baixa estatura. 

Napoléon era baixinho, convém não esquecer.
 

Bem-vindo à Palestina 2012



A colonização da Cisjordânia prossegue a passos largos. Israelenses fanáticos que teimam em ignorar as resoluções da ONU acharam um aliado de peso : a indiferença de Barack Obama e da Europa, que torna a criação do Estado Palestino uma miragem. O esfacelamento do território atribuído pela ONU em 1947 para a criação do Estado Palestino é uma realidade que interessa muito pouco atualmente à mídia, ofuscada pela primavera árabe.
Foto 329
 

Um apelo chamado Bem-vindo à Palestina 2012 (Bienvenue en Palestine 2012) foi lançado por personalidades como Desmond Tutu (bispo sul-africano e Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o apartheid), Noam Chomsky (Linguista e filósofo americano),  Jean Ziegler (vice-presidente do Advisory Committee do Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos), da rabina Lynn Gottlieb (Shomer Shalom Network for Jewish Nonviolence) e de Bruce Katz (PAJU: Palestininos e Judeus Unidos, Canada) entre muitos outros nomes de ativistas judeus e palestinos. Eis o texto:
 
« Nós, signatários do presente, aderimos ao apelo Bem-vindo à Palestina, que visa a permitir aos defensores dos direitos humanos e dos direitos nacionais do povo palestino viajar livremente à Palestina em abril de 2012. Hoje, não há outra forma de entrar na Palestina senão passando por postos de controle israelenses. Israel fez da Palestina uma prisão gigante, mas desde quando prisioneiros não podem nem mesmo receber visitas ? Bem-vindo à Palestina 2012 vai de novo contestar a política israelense de isolamento da Cisjordânia, no momento em que colonos paramilitares e o exército cometem crimes contra uma população civil palestina sem defesa. Fazemos um apelo aos governos para defender os direitos dos palestinos de receber visitas e o direito de todos os cidadãos desses governos de visitarem livremente a Palestina. Os participantes da missão Bem-vindo à Palestina 2012  pedem que seja possível transitar pelo aeroporto de Tel Aviv sem problemas afim de se dirigirem à Cisjordânia onde são esperados para participarem de um projeto dedicado ao direito à educação para todas as crianças palestinas ». 


Perigo : Facebook 


A  policia francesa acaba de prender um jovem, suspeito do assassinato da namorada. Ele esteve foragido por países que não têm acordo de extradição com a França e resolveu voltar ao território francês para esquiar.
 

Cometeu, porém, um grave erro. Anunciou em sua página do Facebook e quando chegou ao aeroporto a polícia o esperava e o conduziu detido para início de um processo que não aconteceu antes porque não havia provas do crime e o rapaz sempre se declarou inocente. O pai da vítima nunca se convenceu de que o ex-namorado não seria o verdadeiro assassino e continuou a investigação. Obteve novas provas e testemunhas e agora a Justiça francesa vai finalmente julgar o acusado do crime.
 

Tudo por causa de uma indiscrição. As pessoas que têm uma página Facebook se comprazem em contar o que vão fazer ou fizeram. Como se o cotidiano e os pequenos prazeres individuais pudessem interessar à humanidade. A web é um depósito de narcisismos incontroláveis. E, dessa forma, Facebook tornou-se o maior delator da história da humanidade ! Há todos os dias histórias de empregadores que usam as informações para julgar seus empregados potenciais. Os riscos de Facebook são enormes.
 

Para quem não conhece o risco de controle das informações que circulam nesse big brother aconselho o testemunho de um jovem advogado alemão. Assustador.

http://www.youtube.com/watch?v=ObbiBeXevkE
 





Tributo à honestidade de Madame Carriou
 
 

Minha bolsa foi roubada quando me sentei para tomar um chocolate numa das deliciosas varandas de café de Paris. Coloquei a bolsa na cadeira ao lado e comecei a tomar notas para um texto que ia escrever. Uma pessoa sentou-se ao lado e no mesmo momento se levantou e saiu correndo com minha bolsa. Era um jovem magro, com aparência de cigano (romeno). Corri pedindo socorro mas o ladrão escapou e sumiu numa rua movimentada.
 

Começava para mim um calvário que ainda não teve fim. Tinha acabado de voltar do Brasil e ainda estava com todos os documentos brasileiros na bolsa, além da carteira de identidade, título de eleitor e cartões de créditos franceses, i-phone e mil e uma coisas importantes como as chaves de casa. Além de 300 euros que acabara de pegar num caixa eletrônico. No mesmo momento do roubo, voltei em casa depois de ligar para meu marido para ele ir abrir a porta de casa. Peguei nova bolsa, o passaporte francês que escapou do roubo porque estava em casa, e me dirigi à delegacia mais próxima.
 

Não sem antes pegar em casa 250 euros em notas de 50 e enfiar num bolso no alto da blusa. Depois de ter em mãos o documento da delegacia para todas as providências administrativas, voltei para casa. Entro no elevador e vejo um recado escrito por uma vizinha dizendo que encontrara dinheiro no elevador (sem precisar a quantia) e que o dono poderia lhe telefonar para receber o dinheiro. Procuro meus 250 euros e nada ! Depois do roubo da bolsa, era a segunda perda importante no mesmo dia. Ligo para a vizinha e lhe digo que perdera 250 euros em notas de 50 e ela me responde, « pode vir pegar ». Foi exatamente o que ela achara, cinco notas de 50 euros.
 

Perturbada com o roubo dos documentos, ao sair para a delegacia,  pensei que colocava no bolso da blusa e o dinheiro caiu no elevador sem que eu percebesse.
 

Se todas as pessoas que encontram 250 euros num elevador tivessem a preocupação de escrever um bilhete avisando ao possível proprietário, o mundo seria muito melhor.    

Golgota Picnic

 
O título da peça já é uma provocação. Sem terem visto a peça, os católicos integristas a julgaram « cristianofóbica ». Na entrada do teatro, cartazes espalhados por todo o hall diziam : « On ne vous empêche pas de croire, vous ne nous empêcherez pas de penser » (Não impedimos vocês de crer, vocês não nos impedirão de pensar).
 

A iconoclasta e poética Golgota Picnic passou por Paris, no Théâtre du Rond Point, como parte da programação  do Festival de Outono. O espetáculo já tinha sido apresentado em Toulouse sob protestos dos tradicionalistas católicos que a julgaram herética sem tê-la visto, como habitualmente. Dois homens foram presos tentando sabotar o sistema de alarme do teatro. Um aparato policial em torno do teatro esteve presente todas as noites de apresentação, de 8 a 17 de dezembro.

A peça do espanhol-argentino Rodrigo García desperta novamente a polêmica em torno da figura de Jesus Cristo, depois de "Sobre o conceito de rosto do filho de Deus", do italiano Romeo Castellucci   (comentada anteriormente neste blog).
 

O Cardeal de Paris André Vingt-Trois convidou os católicos  a uma vigília de preces na  Notre-Dame de Paris para protestar contra a peça que para ele « é um insulto a Jesus Cristo na cruz ».
 

A peça  de Garcia, dura duas horas e meia mas não se limita a criticar a civilização ocidental-cristã. Os atores são verdadeiras metralhadoras giratórias atirando em todas as direções. Numa das cenas, os cinco atores cantam em português Cálice, a maravilhosa canção de Chico Buarque. Os quatro atores da peça e a única atriz são porta-vozes do talentoso diretor e autor Rodrigo García, que segundo li passa parte do ano na Bahia.
 

“Em verdade vos digo, quem não tem senso de humor não entendeu nada da vida”, diz um deles. A última hora do espetáculo é um recital do premiado pianista Marino Formenti, tocando totalmente nu a peça de Haydn “Sete últimas palavras de Cristo”.

O fim de uma era

 
Por Leneide Duarte-Plon em 27/12/2011 na edição nº 674 do Observatorio da Imprensa


Sempre foi e sempre será uma triste tarefa a de noticiar o fim de um jornal. Foi duro para os jornalistas brasileiros verem a lenta decadência do Jornal do Brasil, seu desaparecimento na versão impressa, assim como foi penoso este mês para os jornalistas franceses verem chegar ao fim o France-Soir depois de 67 anos presente no panorama midiático francês.


Libération deu capa e a matéria principal de quatro páginas com a história do legendário France-Soir, além de uma análise da situação atual da imprensa francesa e das perspectivas futuras. No editorial assinado, Nicolas Demorand, diretor de Libération, escreveu que “o jornalismo da imprensa escrita é um esporte de combate” parafraseando o documentário sobre Pierre Bourdieu, A sociologia é um esporte de combate, de Pierre Carles. Como o brasileiro, o jornal francês vai manter sua versão online. Na França, France-Soir é o primeiro jornal impresso a parar de circular mantendo a versão online.
 

France-Soir fora comprado pelo milionário russo Alexandre Pougatchev, de 23 anos, em 2009, por 65 milhões de euros. O pai do jovem é um oligarca próximo de Vladimir Putin e já comprara o gigante da alimentação de luxo francês Hédiard. Mas tendo acumulado um prejuízo em 2010 de 31 milhões de euros, Pougatchev resolveu parar de perder dinheiro com a crescente perda de publicidade e de leitores. A equipe de 130 jornalistas que fazia o jornal impresso foi reduzida a 32 profissionais e o jornal passou a ter apenas uma versão online.
 

O fim da imprensa como a conhecemos
 

Criado em 1944 por Robert Salmon e Philippe Viannay, France-Soir é o diário que se originou do jornal clandestino da resistência contra os nazistas, Défense de la France, também fundado pelos dois jornalistas. Na época áurea de Pierre Lazareff, que comprara o jornal de seus fundadores, o jornal chegou a vender 1 milhão de exemplares diários.
 

O sociólogo Jean-Marie Charon, especialista da mídia, estima que essa tendência de passar do impresso ao web vai continuar na França. Os jornais La Tribune e L’Humanité podem seguir o mesmo caminho de France-Soir e passar a circular unicamente online. Nos Estados Unidos, onde a tendência ao fechamento dos jornais impressos é crescente, a imprensa diária já suprimiu 10 mil empregos desde 2007. Segundo o jornal Le Parisien, outro diário que migra lentamente para a internet, dois terços dos franceses se informa hoje pela internet.
 

Jean-Marie Charon arrisca uma profecia de especialista. Segundo ele, os cotidianos vão cada vez mais migrar para a internet. Alguns jornais manterão uma versão impressa apenas alguns dias da semana; outros, apenas um dia por semana. Ligados dia e noite no smartphone, no rádio e na TV, os leitores não têm mais tempo de ler um jornal impresso todo dia. E as novas gerações não formaram o hábito da relação sensorial, indispensável para alguns, do leitor com o papel do jornal.
 

Sem dúvida, o desaparecimento de uma geração que ainda compra ou assina um ou mais jornais diários marcará o fim da imprensa como nós a conhecemos.
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